O hacker Delgatti é o Tommaso Buscetta brasileiro
Em históricos relatos feitos ao juiz Giovanni Falcone, o potente mafioso Tommaso Buscetta contou como se organizava e agia a Cosa Nostra — até como procedia nas eleições.
Logo percebeu o magistrado Falcone estar diante de peças de um quebra-cabeça. E contava com elementos para demonstrar um teorema criminal de ataque ao Estado italiano.
Cada fato contado por Buscetta era uma peça. Não se podia desprezar nenhuma das peças do puzzle e todas precisavam ser comprovadas para produzir o efeito perseguido, ou seja, a verdade real. Mas, atenção, sem perder de vista o contexto nacional, pois tudo estava correlacionado.
Delgatti, na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro, apresentou fatos criminosos gravíssimos, apontou seus autores, coautores, partícipes e cumplices. Crimes contra o Estado de direito e a democracia. Ações adrede preparadas para Bolsonaro permanecer no poder e se tornar um autocrata. Em resumo, o Brasil e o seu povo novamente vitimados por regime de exceção.
O apelidado hacker de Araraquara soltou notícias de crimes. Escancarou o golpismo bolsonarista.
O seu depoimento de hoje na CPMI precisa ser cotejado com o prestado na véspera à Polícia Federal. E a Polícia Federal passa, diante da gravidade, a ter o poder e o dever de buscar comprovações. Correr atrás da verdade real e jamais se contentar a verdade meramente formal, presumida.
Por evidente, a CPMI deverá também investigar a veracidade das afirmações de Delgatti. Poderá, até, convocar policiais experientes para auxiliar nas investigações. A lembrar a importância da CPMI pois integrada por representantes eleitos pelos cidadãos.
Atenção. Diante das reiteradas tentativas golpistas de Jair Bolsonaro, os relatos de Delgatti não podem ser considerados isoladamente. São parte de um todo golpista, Aí, os seus relatos passam a ser críveis, ou melhor, não podem ser descartados.
O supracitado magistrado Falcone, com o seu pool antimáfia, saiu em busca das provas, Com elas, construiu o chamado Teorema Buscetta, cuja validade foi atestada pela suprema Corte de Cassação da Itália, o equivalente ao nosso STF (Supremo Tribunal Federal).
Não compete a Delgatti comprovar a veracidade das suas declarações, frise-se. Cabe às autoridades buscarem, com base no informado, as provas da materialidade (existência de crime) e da autoria dos graves delitos noticiados.
Qualquer tentativa bolsonarista de intimidação, destruição de provas e fuga, levarão à decretação da tecnicamente chamada prisão preventiva, para garantia da ordem pública e conveniência da instrução probatória.
Depois de colher as primeiras revelações de Buscetta, foi ele de pronto colocado em regime de vigilância especial, dado o risco de ser assassinado. Delgatti, no momento preso em cela comum, precisa ser, de imediato e no interesse público, ser colocado sob urgente proteção.
A lembrar: segundo Delgatti, o então presidente o contratou para integrar uma associação criminosa voltada a praticar ilícitos de lesa-pátria. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi quem cooptou Delgatti. Ainda consoante revelado, Delgatti emprestou os seus conhecimentos criminosos ao Ministério da Defesa, que, por determinação do próprio ministro e ordem direta de Bolsonaro, os colocaram em prática para desacreditar o sistema eleitoral e a Justiça.
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