Para atacar Moro, Bolsonaro omite mensagens da Lava Jato contra PT em 2018
O presidente Jair Bolsonaro (PL) omitiu, em live hoje (2) à noite, o histórico de mensagens que mostraram a oposição de procuradores da Operação Lava Jato ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT nas eleições de 2018 ao afirmar, sem mostrar qualquer prova, que "a maioria" dos integrantes da força-tarefa votou em Fernando Haddad (PT) no segundo turno daquela disputa.
Bolsonaro alegou que a fonte de sua suposta informação seria o arquivo de conversas vazadas de procuradores da Lava Jato. O presidente ignorou que este mesmo material, obtido pelo site The Intercept Brasil, mostrou que os integrantes da força-tarefa foram contra a possibilidade de Lula conceder uma entrevista à Folha antes do segundo turno de 2018, inclusive dizendo que a conversa poderia "eleger Haddad". A entrevista chegou a ser censurada no STF (Supremo Tribunal Federal) e só aconteceu em abril de 2019.
Pelo menos um membro da operação, Carlos Fernando dos Santos Lima, declarou ao UOL no ano passado que votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018 — o que o presidente também não citou na live. Lima, que deixou o Ministério Público Federal, também afirmou que "houve procuradores que votaram em Haddad".
Bolsonaro fez a alegação ao rebater a declaração de Sergio Moro (Podemos) de que o presidente "comemorou" a soltura de Lula. Moro condenou o petista quando foi juiz da Lava Jato em Curitiba e deixou a magistratura para ser ministro da Justiça do atual governo, mas depois rompeu com Bolsonaro e deixou o cargo. Veja abaixo o que o UOL Confere checou:
E outra coisa: na Vaza Jato -- eu tenho comigo, nós conseguimos oficialmente muita coisa -- os procuradores, por ocasião do segundo turno [de 2018], a maioria votou em mim ou no Haddad? Votou no Haddad. Esse é o Sergio Moro."
Presidente Jair Bolsonaro na live de 02.dez.2021
A alegação de Bolsonaro é insustentável, pois não há documentos públicos ou declarações que a corroborem. As informações disponíveis indicam uma oposição de ao menos parte dos procuradores da Lava Jato em Curitiba à eleição de Haddad para presidente em 2018.
Ao noticiar a oposição dos procuradores à entrevista de Lula para a Folha, o The Intercept Brasil publicou trechos de trocas de mensagens que mostram que integrantes da Lava Jato se opunham ao retorno do PT à presidência.
"Que piada!!! Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. E depois de Mônica Bergamo, pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas? e a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse...", disse a procuradora Laura Tessler após a decisão inicial do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), de liberar a entrevista.
Outra procuradora, Isabel Groba, respondeu com a frase "Mafiosos!!!".
Na sequência da troca de mensagens, Tessler afirmou que "uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad".
Em paralelo, em uma outra conversa obtida pelo The Intercept Brasil sobre a autorização para Lula dar entrevista na prisão, o agora ex-procurador Deltan Dallagnol respondeu uma mensagem pedindo que sua interlocutora rezasse para que o PT não voltasse ao poder. Naquele momento, Dallagnol comandava a força-tarefa de Curitiba.
"Ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve", disse uma pessoa identificada como "Carol PGR".
"Reza sim", respondeu Dallagnol. "Precisamos como país."
Além do voto declarado do ex-procurador Santos Lima em Bolsonaro, o site da revista Época publicou nota em agosto do ano passado dizendo que procuradores da Lava Jato em Curitiba tinham votado em Bolsonaro em 2018 e que estariam arrependidos da escolha. A mesma nota diz que "ninguém diz que preferia ter votado no PT", mas que "arrependem-se de não ter votado nulo".
A força-tarefa da Lava Jato foi a responsável por oferecer a denúncia do caso do tríplex do Guarujá (SP), no qual Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Após a condenação em segunda instância, o petista foi preso e, pela Lei da Ficha Limpa, impedido de concorrer a presidente nas eleições de 2018. Depois que o Supremo voltou atrás na execução de pena após condenação em segunda instância, em 2019, Lula foi solto. Em abril deste ano, o STF anulou as condenações a Lula na Lava Jato em Curitiba.
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