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Guedes furou o teto "com responsabilidade". Mercado financeiro: "Receeeeba"
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"Sim, violamos o teto de gastos, mas com responsabilidade fiscal", disse ontem o ministro da economia, Paulo Guedes, em mais uma acrobacia retórica, desta vez destinada a minimizar o vexame de admitir com todas as letras o que todo mundo já sabia.
Guedes, o liberal de carteirinha, totem do mercado financeiro nas eleições de 2018, engoliu mais sapos do que qualquer ministro do governo Bolsonaro ao longo dos últimos quatro anos — sendo a submissão do seu ministério aos interesses do bloco político denominado centrão o mais gordo e indigesto deles.
Não que o ministro não tenha os seus próprios fracassos para amargar. Guedes iria zerar o déficit público em um ano. Arrecadaria R$ 2 trilhões com privatizações e venda de imóveis da União. Tocaria uma ampla e implacável agenda de reformas estruturais, incluindo a tributária e a administrativa, que ninguém jamais teve a ousadia de enfrentar.
Um a um, seus planos grandiosos foram se esfarelando nas areias da realidade, varridos pelos imperativos do governo Bolsonaro, mais preocupado em manter o nariz acima da linha d'água.
Havia restado o teto de gastos, que até há pouco tempo, antigos colaboradores do ministro juravam ser a sua linha vermelha: "Esta ele não atravessa", afirmava um respeitado ex-secretário de Guedes, dos muitos que foram debandando do ministério à medida que viram a coisa ruir.
Guedes atravessou a linha vermelha — mas fez isso de fininho, fingindo que não tinha feito e mantendo o ar triunfante dos que, premiados pelo dom da retórica, conseguem "vender até pente para careca", como dizia do ministro o antes influente e hoje desaparecido general Augusto Heleno.
Paulo Guedes, nos idos de 2018, vendia até pente para careca, o que ajuda a explicar o fato de que, na reta final das eleições, a Bolsa subia e o dólar caía a cada vez que o candidato do Posto Ipiranga escalava nas pesquisas.
A lua-de-mel ainda durou uns dois anos.
"Você furar o teto para fazer política, para ganhar a eleição, para garantir isso daí, isso é irresponsável com as futuras gerações, isso é mergulhar o Brasil num passado triste de inflação alta", dizia o ministro em outubro de 2020, quando começaram as discussões sobre o que hoje se transformou em um pacote de R$ 42 bilhões de bondades destinado a alavancar a eleição de seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.
Paulo Guedes deve uma palavrinha de desculpas aos seus apoiadores do mercado financeiro, ainda que seja pelo fato de que, a partir do ano que vem, além de conviverem com os dissabores de trabalhar em um ambiente fiscal bem menos respirável, eles serão obrigados a fazer o que mais detesta um liberal: pagar mais impostos.
"Receeeeba!", diria o Luva de Pedreiro.
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