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Família é destruída com morte de duas irmãs em incêndio em Santa Maria

 As irmãs Franciele (à esquerda), 27, e Cecília Vargas, 23, morreram no incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS) - Arquivo Pessoal
As irmãs Franciele (à esquerda), 27, e Cecília Vargas, 23, morreram no incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS) Imagem: Arquivo Pessoal

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Santa Maria (RS)

31/01/2013 17h02

As irmãs Franciele, 27, e Cecília Vargas, 23, passaram algumas das últimas horas de suas vidas na frente de um espelho, se produzindo para a balada em Santa Maria.

Jennifer (7, de Franciele) e Eduarda (4, de Cecília) participavam da cena, na casa onde as quatro viviam, no bairro de Itaara. Era final da tarde na véspera da tragédia da boate Kiss. Elas provavam vestidos e maquiagens, imitando as mães.

“Fran vestiu uma saia preta com babados. Ciça, um tomara-que-caia vermelho. Elas queriam arrasar”, conta a irmã mais nova, Camila, 17, babá das meninas.

Camila não foi à festa porque ficou cuidando das crianças: “Eu até achei que elas iriam na Mombai ou na Balare”, diz Camila, citando as danceterias favoritas das irmãs. Separadas dos companheiros logo após o nascimento das meninas, elas sustentavam as meninas.

As irmãs tinham pele morena e cabelos negros lisos. Com 1,70 m e 55 quilos, Franciele já era mãe quando foi escolhida a mulher mais bonita do bairro. Era secretária de um estúdio de pilates.

Cecília tinha 1,65 m e 52 quilos e era empregada doméstica. “As duas tinham alto astral e viviam para as filhas”, resume Camila.

A arrumação das irmãs durou três horas. Camila ajudou a fazer chapinha. O ex-marido de Cecília ligou para ela naquela noite: “Ele queria reatar, mas minha irmã deu uma enrolada básica porque não queria mais nada, o casamento não tinha volta”, diz Camila.

Às 21h, um rapaz apareceu para buscar as duas: “Eu só ouvi o barulho do carro dele, não pude vê-lo. Antes de saírem, Fran me mandou trancar a porta e Ciça me disse para botar as meninas cedo na cama”, conta.

Na manhã de domingo, o jardineiro Valdemir Vargas, 51, pai de Franciele e Cecília acordou para assistir a um programa na TV. No intervalo, viu um flash do incêndio.

“Fui caminhar e tomar meu chimarrão”, lembra o jardineiro. “Não fiquei preocupado porque não sabia que minhas filhas tinham saído”, diz.

Segundo ele, às 10h Camila ligou avisando que as irmãs não tinham voltado para casa. “Mandei ela vir para a minha casa e trazer as netas”, conta. “Tenho que pedir a guarda das meninas para criá-las, vai ser barra.”

Vargas foi com o ex de Cecília fazer o reconhecimento dos corpos. Deixou a tarefa para o genro. O sepultamento delas aconteceu no cemitério do bairro.

Camila diz que vai cuidar das sobrinhas a partir de agora: “Eu adoro minhas sobrinhas. Cuidei delas desde que nasceram, aconteça o que acontecer estarei com elas”.

Foi ela, aliás, que deu a notícia da morte das mães às crianças: “As mamães de vocês não vão voltar mais, elas viraram anjinhos”, disse.