Wálter Maierovitch

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Opinião

Só temor a Trump e Putin pode evitar guinada à direita na eleição europeia

A data da eleição para o Parlamento europeu não é a mesma em cada um dos 27 Estados-membros. Vai variar entre os dias 6 e 9 deste mês, e quase 400 milhões de membros da Comunidade Europeia estão habilitados a votar.

Pelas pesquisas, a direita deverá ter o maior número de parlamentares. E a direita extremada, vista como antieuropeísta, apresenta o discurso que está empolgando: imigração, desemprego e economia frágil.

Na extrema direita, empolgam líderes como o húngaro Viktor Órban, a francesa Marine Le Pen e o italiano Matteo Salvini. Eles são rotulados como contrários à soberania da União Europeia em detrimento dos Estados nacionais. No momento, a União Europeia é composta por 27 Estados e conta com 24 línguas oficiais.

Maastricht e os pilares

Na verdade, esses líderes da ultradireita se opõem às três pilastras introduzidas pelo Tratado sobre a União Europeia (TUE), apelidado de Tratado de Maastricht, em razão do nome da cidade holandesa onde ele foi assinado, em 7 de fevereiro de 1992.

A extrema direita não se conforma com a soberania da União Europeia que impõe, pelo seu braço executivo (Comissão Europeia), normas integrativas imperativas. E nem com as decisões progressistas e civilizadas da Corte Europeia de Direitos Humanos.

No discurso populista da extrema direita europeia, fala-se, para chocar e causar indignação, que a União Europeia se intromete até na medida dos peixes que podem ser pescados no mar Mediterrâneo. O lado predatório fica evidente, mas o populista empolga, e basta a produção de alguns vídeos com protesto de pescadores.

O segundo e terceiro pilares cuidam da política externa e da segurança comum. Além de ratificar, no setor Judiciário, a vinculação às decisões da cortes europeias.

Oportunismo

Com a Itália celebrando, no domingo passado, mais um aniversário republicano, a ultradireita —por meio do deputado Claudio Borghi e do vice-premiê Matteo Salvini— atacou o discurso do presidente italiano Sergio Mattarella, um europeísta convicto, que prestigia a União Europeia. Ambos os críticos são contra a denominada "soberania europeia".

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Mattarella, que deverá visitar o Brasil em julho, é um defensor dessa "soberania europeia", conforme estabelecido no Tratado de Maastricht.

Salvini, apoiador de Jair Bolsonaro na Europa, e Borghi são do partido direitista Liga Norte (Lega Nord), que nasceu separatista. O partido deseja separar da Itália uma região fértil, que equivale ao norte e parte do centro do país, à qual deram o nome de Padânia.

A Liga Norte apoia a atual primeira ministra, Giorgia Melone, do partido Irmãos da Itália (Fratelli d´Italia).

Borghi pediu a imediata renúncia de Mattarella. Salvini não chegou a tanto, mas aproveitou o momento político-eleitoral para impulsionar os candidatos da direita, não autonomistas.

Tudo foi estudado para aproveitar a data italiana histórica —a festa da República é marcante lá.

A Itália tornou-se republicana em face do plebiscito de 2 de junho de 1946, que colocou fim à monarquia e ao reinado da Casa de Savoia, cujo monarca indicou Benito Mussolini para primeiro-ministro e o apoiou durante o fascismo.

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O ponto fraco da extrema direita europeia decorre do seu vínculo com o ex-presidente norte-americano Donald Trump e da sua admiração ao presidente russo Vladimir Putin.

Salvini, por exemplo, desfilava pela Itália vestindo uma camiseta com a imagem de Putin, e contava tê-la ganhado do próprio russo. Só a tirou, a contragosto, quando da invasão russa na Ucrânia, e apenas para não se expor a polêmicas, pois continua admirador da autocracia putiniana.

Guerra

A guerra promovida pela Rússia, o imperialismo e a autocracia preocupam, no momento, os 370 milhões de europeus legitimados a votar. A preocupação aumentou com as imagens dos destruidores bombardeios russos a Kharkiv, cidade universitária e segunda mais importante da Ucrânia. Kharkiv já foi inclusive capital da Ucrânia.

Trump e liberdade a Putin

Todo europeu recorda-se do discurso de Trump, candidato à presidência dos EUA, deixando claro que, caso eleito, a Rússia estará livre e ele não dará apoio à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a aliança militar de países do Ocidente. Com efeito, já se fala em aumento da segurança regional na União Europeia, depois do encontros dos presidentes da Alemanha e da França.

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A propósito, aconteceu em Praga, em 30 e 31 de maio, a reunião de ministros de relações exteriores dos países integrantes da Otan. Houve total apoio à liberação de armas para a Ucrânia, como legítima defesa, para atingir alvos fora do seu território.

Trata-se de uso defensivo, a fim de alcançar os pontos de artilharia russa. Lembrando que os russos, com mísseis e drones, arremessam petardos que atingem Kharkiv, a 40 km da fronteira com a Rússia.

Votos

A ultradireita europeia silencia quanto aos ataques russos. Usam de diversionismo para não perder votos.

Por outro lado, o atacado presidente Mattarella respondeu a Salvini e Borghi.

O presidente italiano disse que a Constituição italiana autoriza o país,, no seu artigo 11, a abrir mão de parte (Mattarella usou a expressão "uma gota") da sua soberania para a integração europeia.

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Pano rápido

Apenas Trump e Putin poderão barrar, pelo temor que provocam, a vitória da direita nas eleições ao Parlamento europeu.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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