Topo

UOL Confere

Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


É falso que OMS pediu desculpas por não recomendar cloroquina

17.mar.2023 - A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus.  - Arte/UOL Confere sobre Reprodução/Facebook
17.mar.2023 - A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus. Imagem: Arte/UOL Confere sobre Reprodução/Facebook

Giovana Frioli

Colaboração para o UOL, em Curitiba

17/03/2023 10h35

Não é verdade que a OMS (Organização Mundial da Saúde) se desculpou por "não ter autorizado" o uso de cloroquina e azitromicina no tratamento da covid-19, como afirma o apresentador Sikêra Júnior em um vídeo antigo que voltou a circular no Facebook neste mês como se fosse atual.

A OMS nunca pediu desculpas por não recomendar os dois remédios contra o coronavírus. Os dois medicamentos não possuem comprovação científica para o tratamento da doença.

O vídeo original foi removido (aqui) por violar as diretrizes do Youtube (veja aqui). A plataforma não permite a publicação de conteúdos sobre a pandemia que apresentem riscos de danos à saúde.

O que diz a publicação falsa

A fala foi transmitida no programa Alerta Amazonas, da TV A Crítica, em 10 de junho de 2020. "É interessante ver a Organização Mundial da Saúde pedindo desculpas porque não autorizou o uso da cloroquina, da azitromicina. Que covardes. Muita gente morreu por causa de vocês", diz o apresentador.

"O médico da Globo tinha razão, sempre foi uma gripezinha. Bolsonaro tentou salvar sua família mas você não quis, deu ouvidos a Globo lixo", diz o título do vídeo.

Comentários na postagem incentivam o uso dos medicamentos e defendem as ações do ex-presidente Jair Bolsonaro de recomendação da cloroquina.

O UOL Confereentrou em contato com Sikêra Júnior, que não respondeu.

A publicação falsa, do dia 4 de março, acumulou 268 mil visualizações, 22 mil curtidas, 3 mil comentários e 25 mil compartilhamentos.

A origem da mentira

O discurso de Sikêra é uma interpretação equivocada de uma declaração do diretor de emergência sanitária da OMS, Michael Ryan, em uma entrevista concedida em 5 de junho de 2020. O contexto foi esclarecido na época pelo Projeto Comprova —consórcio de checagem do qual o UOL Confere faz parte (veja aqui).

Um dia antes, em 4 de junho, a revista The Lancet havia retirado do ar, a pedido dos autores, um estudo que apontava que a hidroxicloroquina havia aumentado o risco de morte em pacientes com covid-19. A publicação havia levado a OMS a suspender os testes clínicos que realizava com o medicamento. Ryan foi questionado sobre a polêmica e afirmou que a entidade decidiu retomar seus estudos.

Na ocasião, o diretor não pediu desculpas pela organização de saúde não recomendar a cloroquina no combate à doença e nem por ter retomado as pesquisas.

Michael Ryan se desculpou, na verdade, por um possível conflito da comunidade científica que pode ter gerado confusões na pandemia.

Eu sei que, às vezes, pode passar a impressão de que a comunidade científica está confusa ou que está mandando sinais conflitantes e, por isso, nós pedimos desculpas a todos vocês, mas devemos seguir a ciência, devemos seguir as evidências"
Michael Ryan, diretor de emergência sanitária da OMS, em entrevista em 5 de junho de 2020

Na íntegra da entrevista, em inglês, é possível conferir a fala completa do diretor entre os 19 e 23 minutos. Assista:

Recomendação é contra hidroxicloroquina

A OMS reforça "forte recomendação contrária" ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19, independentemente da gravidade do caso. A informação está registrada no documento mais atualizado sobre o tema: Therapeutics and COVID-19: Living guideline, de 13 de janeiro de 2023 (veja aqui).

A hidroxicloroquina e a cloroquina provavelmente não reduzem a mortalidade ou a ventilação mecânica e podem não reduzir a duração da hospitalização. A evidência não exclui o potencial para um pequeno aumento do risco de morte e ventilação mecânica com hidroxicloroquina."
Therapeutics and COVID-19: Living guideline, página 101

Na mesma página, o documento informa que o uso da azitromicina junto com a hidroxicloroquina não melhora os resultados.

O vídeo também foi checado pelo Estadão Verifica (aqui), Aos Fatos (aqui) e Agência Lupa (aqui).

5 dicas para você não cair em fake news

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.