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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comandantes não querem "bater" continência a Lula, mas nome de Múcio agrada

Colunista do UOL

30/11/2022 11h45

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Embora neguem publicamente, o plano dos comandantes das Forças Armadas de transmitir o cargo aos seus sucessores antes mesmo da posse de Lula é, sim, uma artimanha dos militares para evitar se submeter ao presidente eleito.

O ato de passagem de comando é presidido pelo ministro da Defesa, mas o presidente da República, comandante em chefe das Forças Armadas, recebe na cerimônia honras de chefe de estado. "Os comandantes querem evitar o constrangimento de ter de prestar continência para Lula", afirma um oficial da cúpula das Forças.

A intenção dos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica, revelada pelo Estadão, de antecipar a transmissão de seus cargos fez com que o governo de transição acelerasse a escolha dos novos titulares das Forças e do ministro da Defesa.

O anúncio dos nomes está sendo aguardado para os próximos dias — e o de José Múcio Monteiro Filho, o mais cotado para comandar a pasta da Defesa, vem sendo bem recebido por generais do Exército.

Múcio — ex-deputado federal por cinco mandatos, ex-presidente do Tribunal de Contas da União e ex-ministro das Relações Institucionais no governo Lula— é visto por militares como alguém "não radical" e com trânsito tanto no Legislativo quanto no Judiciário.

A boa interlocução do titular da Defesa com o Congresso e os tribunais é tida como necessária pelos militares por motivos que vão desde o interesse das Forças em garantir seu espaço no Orçamento à expectativa de ter a compreensão das cortes no que eles consideram ser "especificidades" da categoria.

Múcio, porém, agrada os militares sobretudo por outro motivo, segundo um influente general da reserva com participação na política.

Seu perfil, de político ideologicamente comedido, faria com que o ex-ministro, mesmo na qualidade de representante do presidente da República e não dos militares, configurasse um "seguro" dos fardados contra os radicais do PT. "É alguém que não participaria de um projeto de retaliação do partido [contra os militares]",afirma o general.

O alto oficialato do Exército não esquece, por exemplo, que num documento aprovado em 2016 pelo diretório nacional do PT, o partido incluiu no texto um "mea culpa" por não ter aproveitado os treze anos no poder para "modificar o currículo das academias militares e promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista" — duas propostas vistas por militares como uma ameaça de ingerência ideológica em suas fileiras.