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Ex-Lava Jato votou em Bolsonaro, mas diz que 'impeachment está atrasado'

Do UOL, em São Paulo

26/05/2020 18h23Atualizada em 27/05/2020 18h09

O ex-procurador da operação Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima admitiu hoje ter votado em Jair Bolsonaro para presidente nas Eleições de 2018. A declaração ocorreu durante participação no UOL Entrevista.

"No primeiro turno, eram muito variadas todas as opções. Eu, a princípio, era Marina Silva. A partir do segundo turno, você fica entre 'o diabo e o coisa ruim', como dizia Brizola. Você não tem muita opção. Votar em Haddad, nesse caso, claramente um reprodutor apenas das ordens do Lula, era, para a maior parte de nós, impossível. Mesmo assim, houve procuradores que votaram em Haddad. No segundo turno, eu votei em Bolsonaro", relatou Lima.

Questionado pelos colunistas do UOL Tales Faria e Chico Alves se houve arrependimento do voto, o ex-procurador da Lava Jato diz que não teria condições de votar em Fernando Haddad (PT), candidato concorrente de Bolsonaro.

"Só se eu me arrependesse por não ter votado em branco. Eu não teria condições de votar em Haddad. Seria como eu virar o cano da arma diretamente para o meu rosto e apertar o gatilho. Era uma opção que, evidentemente, viria contra as investigações e a Lava Jato", acrescentou.

"Impeachment está atrasado"

Crítico ferrenho de Bolsonaro, Carlos Fernando dos Santos Lima diz agora que o presidente já cometeu crimes de responsabilidade e que o seu processo de impeachment está atrasado.

"Foi no seu governo que FHC, como ministro da Economia, pôde dar estabilidade para a moeda. Muitas vezes, o impeachment é a solução. Hoje eu vejo que o impeachment de Bolsonaro já está atrasado. Há crimes de responsabilidade diversos, não só neste fato envolvendo a PF, mas também como na própria condução do combate à pandemia", afirmou.

Um dos exemplos citados por ele como crime de responsabilidade seria a suposta interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal.

O ex-ministro Sergio Moro acusa Bolsonaro de tê-lo ameaçado de demissão por causa de sua resistência à troca no comando da PF, durante a reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril. O vídeo desta reunião teve o sigilo retirado hoje pelo ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator de inquérito que apura a suposta interferência de Bolsonaro.

"Tentar intervir na PF para investigar, saber assuntos relativos à investigação de sua família, para mim já seria suficiente", avaliou o ex-procurador.

"Fazer de vidas disputa política é inadmissível"

Lima também criticou a atuação do governo de Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus. Atualmente, o Brasil registra mais de 23,4 mil mortes em decorrência da doença.

"Todos os países estão enfrentando isso. Mas, se nós tivéssemos um governo federal coordenado com estados e municípios, se não tivesse feito disso uma disputa política... Fazer de vidas uma disputa política é inadmissível. Esse foi o meu ponto de rompimento absoluto com esse governo. Nesse ponto não se transige."

Bandeirada na cabeça

Na semana passada, uma jornalista do canal Bandnews TV foi agredida por uma apoiadora de Bolsonaro com uma bandeirada na cabeça enquanto se preparava para fazer uma entrada ao vivo.

"Permitir essa ideia, trazer o caos para as ruas brasileiras, permitir que qualquer maluco que, ao invés de dar uma bandeirada na cabeça do jornalista, como estão agora acostumados a fazer... Que comecem a usar armas de fogo para se fazer valer suas opiniões sobre o discurso de ditadura, é uma coisa que eu não entendo como os militares estão endossando. A lealdade que devem é ao Brasil, não ao presidente", opinou o ex-procurador.

Assista à íntegra da entrevista com Carlos Fernando Santos Lima:

*Participaram desta produção Diego Henrique de Carvalho, Talyta Vespa, Ana Carolina Silva e Gilvan Marques