Wálter Maierovitch

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Opinião

Gaza: Diplomacia corre contra tempo para fechar cessar-fogo antes do Ramadã

Os diplomatas encarregados em buscar um acordo entre Israel e Hamas tremeram nas bases com a divulgação das catastróficas previsões do estudo da Johns Hopkins University. Agora, eles lutam contra o tempo e pretendem aproveitar o clima espiritual do Ramadã, com início previsto para o dia 10 de março.

Por outro lado, o sanguinário premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, sofre intensa e justa pressão internacional pelo fim da guerra. Ontem (3), ao clamor internacional dos indignados com as matanças de civis inocentes em Gaza juntou-se Kamala Harris, vice-presidente dos EUA: "cessar-fogo, imediatamente", disse ela.

Mortes anunciadas

O estudo da Johns Hopkins University prevê - caso não ocorra o cessar-fogo - um aumento brutal nas mortes em Gaza. Das atuais 30 mil para 85 mil mortes. O estudo adverte ainda que mortes por doenças, como a cólera e a diarreia, vão continuar ocorrendo decorrentes da situação sanitária provocada pela guerra.

Outro dado impactante foi apresentado pela WHO (World Health Organization). Em Gaza, 65% das vítimas fatais são mulheres e crianças. Para se ter um comparativo, nas guerras, 75% dos mortos são militares homens.

A guerra, iniciada pela ação terrorista do Hamas em 7 de outubro, tem as suas peculiaridades. O Hamas usa civis como escudos, emprega técnica de guerrilha urbana, com os seus homens a sair de uma complexa e sólida rede de subterrâneos, que os 007 da espionagem israelenses nunca perceberam.

Apesar da peculiaridades, especialistas em guerras e conflitos consideram incomum o porcentual (65% de mulheres e crianças) e apontam para os bombardeios intensos em zonas de alta densidade demográfica.

O acordo e as resistências

O acordo tem data estabelecida para começar: o início do Ramadã, o mês sagrado dos islâmicos. Pelo previsto, teríamos um cessar-fogo de 6 semanas.

Para a cúpula de Hamas, o cessar-fogo deveria ser definitivo, com retirada das tropas de Israel de Gaza. Netanyahu não aceita e avisa que após a sexta semana prosseguirão os combates.

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Nos campos da geopolítica e da geoestratégia, o Hamas, com um cessar-fogo definitivo, voltaria a governar a Faixa de Gaza. Algo não aceito nem pela Autoridade Nacional Palestina e nem pelos países árabes empenhados na costura do acordo: Egito, Jordânia e Qatar. Ninguém quer terrorismo por perto e isso implicaria na influência do Irã, que apoia o terror.

Israel exige a apresentação de uma lista com o nome dos reféns vivos e mortos. Mas o porta-voz do Hamas, Basem Nain, declarou que não será oferecida nenhuma lista. Basem, 60 anos, médico-cirurgião, vive fora da faixa de Gaza e faz parte da elite do Hamas que habita no Qatar.

Dos 40 reféns oferecidos em troca pelo Hamas, estariam 7 mulheres e os pequenos irmãos Bibas, considerados mortos pelo departamento de inteligência do exército de Israel.

O Hamas ofereceu 40 reféns, mas exige trocar um refém por dez prisioneiros palestinos.

Israel revelou interesse em receber cinco soldados seus aprisionados em Gaza. Em troca, aceitaria libertar condenados palestinos a penas elevadas e considerados terroristas.

Como se percebe, o Hamas, para cantar vitória, quer o cessar-fogo definitivo, com o governo de Gaza e sem a presença territorial do exército de Israel.

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Netanyahu, por sua vez, insiste em guerrear até liquidar com o Hamas, algo impossível, até porque a sua cúpula diretiva está bem protegida e fora de Gaza.

Além disso, Netanyahu sabe que terminada a guerra será defenestrado como primeiro-ministro.

Volta à terra palestina

Pelos levantamentos, cerca de 7 milhões de palestinos vivem fora da Palestina, composta, pela divisão da ONU, por Cisjordânia, Gaza e Jerusalém leste.

A efetivação de um estado palestino ensejaria para muitos a oportunidade de viver numa nação palestina.

Quando a ONU realizou a divisão, apenas o estado de Israel foi implantado. O estado palestino não surgiu e, em 1949, com a implantação de Israel houve a "nakba", ou seja, a expulsão violenta dos palestinos do território onde nasceria Israel. Os palestinos refugiaram-se na Jordânia, Líbano, Síria, faixa geográfica de Gaza e Cisjordânia.

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Netanyahu resiste à implantação do estado da Palestina. Os seus apoiadores da extrema-direita religiosa entendem, pela leitura bíblica, que Gaza, Cisjordânia e Jerusalém leste, pertencem a Israel, seus primeiros ocupantes.

Sem o apoio da ultra direita, dos religiosos radicais que recebem salários do Estado para estudar a Torá e os demais livros, Netanyahu terá de deixar, por falta de maioria, o cargo de premiê.

A propósito. Netanyahu só irá livrar-se do Tribunal Penal Internacional porque Israel não subscreveu o Tratado de Roma de 1998 e, com isso, não aceitou a jurisdição dessa corte que julga crimes de guerra e contra os direitos humanos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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