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Bolsonaro engana ao dizer que escolheu ministros por critérios técnicos

Na foto, ministros nomeados por Jair Bolsonaro (PL) em janeiro de 2019 - Arte/UOL sobre Reprodução/Flickr
Na foto, ministros nomeados por Jair Bolsonaro (PL) em janeiro de 2019 Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Flickr

Do UOL, em São Paulo

06/09/2022 04h00

Em sua primeira resposta no debate presidencial de domingo (28), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que assim que assumiu o cargo, em 2018, escolheu seus ministros por "critérios técnicos" e sem "ingerência política" - e repetiu a frase no primeiro debate dos presidenciáveis, de 29 de agosto. A declaração é falsa e tem sido repetida ao longo da campanha do candidato à reeleição e usada para atacar seus adversários na corrida eleitoral.

No MEC (Ministério da Educação) e outras pastas do governo, o presidente nomeou pessoas sem experiência prévia, conhecimento dos órgãos e até mesmo por indicação política.

Trocas na Educação. O MEC é uma das pastas em que houve mais indicação sem critérios técnicos. O ex-ministro Milton Ribeiro, que é pastor e chegou a ser preso por um suposto escândalo de corrupção da pasta, disse várias vezes publicamente não ter conhecimento total do ministério.

Em uma ocasião, Ribeiro disse que foi uma "surpresa" quando soube que a pasta tinha 38 institutos federais. A quantidade de hospitais sob responsabilidade do MEC foi outra informação que o então ministro descobriu somente no cargo.

"Quando eu cheguei no MEC, tomei um susto. A maior parte da população brasileira não sabe que eu administro 50 hospitais universitários através da Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares], que eu tenho que organizar, sem poder interferir, o ensino público para mais de 40 milhões de estudantes em todo o Brasil"
Milton Ribeiro, ex-minsitro da Educação

Antes de Ribeiro, a pasta foi chefiada por Abraham Weintraub, que também não tinha experiência prévia em educação e era mais ligado ao mercado financeiro.

Ricardo Vélez, que foi demitido para Weintraub assumir a chefia, também teve uma carreira tímida na educação e nenhum contato com a escola pública. Em todas as gestões, o MEC teve chefes que defendiam a ala ideológica no governo.

Pressão do Centrão. Outras áreas da Educação também tiveram pessoas nomeadas sem experiência prévia. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) teve cinco presidentes diferentes desde 2019 e, só agora, em 2022, que o órgão passou a ser presidido por um servidor de carreira e com longa experiência nas demandas do instituto.

O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) passou a ser chefiado por um nome ligado ao Centrão em junho de 2020 — antes disso, uma servidora de carreira era presidente do fundo.

Marcelo Lopes da Fonte foi indicado pelo ministro Ciro Nogueira. Segundo apuração do UOL, o órgão, que é responsável por um orçamento bilionário, também recebeu indicação nas diretorias.

O então assessor do PL Garigham Amarante Pinto se tornou diretor de uma das áreas do FNDE após indicação do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto.

Cidadania. Nesta semana, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre as indicações políticas nos ministérios.

"Me apontem ministérios que foram entregues para políticos"
Jair Bolsonaro, presidente da República

Um repórter respondeu: "Cidadania, presidente". Bolsonaro, no entanto, negou e disse que o então João Roma era tenente do Exercício —mas esta afirmação também é falsa.

Roma foi indicado pelo Centrão para o cargo e tem carreira política como deputado federal pelo PL e foi assessor parlamentar. Seu antecessor, Onyx Lorenzoni, também é filiado ao mesmo partido, passou pela secretaria do Governo e pela pasta do Trabalho e Previdência.

Agora, Lorenzoni é candidato a governador do Rio Grande do Sul.

Na Saúde, passou até militar. Em meio à pandemia do coronavírus, o governo Bolsonaro nomeou Eduardo Pazzuelo, que não era médico, nem tinha experiência na área. General da ativa do Exército, ele substituiu o médico Nelson Teich, que era pressionado pelo presidente para adotar no protocolo da covid-19 o uso da cloroquina — remédio comprovadamente sem eficácia no tratamento do vírus.

O atual ministro, Marcelo Queiroga, é médico mas ele era a segunda opção do governo para o cargo. A primeira opção era a cardiologista Ludhmila Hajjar — ela recusou o convite "por motivos técnicos".

Sem experiência. Desde o início do governo na chefia do ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a ministra Damares Alves também não tem experiência nos assuntos de sua pasta.

Com carreira política e ligada a igreja evangélica, Damares defende os temas conservadores e da igreja evangélica — sempre levantados por Bolsonaro e usados na sua campanha eleitoral. A ministra ficou na chefia da pasta até 30 de março deste ano, quando saiu para se candidatar às eleições de 2022.

Traquejo político. Apesar de Bolsonaro afirmar que escolheu ministros por critérios técnicos, em uma entrevista para o podcast "Cara a Tapa", o presidente disse que após colocar Ciro Nogueira como ministro da Casa Civil "melhorou bastante a conversa" com o Congresso.

"O ministro anterior era uma excelente pessoa, mas não tinha esse traquejo, não sabia como funcionava o Parlamento. O erro talvez tenha sido não dar uma pitada a mais de política em um ou outro ministério", afirmou.

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