Atentado contra Trump é mais um capítulo de violência na política americana
Dos 46 últimos presidentes norte-americanos, quatro foram assassinados: Abraão Lincoln (1865), James Garfield (1881), William McKinley (1901) e John F. Kennedy (1963).
Sorte teve Ronald Reagan. Uma bala perfurou o seu pulmão quando saía de um comício em Washington. Brincou com a pontaria do agressor e pensou em ferimento simples na axila. Quando tossiu sangue percebeu-se a seriedade, e uma cirurgia de urgência o salvou. Sem lesões físicas, sofreram tentativas de homicídios os presidentes: Franklin Delano Roosevelt, Harry Truman, Theodore Roosevelt e George Ford.
O candidato à presidência Robert Kennedy, irmão do falecido John, foi assassinado quando liderava pesquisas e poderia ser o presidente. Um palestino de 24 anos cortou a carreira de Bob Kennedy, primeiro a reagir, ainda no governo do irmão, à influência do crime organizado na política nos EUA.
O atentado contra o ex-presidente Trump, no último sábado, será mais uma história da violência na política americana, no capítulo, das campanhas violentas. Mas a de sábado, em que Trump saiu ferido na orelha direita por projétil de arma de fogo, teve uma peculiaridade: em abril deste ano, a Council on Foreign Relations apontava para o "alto risco de violência extrema" na campanha presidencial.
Alguns indícios eram visíveis. Por exemplo, os ataques verbais, tanto de Trump quanto de Biden, como: "saco de merda, parasita, ditador, incapaz". A Bloomberg Consul também ressaltou o risco de aprofundamento da violência em decorrência da exacerbação política: 48% por parte dos Republicanos e 47% do lado dos Democratas.
Como pano de fundo influenciador, vários episódios foram marcantes: invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021, os processos contra Trump e os seus ataques contra os procuradores e juízes, as ofensas verbais contra o chefe do Estado-maior, Mark Miller, que se recusou a cumprir ordem de Trump de reprimir manifestantes democratas. A lembrar, ainda, a agressão física, por David Pape, à política radical Nancy Pelosi.
As investigações do atentado contra Trump estão em curso e o agressor de 20 anos, Thomas Matthew Crooks, está morto. Se agiu sozinho ou não, a investigação poderá esclarecer, mas, como é comum nos EUA, muitas versões a respeito e complôs serão inevitáveis.
Alexis Tocqueville, juiz francês, escritor e autor da célebre obra 'Democracia na América', publicada em 1835, deve estar a querer sair da sepultura. Apaixonado pela democracia americana e a projetar o país como futura potência mundial, Tocqueville deve estar a desejar voltar para escrever como a polarização e a violência nas campanhas políticas tornam frágil o regime democrático.
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