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Xi Jinping telefona a Zelensky e derruba pretensão de Lula
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O direito internacional público, chamado de direito das gentes e que tem por meta o consentimento entre Estados nacionais e a paz entre eles, voltou a funcionar.
Na verdade, saiu do limbo do desprestígio depois do telefonema, de pouco mais de cinco minutos, entre os presidentes chinês e o ucraniano.
Tudo caminhava muito mal depois da entrevista de Lu Shaye, embaixador chinês em Paris. Segundo Shaye, os Estados integrantes da ex-União Soviética ainda não obtiveram, à luz do direito internacional, reconhecidas as suas soberanias.
O não ter status efetivo consoante os princípios que regem o direito internacional, segundo Shaye, deixava todos os Estados da ex-União Soviética, sem fronteiras. Por exemplo, Estônia, Letônia, Lituânia, Moldávia, Ucrânia, etc.
O governo chinês tentou, diante da chiadeira europeia e do espanto do comando na Otan, dizer que Shaye não havia falado em nome da China.
Xi Jinping — que joga internacionalmente xadrez, enquanto os demais chefes de Estado continuam a jogar damas, e Lula, palitinhos —, apressou-se em consertar o cenário. Ligou para Zelensky.
Os dois presidentes não se comunicavam desde 4 de janeiro de 2022. Nessa data, Xi Jinping havia ligado para cumprimentar o presidente da Ucrânia pelos anos de excelentes relações diplomáticas, comercias e culturais. Afirmar ausência de status pelo direito internacional soou uma piada de Lu Shaye, que se expressa perfeitamente em francês.
A conversa entre os líderes da China e da Ucrânia foi animadora. Xi Jinpig chamou a si o papel de mediador. Avisou, com imagens transmitidas pela televisão chinesa: "A posição da China é a de promover colóquios para a paz. Diálogos e negociações são a única via de saída".
Zelensky, em entrevista, mostrou-se contente: "Tive uma longa e significativa conversa ao telefone com o presidente chinês. Espero o desenvolvimento importante nas relações bilaterais entre Pequin e Kiev".
Xi Jinping condenou o uso de armas nucleares. O ponto alto consistiu em dizer que a China deseja a preservação da paz e respeitava as fronteiras reconhecidas e a soberania de cada país.
Enquanto Xi Jinping marcava posição, Lula tentava fazer colar um discurso morno, perante o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que condenou com veemência a invasão russa em visita à China e no encontro de segurança internacional de Munique em fevereiro. E chegou até a pedir palmas, a lembrar os ensinamentos sobre os reflexos condicionados do cientista russo Ivan Pavilov.
Lula fez também lembrar Nelson Rodrigues e o seu "óbvio ululante". Isso ao ressaltar não caber a ele dizer a quem pertence a Criméia.
No direito internacional público os dissensos do tipo referido por Lula são decididos por provocação à Corte Internacional de Justiça, conhecida por Tribunal de Haia.
Na Europa, os últimos pronunciamentos de Lula sobre a invasão da Ucrânia colocaram-no como o menos indicado para fazer propostas de paz.
Lula e a "neutralidade pró-Rússia"
Para especialistas europeus em direito internacional, Lula adotou a posição chinesa que chamaram, ironicamente, de "neutralidade pró-Rússia".
As tentativas de Lula de conseguir o Nobel da Paz, o seu sonho imediato, já viraram pesadelo pelos seus discursos inconsequentes. Ninguém dará um Nobel da Paz a apoiador de invasão a Estado soberano, com esquecimento à Carta constitutiva das Nações Unidas.
Lula, antes de declarar posição, deveria ter consultado os princípios que regem o direito internacional e, em especial, a Carta Constitucional das Nações Unidas. A referida Carta proíbe ataques a Estados soberanos e ao seus territórios. Mais ainda: veda a solução de dissensos pela força armada.
Para consertar os estragos, Lula está a ordenar uma visita do seu assessor internacional para Kiev. A pergunta que corre pelos corredores do Itamaraty: o que será que Celso Amorim vai contar ao diplomata ucraniano, seu equivalente?
Lula não é Bolsonaro que, nas relações internacionais, só entendia de receber joias de presente. E era mestre em colocar em risco negócios celebrados no exterior pelo agronegócio. Bolsonaro, nas relações internacionais, era seguidor de Trump. Como dizem os jovens, era o "sem noção".
Com o telefonema de Xi Jinping a Zelensky, o presidente Lula, que tarda a perceber ter se queimado no mundo da geopolítica, podia sair de fininho do tema da invasão da Ucrânia e pensar nos problemas brasileiros.
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