Wálter Maierovitch

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Opinião

Chefe militar do Hamas foi localizado em túnel e Netanyahu 'valentão' recua

No discurso oficial sobre os primeiros 30 dias de conflito, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, informou sobre um alto dirigente do Hamas estar cercado por agentes de Israel, no seu bunker em Gaza.

Para os 007 da inteligência europeia, o "figurão" do Hamas encapsulado seria Yahya Sinwar, ou seja, o comandante militar do Hamas em atuação na Faixa de Gaza.

Chefe do Hamas em túnel

Hoje, os jornais europeus apontam para combatentes do Hamas capturados que informaram às forças de Israel o paradeiro de Yahya Sinwar: ele estaria em túnel subterrâneo, debaixo do hospital al-Shifa, o principal de Gaza, informação que coincide com a do primeiro-ministro israelense.

Mais ainda, o Hamas, na propaganda fake de guerra, sustentou por diversas vezes ter havido bombardeio do hospital de Gaza, o que seria violação à Convenção de Genebra à disciplina — medidas prévias antes de ataques a hospitais e enfermarias fixas e móveis (ambulâncias). Em colunas anteriores, tratamos especificamente da Convenção de Genebra.

Pelo notado agora, a meta da propaganda enganosa do Hamas seria inibir as forças israelenses para evitar o bombardeamento do hospital al-Shifa.

A propósito, o pátio externo do hospital e o seu entorno — conforme foto de Bashar Taleb, da France Presse, exibida em periódicos franceses — estão lotados de barracas com refugiados e pessoas que necessitam de atendimento.

A respeitada organização humanitária Médicos sem Fronteiras, em seu boletim brasileiro de ontem, falou da urgência no atendimento em Gaza, com médicos atuantes no al-Shifa. Até foi aberto um canal para donativos, dada a urgência.

Atenção: a captura do comandante militar do Hamas poderá ser um troféu importante a ser exibido por Netanyahu. Mas isso não quer dizer que o Hamas estaria morto e liquidado, como prometeu o israelense.

A promessa é mentirosa, pois a cúpula de governo do Hamas não está em Gaza. E está ativa em acertar acordos sobre liberação de reféns, algo em andamento no Qatar.

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Importante registrar, a respeito do mencionado fim do Hamas, a entrevista dada pelo conhecido historiador e escritor Benny Morris ao Huffpost de hoje: "Pode-se, sim, aniquilar o Hamas, mas não as ideias que estão na cabeça das pessoas".

Morris, um dos maiores conhecedores da história do Oriente Médio e das suas guerras, é uma das vozes críticas à política de Netanyahu.

Está claro, pela frase do especialista, que a eliminação do Hamas não colocará pá de cal numa ideia fixa de apagar Israel do mapa. E todos sabem, em Israel e no mundo, o erro das políticas de Netanyahu, um direitista expansionista que, no jargão brasileiro, seria chamado de grileiro de terras alheias — no caso Cisjordânia, Gaza e Jerusalém leste, pertencentes à Palestina.

Netanyahu recuou

O Netanyahu valentão de ontem não existe mais. Durante a semana, desafiou o presidente americano Joe Biden. Avisou que não haveria cessar-fogo e nem pausa humanitária sem a libertação dos reféns. E a ocupação de Gaza por Israel, terminado o conflito, seria por tempo indeterminado.

A pausa humanitária acaba de ser acertada, e Netanyahu disse que ela acontecerá por quatro horas diárias, em áreas variáveis, onde não ocorrerão bombardeios.

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Assim, corredores humanitários serão abertos. Os locais serão informados por autoridades israelenses três horas antes da pausa.

Netanyahu, sem alarde, também suspendeu o uso de bombas pesadas, de até 90 kg. Os EUA exigiram bombas leves, disparos calculados e precisos, com um número baixíssimo de vítimas civis.

O primeiro-ministro de Israel adota duas posturas: mostra-se valentão e intransigente para os da sua coalização de sustentação, a direita extremada; e muda de planos quando os EUA ameaçam rompimento, como já ocorreu.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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