Topo

Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Duas novas acusações abalam Trump e atrasam o Grande Júri

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos - Alex Wong/Getty Images
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos Imagem: Alex Wong/Getty Images

Colunista do UOL

22/03/2023 14h25Atualizada em 22/03/2023 17h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Perante o Grande Júri do Tribunal Penal de Nova York, o julgamento de Donald Trump estava previsto para terminar hoje (22). Pelo andar da carruagem, poderá se prorrogar por mais um ou dois dias.

Atenção. O Grande Júri apenas julga se a imputação deve virar processo criminal. É uma garantia contra acusações abusivas, sem comprovação suficiente.

Com efeito, o Grande Júri não decidirá sobre o mérito da imputação apresentada pelo procurador distrital Alvin Bragg —ou seja, pela culpabilidade, responsabilização de Trump.

A decisão do Grande Júri é apenas um sinal verde. Sinal de abertura de passagem para prosseguimento da imputação, por meio do devido processo legal.

Fatos novos

Duas novas imputações foram acrescentadas por Bragg. Elas serão analisadas pelos jurados e poderão ou não ser aceitas. Idem com relação à primeira imputação a envolver a atriz pornô de nome artístico Stormy Daniels

As novas imputações são as seguintes:

  1. Tentativa criminosa de subverter o resultado das eleições presidenciais na Georgia.
  2. Recusa delinquencial em entregar documentos da presidência --ilegalmente apossados e levados para casa por Trump.

Pelas previsões e até ontem, o Grande Júri daria aprovação para a acusação —então única— de haver o imputado Trump usado dinheiro do Fundo Eleitoral para pagar a atriz pornô Stormy Daniels, com quem manteve relações sexuais. E a compra do silêncio dela para não prejudicar a sua carreira política.

A compra do silencia da atriz pornô foi intermediada por Michael Cohen, advogado de Trump à época. O referido advogado confessou e complicou Trump. Em 2018, Cohen foi definitivamente condenado e preso. Pelo seu lado, Trump nega a acusação e alega não haver autorizado o advogado Cohen a manter contato com Stormy, cujo nome no registro civil é Stephanie Gregory Clifford.

Para desviar dinheiro do Fundo Eleitoral, Trump teria usado faturas, notas fiscais, falsas. As notas somadas atingiriam US$ 130 mil (mais de R$ 680 mil). E essa prova documental, já devidamente periciada, está à disposição dos jurados que compões o Grande Júri.

Fantasmas e passarela da vergonha

Até ontem, juristas e operadores do direito não acreditavam na decretação da prisão cautelar de Trump.

O fato a envolver a atriz Storm Daniels era muito antigo e o acerto remunerado sobre o silêncio aconteceu em 2016. Mas ponderam: a decretação da preventiva poderia soar como antecipação de condenação, diante da confissão e delação do advogado Cohen.

Como destaquei na coluna de ontem, os sustentadores da necessidade da prisão cautelar apoiavam-se na manifestação de Trump de sábado último, a alertar correligionários sobre a iminência da sua prisão preventiva. Estaria ela, com a fala, a dar sinal para ser organizada uma resistência de modo a descumprir decisão da Justiça americana.

Diante das duas novas imputações, em especial a referente às eleições e apurações na Georgia, com pressão do então presidente Trump para alterar os resultados, a situação, quanto a cautelar, se altera para alguns operadores do direito. O fato foi gravíssimo pois colocou em jogo a democracia americana e pelo agir de Trump —que quis até se apropriar de documentos do Estado — a necessidade existe. Solto, Trump, seria uma ameaça ambulante.

Diante do risco, na noite de ontem, Trump "baixou a bola". E falou "estar pronto a enfrentar a passarela da vergonha".

De Soros a Murdoch

Todas as três imputações estão fundamentadas em provas robustas. E na fase do Grande Júri o princípio é de se decidir, no caso de dúvida, em favor da formalização da acusação. No caso, das três imputações.

Fora dos autos e do Tribunal que abriga o Grande Júri, a briga político partidária corre solta. O jovem governador da Flórida e republicano Ron DeSantis não poupa Trump. E não lhe faltam palanques.

Para se ter ideia, os trumpistas-raiz afirmam estar o procurador distrital Alvim Bragg fazendo o jogo do empresário e investidor George Soros, que teria o corrompido.

Do outro lado, os democratas reclamam da parcialidade da trumpista rede Fox, de Rupert Murdoch, de 92 anos de idade e noivado recente com a jornalista Ann Shith, de 66 anos. Enfim, até a vida privada é exposta para revelar o clima político.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ron DeSantis é governador da Flórida. O texto foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL