Wálter Maierovitch

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Opinião

Tomada de Gaza é iminente, e Biden envia diretor da CIA a Israel

O presidente americano Joe Biden está com a bússola política desgovernada. Não consegue localizar o norte na política interna e externa.

Internamente, Biden teve de amargar a última pesquisa eleitoral. Nos estados pesquisados, apenas em Wisconsin o presidente esteve à frente de Donald Trump. Perdeu nos estados de maior peso dentro do complicado sistema eleitoral americano. A implicância com a sua idade, pela pesquisa, atrapalha na escolha. E não adianta o seu rival só ter quatro anos a menos.

Internacionalmente, Biden mandou na quinta-feira (2) o seu secretário de Estado, Antony Blinken, para o Oriente Médio a fim de fechar a costura de um acordo para a gestão de Gaza, após o "day after".

Ao ser alertado pela CIA (Central Intelligence Agency) que a tomada de Gaza não seria tão fácil quanto a por ele imaginada, pois haveria resistência forte e muitos civis mortos, Biden percebeu ter dado o "passo maior do que a perna".

Mandou, então, o diretor da CIA e ex-diplomata de sucesso em negociações Willians Barns para Israel.

Ataque iminente e resistência

Israel cercou a faixa de Gaza isolando o norte do sul. Pelo que circula, nesta semana ocorrerá a invasão e tomada por terra da cidade de Gaza.

Pelos informes vazados dos serviços ocidentais de inteligência, volto a destacar, o Hamas irá resistir.

Mousa Abu Marzouk, um dos mais influentes membros do Conselho Político do Hamas, aponta para a resistência e o descompromisso com a população civil de Gaza:

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"Os túneis (referia-se a Gaza) não são para proteger os civis. Sobre os civis devem pensar e se ocupar Israel e a ONU. Os túneis servem aos militares para combater o inimigo."

Nos túneis, como se sabe, estão armazenados víveres e munições suficientes para um longo período de resistência.

Quanto mais civis inocentes forem mortos, na visão do Hamas, mais a imagem de Israel ficará afetada no mundo e aumentará o antissemitismo.

Blinken, como adiantado na coluna de 3 de novembro passado, realizou um périplo de final de semana para expor propostas de gestão para o "dia seguinte" à queda de Gaza.

Seria uma gestão provisória até a efetivação da Convenção das Nações Unidas de 47, com a criação do chamado "Dois Estados para Dois povos". Tudo sem esquecer, consoante o Direito Internacional, do Acordo de Oslo de 1993.

O Direito Internacional é regido pelo princípio do "pacta sunt servanda", ou seja, os pactos, os acordos e as convenções devem ser cumpridos.

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A realidade revela o contrário. Nos conflitos e guerras, nunca o Direito Internacional foi respeitado por ninguém. Tudo fica sujeito à imprevisão (cláusula conhecida por "rebus sic stantibus"), e esta imprevisão tem o nome de Hamas. Um Hamas inexistente em 1947. E o Hamas, nascido em 1987, governa a faixa de Gaza.

Na mesma direção do manifestado por Marzouk, o líder máximo do Hamas, Ismail Hanyer, residente no Qatar, apontou para a resistência e conseguiu ser mais cruel: "Precisamos de sangue de mulheres, de crianças e de velhos para despertar dentro de nós o espírito revolucionário e ir adiante".

Como se percebe, o conflito ainda poderá ser longo, com tropas de Israel a combater dentro de Gaza e homens do Hamas a sair de túneis, a surpreender.

Presente de grego dos EUA

O secretário de Estado dos EUA consultou a Jordânia e o Egito sobre a gestão de Gaza, pois Biden optava por uma força árabe. O presidente do Egito, Abdel Fatah al Sisi, e o rei da Jordânia, Abdallah 2º, não acharam conveniente assumir a referida gestão.

A partir dessas duas negativas, e com a certeza de que Israel não repetirá erro anterior de invadir e ficar em Gaza, entrou em cena o desprestigiado Mahmoud Abbas (Abu Mazen), presidente da Autoridade Palestina.

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Para Abbas e o secretário Blinken, a Palestina é uma só. E não conviria nascer um Estado dividido.

A Fatah, então braço armado da Organização de Libertação da Palestina (OLP), sempre foi desprezada pelo Hamas. Desde a expulsão de Gaza, Abbas não mais lá pisou e até a sua casa de veraneio à beira-mar nunca mais foi visitada.

