Wálter Maierovitch

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Opinião

Celso Amorim é candidato a 'papagaio de pirata' de Maduro

Apesar de Lula ter sido hostilizado gratuitamente por Maduro —e com a Justiça eleitoral brasileira atacada por mentira do presidente venezuelano ao afirmar a ocorrência de eleições não auditadas—, o presidente enviará o seu assessor internacional, Celso Amorim, como observador.

Ainda há tempo de Lula, que é um democrata, suspender a viagem de Celso Amorim, até para o assessor não ser usado por Maduro, interna e internacionalmente, como "papagaio de pirata".

A União Europeia não enviará observadores para as eleições do próximo domingo (28) na Venezuela. A UE entende que, sem ter liberdade de circulação e de acesso às informações, os seus observadores seriam usados para dar aparência de honesto uma eleição sem real observação internacional.

Maduro e a festa do bode

No livro intitulado "La Democrazia in Trenta Lezioni", o saudoso constitucionalista italiano Giovanni Sartori ensinava, com base na evolução do étimo do termo democracia, trata-se de sistemas e regimes políticos nos quais é o povo que comanda.

Nas democracias representativas, como todo mundo sabe, o cidadão confere mandato (procuração) para ser representado, em eleições livres e limpas. Maduro enfiou-se até em panos bolsonaristas para colocar em dúvida a lisura das eleições no Brasil.

Maduro transformou a Venezuela em uma ditadura e no próximo domingo teremos eleições para a escolha do novo presidente. E o sistema venezuelano, além de antidemocrático, não pode ser considerado republicano, pois numa república, além do princípio da igualdade, ela se funda na alternância do poder.

O referido Maduro derrubou a regra limitativa de mandatos. Pode-se se reeleger até quando quiser e a Corte Suprema venezuelana já deu seu aval a respeito.

Para rematar, e graças ao aparelhamento do estado venezuelano, barrou, pelos seus comandados, duas candidaturas à presidência. E não deu a mínima à reprovação de Lula. Em síntese, Maduro escolhe os candidatos que não quer enfrentar. O princípio republicano da igualdade de todos perante a lei foi rasgado pelo ditador Maduro.

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Em uma democracia, como ensinou Montesquieu ao desenvolver a doutrina da separação dos poderes, "não existe liberdade" quando uma única pessoa detém todos os poderes do estado. Maduro, com o disfarce de manter um poder Legislativo, controla até a Corte suprema venezuelana e o conselho eleitoral.

Convém lembrar, ainda, que Maduro detém todo o controle das forças armadas e das forças policiais de ordem. Para ele é fácil reprimir e tirar a voz da oposição. E aqui não é o caso de considerar a qualidade da oposição.

Diante disso, o autoritário Maduro fez ameaças de modo a usar conhecida fórmula de ditadores de repúblicas bananeiras: intimidação. A propósito, Maduro disse, caso perca a eleição de domingo, que poderá ocorrer guerra civil e derramamento de sangue. Ao perceber não ter Lula gostado, mando-o tomar chá de camomila.

Como se percebe, Maduro pretende fazer, usando como comparativo a obra de Mario Vargas Llosa, a "Festa do Bode". Ou melhor, a festa eleitoral venezuelana do bode.

Segundo as pesquisas, a oposição poderá vencer. Lógico, se as eleições forem livres, não fraudadas.

Volto ao ponto, num pano rápido: se o ditador Maduro fraudar para ganhar a eleição na marra, Celso Amorim estará a dar o aval do governo do Brasil. E também o seu testemunho à "festa eleitoral venezuelana do Bode", a fazer recordar o romance de Mario Vargas Llosa, que desnudou a ditadura Trujillo, na República Dominicana.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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