Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Imagem de "presidente anti-establishment" é tudo o que o Lula quer
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Pesquisa Quaest divulgada ontem atesta que vem funcionando a jogada ensaiada entre o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em que o primeiro se posiciona como quem atende os pobres e ataca o mercado e o segundo faz o contrário.
Retumbantes 98% dos executivos do mercado financeiro entrevistados pelo instituto acham que o governo Lula está indo na direção errada, enquanto apenas 38% dizem ter uma avaliação negativa sobre Fernando Haddad.
O ministro da Fazenda é visto por agentes financeiros como alguém que está trabalhando para "enquadrar a turma do PT" e gerar estabilidade econômica. Fará ainda mais sucesso entre esse público se o pacote fiscal a ser anunciado na semana que vem vier ancorado em parâmetros que a Faria Lima considerar críveis (o que, obviamente, exclui premissas como um crescimento de 4% da economia nos próximos três anos e taxas de juros futuras abaixo de 10% ao ano).
Se o mercado confiar em Haddad e Haddad estiver forte no cargo, importará cada vez menos se Lula ataca o Banco Central, os lucros da Petrobras e a taxa de juros.
O presidente fica com a retórica; o ministro, com a ação.
Lula capricha no discurso para os seus porque, tendo ganhado a eleição com menos de 2% de vantagem sobre o seu oponente, corre o risco de se transformar em apetitosa presa de adversários se perder essa margem.
E se escolhe falar para petistas, progressistas e mais necessitados, ignorando o segmento que votou nele simplesmente por rejeitar Jair Bolsonaro, é porque sabe que esse último público, o dos antibolsonaristas, compõe a menor fatia do seu eleitorado— não menos que 5% do total de 39% dos brasileiros que apertaram o 13 no segundo turno das eleições, de acordo com o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Do ponto de vista da estratégia de governo, o posicionamento de Lula como o policial bonzinho e Haddad, o mau, pode ser uma solução.
Do ponto de vista político e eleitoral, no entanto, a jogada cria um (aparente) problema.
A longo prazo, quem ganhará capital político com ela, ao menos junto ao maior segmento do eleitorado, será Lula e não Haddad — e até onde se sabe, hoje, o candidato do PT em 2026 é Haddad e não Lula.
Claro que um presidente forte sempre tem mais chances de transferir eleitores para o candidato que escolher, mas se estiver muito forte de verdade, por que não ficar ele mesmo com os votos?
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