Ao criticar vacina chinesa, Bolsonaro mente e contradiz medidas do governo
Ao desautorizar em público o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez críticas à CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Os ataques, no entanto, são marcados por falsidades e contradizem medidas do próprio governo durante a pandemia do novo coronavírus.
A fritura de Pazuello tem tom semelhante às feitas com os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Nelson Teich. O presidente disse ainda que "o povo brasileiro não será cobaia de ninguém". "Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", escreveu Bolsonaro em suas redes sociais.
Em entrevista coletiva, ele atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu potencial adversário nas eleições de 2022. "Parece que é a última cartada dele na busca de popularidade ou para retratar tudo aquilo que ele perdeu durante a pandemia", disse.
O tucano respondeu: "Aproveito para pedir ao presidente que tenha grandeza e lidere o Brasil na saúde, na retomada de empregos... A nossa guerra é contra o vírus, não na política e não um contra o outro".
Veja a análise sobre as falas de Bolsonaro hoje:
Para o meu governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa.
Falso: A posição vai de encontro aos posicionamentos do governo em relação à hidroxicloroquina. Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem incentivado a produção e o uso do medicamento, mesmo que não exista qualquer comprovação científica.
O Exército brasileiro produziu, até julho, 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão, são investigados pelo Ministério Público de Contas e pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
A despeito de dizer que não comprará qualquer vacina que não for aprovada pela Anvisa, o presidente Jair Bolsonaro assinou em agosto MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca. No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
As vacinas da Sinovac e da Astrazeneca estão no mesmo estágio (fase 3), em que são feitos testes massivos do imunizante. Nenhuma delas tem eficácia comprovada nem autorização de uso pela Anvisa.
Parece que nenhum país do mundo está interessado nela.
Falso: Ao menos dois países, Chile e Indonésia, possuem planejamento para utilizar a CoronaVac em caso de eficácia. No país sul-americano, foi anunciado em agosto que o país também participaria da fase 3 dos testes.
Segundo o governo, a Pontifícia Universidade Católica chilena lidera um consórcio de oito instituições para realizar os testes, a serem aplicados em 3.000 voluntários entre 18 e 65 anos.
Já na Indonésia, o governo já informou à Sinovac que pretende adquirir 50 milhões de doses entre novembro deste ano e março de 2021. Conforme reportado pela agência Reuters, um acordo preliminar já foi feito para que, a partir de março, a estatal Bio Farma passe a produzir a CoronaVac.
Relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que a Turquia também realiza testes com a vacina.
O povo brasileiro não será cobaia de ninguém.
Falso: A frase contradiz os esforços do próprio governo para avançar na produção da vacina de Oxford, elaborada em parceria com o laboratório Astrazeneca, e de outras vacinas que estão sendo testadas no país.
Hoje, quatro vacinas estão sendo testadas em voluntários no país, autorizadas pela Anvisa. Ao todo, 33.660 brasileiros estão envolvidos nos estudos clínicos das vacinas contra a covid-19, segundo dados oficiais da agência reguladora.
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