Fala de Lula sobre negros foi tirada de contexto e era crítica à elite
Conteúdo investigado: Vídeo em que o ex-presidente Lula supostamente diz que negros deixaram de ser escravos para "virar vagabundo".
Onde foi publicado: Kwai
Conclusão do Comprova: É enganoso o vídeo que circula no Kwai em que o ex-presidente Lula (PT) e pré-candidato ao Planalto em 2022 supostamente reproduz falas racistas. O trecho foi recortado de uma entrevista e publicado fora de contexto. A fala é uma crítica ao que Lula afirma ser o pensamento da elite brasileira em relação à população mais pobre e negra.
Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.
O que diz o autor da publicação: Procurados por meio das redes sociais, os autores das publicações não responderam aos questionamentos.
Como verificamos: O Comprova usou o mecanismo de busca reversa do Google, que permite procurar a partir de uma imagem publicações visualmente semelhantes ao vídeo investigado. A partir disso, a equipe chegou ao vídeo original, publicado no canal do portal Diário do Centro do Mundo, mais conhecido como DCM.
Em buscas por palavras-chave das falas foi possível chegar até verificações feitas anteriormente pelo Estadão Verifica e pela Agência Lupa.
Contexto da declaração de Lula
A declaração que viralizou foi retirada de uma entrevista do ex-presidente ao portal DCM. No trecho investigado, Lula diz que "os negros não foram libertados para virar cidadãos ou cidadãs. Eles deixaram de ser escravos para virar vagabundos." No entanto, dentro do contexto, é possível atestar que a fala não exprime a opinião de Lula sobre essa população e, sim, o que o ex-presidente afirma ser o pensamento da elite brasileira em relação às pessoas mais pobres e negras.
"Aqui no Brasil tem uma classe que é originária do escravagismo neste país que ela acha que é o seguinte: só tem que ter 35% da população deste país que come, que viaja, que vai para Miami, que vai para Bariloche, que vai ver museu na Europa, vai ver museu nos Estados Unidos. O restante tem que se lascar. É assim. Desde a Proclamação da República, desde o fim da escravidão, eles pensam assim."
Em seguida, vem a fala que é reproduzida no vídeo investigado. "Os negros não foram libertados para virar cidadãos ou cidadãs. Eles deixaram de ser escravos para virar vagabundos. É assim que a elite tratava eles e continua tratando até hoje", disse.
A declaração foi dada em entrevista a Kiko Nogueira, fundador do DCM, aos também jornalistas Vinícius Segalla e Pedro Zambarda, em 8 de abril de 2021. A entrevista também está disponível no canal oficial do ex-presidente. Conteúdos de mesmo teor do vídeo investigado nesta verificação começaram a circular pouco tempo depois da conversa ir ao ar. Em maio do mesmo ano, o portal DCM publicou uma matéria desmentindo as publicações enganosas propagadas nas redes sociais.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A divulgação de conteúdo enganoso em relação a um pré-candidato à Presidência da República pode levar o eleitor a definir seu voto com base em uma desinformação, o que prejudica o processo democrático.
Alcance da publicação: Os vídeos, publicados na plataforma de vídeo Kwai, alcançaram quase 100 mil visualizações em apenas 3 dias. Foram publicadas por perfis com quase 500 mil seguidores somados.
Outras checagens sobre o tema: Outras verificações foram feitas com o mesmo vídeo. O Estadão mostrou que o vídeo foi editado, já a agência Lupa explicou que a fala foi tirada de contexto. Em outra verificação do Projeto Comprova foi mostrado que um outro vídeo de Lula foi editado com a intenção de modificar a mensagem transmitida.
Este conteúdo foi investigado por CNN Brasil e Metrópoles. A investigação foi verificada pelo Estado de S. Paulo, Poder360, Norte de Notícias e O Dia. A checagem foi publicada no site do Projeto Comprova em 4 de abril de 2022.
O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.
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