Vídeo pró-Bolsonaro distorce notícias antigas para enganar sobre pandemia
Um vídeo que circula no Kwai, no Facebook e no WhatsApp compila oito trechos de notícias antigas sobre a pandemia de covid-19 como se fossem recentes para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os trechos recortados das matérias de telejornais omitem o contexto e até mesmo a informação completa.
A checagem foi sugerida por leitores do UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.
O UOL Confere considera distorcido conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.
O compilado mostra recortes de matérias antigas de telejornais da Band, Record, CNN Brasil e SBT, inclusive de ações do governo Bolsonaro, mas dá a entender que são notícias recentes ao incluir sobre o vídeo a frase "Bolsonaro tinha razão". Além disso, o vídeo também exibe o título de uma coluna da revista Veja de março de 2023 e termina com fotos do atual presidente, Lula, chamando-o de ladrão.
O UOL Confere identificou todas as notícias completas. Veja abaixo:
Vídeo 1
Janeiro de 2022. O primeiro recorte é de uma notícia veiculada no Jornal da Band no dia 22 de janeiro de 2022. O então apresentador Felipe Vieira afirma que "em nota técnica, o Ministério da Saúde diz que a cloroquina funciona e vacinas, não". A nota técnica foi assinada pelo então secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, em janeiro de 2022. Portanto, uma medida do governo Bolsonaro.
O documento foi publicado no dia 21 de janeiro de 2022, cinco dias depois, no entanto, o governo voltou atrás e emitiu uma nova nota técnica alterando a anterior. O vídeo, que também circula de forma individualizada, foi desmentido pelo UOL Confere (veja aqui).
Veja a íntegra da matéria:
Vídeo 2
Maio de 2020. O segundo recorte é de uma notícia do Jornal da Record do dia 23 de maio de 2020. A apresentadora Janine Borba diz "novo estudo publicado pela revista científica The Lancet revela que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus", o vídeo desinformativo corta a fala sem a continuação em que a apresentadora diz "aumenta o risco de morte".
Esse estudo, no entanto, foi retirado da publicação a pedido dos próprios autores, que solicitaram uma retratação cerca de uma semana depois. Três dos pesquisadores afirmaram que a Surgisphere, empresa que forneceu os dados, não iria transferir o conjunto completo de dados para uma análise independente e "não podiam mais garantir a veracidade das fontes primárias de dados" (relembre aqui).
Veja a matéria completa:
Vídeo 3
Julho de 2020. O terceiro vídeo é um recorte do Jornal da Cultura do dia 17 de julho de 2020. Nele, a apresentadora Karyn Bravo diz que "o Ministério da Saúde orientou a Fiocruz a divulgar e recomendar o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina no tratamento inicial da covid-19". A medida foi uma decisão do governo Bolsonaro. No entanto, estudos da OMS de 2020 e 2021 apontam a ineficácia da cloroquina contra a covid-19 (veja aqui e aqui).
Veja abaixo:
Vídeo 4
Março de 2020. O quarto trecho exibido no compilado desinformativo é um recorte do SBT Brasil do dia 20 de março de 2020, nove dias depois de a OMS ter declarado a pandemia de covid-19. No recorte, o então apresentador do telejornal, Carlos Nascimento, afirma que "os remédios desapareceram depois que as medicações foram citadas pelo presidente Donald Trump como supostamente eficazes no combate novo coronavírus".
O jornal noticiava que os medicamentos a base de hidroxicloroquina, usados para pacientes com lúpus ou malária, estavam em falta nas farmácias brasileiras, o que seria uma consequência da fala de Trump. A mesma matéria, porém, afirmava que o medicamento não tinha ação específica contra vírus e que não era recomendado pela Anvisa. Confira abaixo:
Vídeo 5
Julho de 2020. O trecho seguinte é de uma notícia veiculada no Jornal da Record no dia 23 de julho de 2020. Nele, a apresentadora Christina Lemos diz que "saiu hoje o resultado do estudo de um grupo de 55 hospitais brasileiros sobre o uso da hidroxicloroquina". O recorte omite a fala imediatamente seguinte da jornalista que afirma a conclusão da pesquisa: "para o consórcio, o medicamento não é eficaz". Veja a partir do minuto 17:
Vídeo 6
Janeiro de 2022. O trecho seguinte é um recorte de uma notícia da programa CNN Domingo Tarde do dia 23 de janeiro de 2022. O apresentador Kenzô Machida afirma que "uma nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde assinada pelo secretário de Ciência e Tecnologia e Inovação em Insumos Estratégicos em Saúde Hélio Angotti Neto, diz que hidroxicloroquina tem efetividade no combate à covid-19 e a vacinação não" (veja aqui). Essa nota técnica, no entanto, foi alterada cinco dias depois.
Vídeo 7
Junho de 2020. O penúltimo vídeo é um recorte do Jornal da Record de 5 de junho de 2020, em que a apresentadora Adriana Araújo afirma que "a revista britânica The Lancet publicou uma retratação dos autores do estudo sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina no tratamento da covid-19". A retratação de fato aconteceu, porque os pesquisadores disseram que os dados fornecidos pela empresa Surgisphere não eram confiáveis, já que a empresa se negou a fornecer os dados hospitalares para uma auditoria externa.
Estudos da OMS em 2020 e 2021 mostraram que a cloroquina não tem eficácia contra a covid-19 (veja aqui e aqui).
Vídeo 8
Agosto de 2020. O último recorte é da edição do SBT Brasil do dia 24 de agosto de 2020. Nele, a então apresentadora Rachel Sheherazade noticia uma fala de Bolsonaro sobre o uso da cloroquina. "Em um evento sobre o combate à covid-19, o presidente da república, Jair Bolsonaro, voltou a defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento", diz a apresentadora.
Em seguida, o vídeo desinformativo exibe a fala do ex-presidente. O recorte omite que o telejornal destacou que, segundo a OMS, o medicamento não tinha comprovação científica para tratar covid-19.
Veja a matéria completa:
O vídeo conclui com um print de texto opinativo publicado no site da revista Veja no dia 3 de março de 2023 (veja aqui). No texto, porém, a cloroquina — principal tema do vídeo desinformativo — sequer é citada.
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