Para o Hamas, Abbas não está legitimado a representar os palestinos e é apontado como corrupto, como se fosse alguém comprado por Israel.

Não se trata de saber de Abbas aceitaria o "presente de grego" sugerido pelos EUA, mas quanto tempo teria de vida na hipótese de aceitação.

Pelo Hamas, cuja cúpula está segura fora de Gaza e irá sobreviver à expulsão de Gaza, Abbas seria considerado um traidor se assumisse a gestão e a sua cabeça seria colocada a prêmio.

Enfim, Abbas, além de péssima escolha, recebeu um presente de grego.

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Sem acordo

O premiê Netanyahu não aceita um cessar-fogo sem a libertação dos reféns.

O supracitado diretor da CIA tem um recado de Biden e deve se reunir com o premiê e os dirigentes do Mossad e Shin Bet, os dois serviços secretos de espionagem israelense. Sua tarefa será convencer para uma pausa humanitária, em áreas delimitadas.

Sabe-se que Willian Burns, o atual diretor da CIA, foi um eficiente diplomata. Ele conseguiu convencer Netanyahu, antes mesmo de chegar a Israel. Isso permitiu, no espaço aéreo de Gaza, um avião jordaniano despejar medicamentos com uso de pára-quedas.

O problema de fechar um acordo por parte de Netanyahu tem como complicador a sua ambição política e o Hamas.

Depois do terrorismo do 7 de outubro, seria o acordo portado pelo diretor da CIA visto como mais uma derrota de Netanyahu, pois os reféns não seriam libertados. E o premiê, a contrariar a opinião pública, quer permanecer no cargo, depois do fim das hostilidades.

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A lembrar que a primeira proposta que o Hamas fez circular falou em cessar-fogo, permanência do seu governo em Gaza e soltura de 10 mil prisioneiros. Aí, os reféns seriam soltos.

Com 10 mil prisioneiros soltos, o Hamas, que conta atualmente com 40 mil combatentes, comemoraria como grande vencedor pelas ruas de Gaza.

A lembrar a recentíssima fala de Ghazi Hamad, também membro do Conselho Político do Hamas.

"O 7 de outubro foi uma vitória. Destruímos o mito de Israel como invencível superpotência militar. Já existem países prontos a rescindir pactos de segurança com Israel (referência aos chamados Acordos Abraâmicos) porque terão de enfrentar o Irã e outras ameaças (refere-se ao terrorismo). Israel é vencível e a operação Al-Aqsa (nome dado à operação de 7 de outubro) está mudando o Oriente Médio."

Desumanidades

O refém mais novo tem dez meses de vida e o mais velho mais de 80 anos. Não são libertados por pura insensibilidade.

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No momento, os parentes e as mães dos reféns estão a protestar e dizer à imprensa: "Não ouvimos a voz dos filhos e parentes há 30 dias".

Os civis palestinos mortos nos bombardeios aéreos de Israel chegam a 10 mil e, segundo o Hamas, o número de crianças palestinas mortas chega a 3 mil.

Um rabino-soldado, como noticiou a imprensa, pregou, em orações, o ódio aos demais colegas de farda.

O ex-ministro israelense Amichai Eliyahu, do partido direitista Otzma Yehudit, mencionou o emprego de bomba atômica. E arrematou como genocida convicto: não existe em Gaza civis sem envolvimento com o Hamas.

O Hamas, em ação terrorista, eliminou civis, crianças e velhos. Fazia parte do plano eliminar judeus para chamar a atenção. Matar inocentes para protestar revela o grau de incivilidade e desrespeito aos seres humanos.

Vale lembrar ainda, e como tradicionalmente acontece, os reféns, na tomada da cidade de Gaza, serão colocados como escudos humanos.

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Volto ao líder do Hamas, numa referência aos judeus: "Precisamos de sangue de mulheres, de crianças e de velhos".

Para o Hamas, e as praças das principais cidades do planeta ecoam nas manifestações pró-palestinos, a meta a ser conquistada será "from the river to the sea". E num território do rio Jordão ao mar Mediterrâneo não há lugar para Israel.

Em outras palavras, cancelar Israel do mapa é o objetivo do Hamas e, para isso, vale-tudo, como se viu no 7 de outubro.

Pano rápido: Salvar vidas e construir a paz estão cada vez mais em segundo plano no conflito Hamas x Israel.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado, o Hamas surgiu em 1987, e não em 2007. O texto foi corrigido.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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