Em sabatina, Ciro erra dado sobre emprego e acerta sobre acordos do PT
O pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, errou dados sobre desemprego e informalidade no Brasil, assim como sobre o desempenho ruim do PT nas eleições municipais de 2020, durante a sabatina UOL/Folha realizada hoje. Por outro lado, Ciro acertou ao mencionar o número de brasileiros endividados e inadimplentes e ao citar recentes movimentações políticas do PT e de seu pré-candidato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a aproximação com Geddel Vieira Lima e Eunício Oliveira, ambos do MDB. Leia a checagem:
A soma de informalidade selvagem com o desemprego aberto já alcança quase 70 de cada 100 brasileiros. O endividamento das famílias é o maior da história: 72% das famílias brasileiras estão endividadas, 63,7 milhões de brasileiros humilhados no SPC."
Ciro Gomes (PDT)
É falso que a soma de desempregados com informais atinja 70% da força de trabalho no Brasil, segundo dados da PNAD Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os números são altos, mas menores do que os citados por Ciro. Segundo a PNAD Contínua referente ao trimestre móvel que vai de dezembro a fevereiro, havia 38,3 milhões de trabalhadores informais e 12 milhões de desempregados no Brasil. Somados, estes 50,3 milhões de trabalhadores representam 46,9% de uma força de trabalho de 107,2 milhões de pessoas.
Em relação ao número de endividados do Brasil, Ciro acerta quando diz que o valor está acima dos 70%, mas o percentual exato está um pouco acima do citado por ele. Segundo um levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), em março, 77,5% das famílias estavam endividadas, a maior proporção em 12 anos.
O número de brasileiros inadimplentes também já é um pouco maior do que os 63,7 milhões citados por Ciro, mas não muito distante disso. O dado mais recente do Serasa, de fevereiro, aponta um total de 65,17 milhões de inadimplentes.
Trinta e três milhões de brasileiros ganhando menos do que o salário mínimo, que, por sua vez, é o pior poder de compra dos últimos 15 anos."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que 33 milhões de brasileiros ganham menos que um salário mínimo. Os dados são da LCA Consultores, com base nos indicadores da PNAD trimestral do IBGE, e foram noticiados pelo G1.
Também é verdade que o salário mínimo do Brasil chegou ao pior nível de poder de compra dos últimos 15 anos, segundo estimativas realizadas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e divulgadas em janeiro. Naquele mês, o salário mínimo de R$ 1.212 permitia comprar 1,73 cesta básica, o valor mais baixo desde 2008 (1,74). No ano passado, esse valor foi ainda menor: chegou a 1,58 em dezembro.
Nas grandes cidades brasileiras, que costumam dar um sinal da orientação do voto, o PT levou uma surra, perdeu as eleições [de 2020] em todas as capitais e em 100% das grandes cidades do Brasil. O PT nasce no ABC e não ganha em uma única cidade, o PT não ganha no Rio de Janeiro em canto nenhum, em Minas Gerais não ganha em canto nenhum."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que o PT perdeu em todas as capitais nas eleições para prefeito em 2020. No entanto, é falso que o partido não tenha ganhado em uma única cidade na região do ABC paulista, formada por sete municípios da região metropolitana de São Paulo (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). O PT saiu vitorioso em Mauá e Diadema, e também venceu prefeituras em cidades populosas de Minas Gerais (Contagem e Juiz de Fora).
Eu não viajei para o estrangeiro para não votar [em 2018]."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que Ciro Gomes não viajou no dia do segundo turno das eleições de 2018. O pedetista esteve em Paris entre os dias 11 e 26 de outubro de 2018, após ser derrotado no primeiro turno. A votação para definir se o presidente do país seria Jair Bolsonaro (PL, então no PSL) ou Fernando Haddad (PT) só aconteceu no dia 28, e Ciro esteve presente na sua zona eleitoral. Na ocasião, ele disse ter votado em Haddad, mas que "nunca mais" faria campanha para o PT.
O Lula acabou de fazer acordo com Geddel Vieira Lima na Bahia. (...). Ele [Lula] está dizendo que vai manter o presidente do Banco Central do Bolsonaro."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que o PT fez um acordo político com o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) na Bahia. O MDB baiano passou a apoiar a pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT) ao governo do estado. Geddel está em liberdade condicional depois de ter sido condenado por lavagem de dinheiro no caso do bunker de R$ 51 milhões.
