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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Choro de Bolsonaro na terra de Marlboro pode sugerir aceitação da derrota

Colunista do UOL

05/12/2022 15h56Atualizada em 05/12/2022 21h59

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As cenas de Jair Bolsonaro (Pl) tentando enxugar as lágrimas diante dos três comandantes das Forças Armadas e uma plateia de oficiais generais mostram que a consternação do presidente derrotado vai além de uma eventual tentativa de projetar um personagem.

Desde o dia em que a maioria dos brasileiros escolheu substitui-lo por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro trancafiou-se no Palácio da Alvorada, de onde, mergulhado em silêncio público, urdiu bem mais que uma tentativa de virar a mesa.

Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa a divulgação de uma nota que não excluía a "possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas"; instou os comandantes das Forças a enviar recado ao STF de que eram contrários ao cerceamento das manifestações bolsonaristas diante dos quartéis militares; e pressionou o seu partido a ingressar no TSE com um pedido de revisão dos resultados das urnas.

Nenhuma dessas iniciativas, para ficar só nas que vieram a público, teve qualquer consequência prática que não o desgaste das Forças e o bloqueio, por ordem da Justiça, das contas do PL (agora sem dinheiro até mesmo para pagar o salário de seus funcionários).

O presidente Jair Bolsonaro chora em cerimônia militar em Brasíia - Reproduçao TV Brasil - Reproduçao TV Brasil
O presidente Jair Bolsonaro chora em cerimônia militar em Brasíia
Imagem: Reproduçao TV Brasil

Os aliados que estimularam os esperneios presidenciais — entre eles, os generais Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministros igualmente reprovados nas urnas, como Onyx Lorenzoni e Gilson Machado, e auxiliares do gabinete presidencial — começam a demonstrar menos entusiasmo pela "resistência".

Outros já jogaram a toalha há mais tempo, como o ainda ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que, assim como o filho 02 do presidente, Eduardo Bolsonaro, preferiu esquecer as dores da derrota curtindo a vida no Qatar, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que passou a dedicar-se à própria reeleição no instante seguinte ao anúncio da derrota de Bolsonaro.

Contra este último, o ex-capitão ainda tentou uma pueril vingança na semana passada ao usar da pouca tinta que ainda lhe resta na caneta para suspender a liberação das emendas de relator com que Lira contava para azeitar seu projeto de permanecer no comando da Câmara — coisa que, ao fim e ao cabo, conseguirá com ou sem o apoio do quase ex-presidente, até porque agora tem o eleito ao seu lado.

Na teoria clássica do luto, a fase da tristeza (que se segue às da negação, da raiva e da barganha) é a que precede a etapa em que o enlutado finalmente aceita a perda. As lágrimas que Bolsonaro, cada vez mais isolado, verteu hoje em plena terra de Marlboro podem ser o prenúncio dessa aceitação.