Também é verdadeira a fala de Ciro sobre a manutenção do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, caso Lula seja eleito. A informação foi dada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, no dia 4 de abril durante um jantar com executivos em São Paulo. Por lei, Campos Neto tem mandato até 2024.
O Lula jantou semana passada na casa do Eunício Oliveira, ex-presidente do Senado Federal, a quem Lula deu R$ 1 bilhão de contratos sem licitação da Petrobras. Atenção, UOL: o nome da empresa é Manchester."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que Lula esteve em um jantar na mansão do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE), em Brasília, no dia 11 de abril.
Também é verdade que a empresa Manchester Serviços Ltda. obteve contratos de quase R$ 1 bilhão com a Petrobras entre 2007 e 2011, quando Eunício era dono da companhia. Segundo reportagem do jornal O Globo publicada em 2015, a Manchester tinha nove contratos com a Petrobras até 2011. Cinco foram firmados a partir de cartas-convite e quatro por dispensa de licitação.
O nosso amado povo brasileiro, em uma proporção de 70 de cada 100 em São Paulo, (...), ou em Brasília, (...), ou em Minas Gerais, votou no Bolsonaro."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que Bolsonaro recebeu 70% dos votos, ou perto disso, em São Paulo e no Distrito Federal. No segundo turno das eleições de 2018, o atual presidente teve 67,37% dos votos válidos dos eleitores paulistas e 69,99% dos do Distrito Federal. No entanto, em Minas Gerais, Bolsonaro recebeu uma fatia um pouco menor dos votos válidos: 58,19%. Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), reunidos no Placar UOL.
Todas as pesquisas mostravam que aquela eleição [2018] derrotaria o PT, e o único candidato que tinha chance de derrotar o Bolsonaro no nascedouro era eu."
Ciro Gomes (PDT)
A declaração de Ciro é distorcida. Ao longo da campanha eleitoral de 2018, Ciro obteve vantagens maiores sobre Bolsonaro que seus concorrentes em algumas simulações de segundo turno, mas não era o único candidato que, segundo as pesquisas, tinha chances de derrotar o atual presidente.
De acordo com o Datafolha, Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (então no PSDB, hoje no PSB) também apareceram à frente de Bolsonaro ou empatados dentro da margem de erro em simulações de segundo turno feitas do começo de 2018 até as vésperas do primeiro turno, em outubro.
Pesquisas feitas pelo Ibope em setembro (veja aqui, aqui, aqui e aqui) e outubro (veja aqui e aqui) também mostraram, em diferentes momentos, Haddad, Alckmin e Marina Silva (Rede) à frente de Bolsonaro ou em empate técnico com ele nas simulações de segundo turno.
O João [Santana] nunca foi condenado por corrupção. Nunca foi agente público. Ele é prestador de serviços publicitários, foi contratado e prestou serviços. E cometeu um grosseiro equívoco quando aceitou receber por caixa 2. Nem Sergio Moro condenou João Santana por corrupção. Pelo contrário: absolveu. Ele foi condenado por receber caixa 2."
Ciro Gomes (PDT)
É verdadeiro que João Santana não foi condenado por corrupção, mas é distorcida a declaração de que o marqueteiro foi condenado por "caixa 2", nome dado ao financiamento de campanha sem registro oficial. Santana foi condenado por lavagem de dinheiro e, em delação premiada, admitiu a prática do caixa 2 nas campanhas em que trabalhou.
Recentemente, a Polícia Federal (...) veio na minha casa. (...) Fui para a Justiça, e numa decisão unânime, a Justiça anulou aquela violência."
Ciro Gomes (PDT)
É verdade que a Justiça anulou a operação de busca e apreensão contra Ciro Gomes. A decisão do TRF-5 (Tribunal Regional Federal) foi unânime após recurso da defesa do pré-candidato à presidência. A operação foi realizada pela PF (Polícia Federal) em dezembro de 2021, durante a Operação Colosseum, que investiga supostas fraudes na reforma da Arena Castelão, em Fortaleza, entre os anos de 2010 e 2013.
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