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Defesa recua e orienta Gil Rugai a permanecer em silêncio

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 18h33Atualizada em 21/02/2013 19h42

Contrariando o que havia dito nessa quarta-feira (20), a defesa do estudante Gil Rugai, 29, orientou o cliente a não responder nenhuma questão colocada pela acusação durante interrogatório nesta quinta (21) --seja pelo promotor Rogério Zagallo ou pelo assistente, Ubirajara Mangini.

A orientação para que Gil Rugai permanecesse calado veio aos 35 minutos de perguntas formuladas por Zagallo. No momento da interrupção, o réu era questionado se conhecia uma lista de pessoas colocada pelo promotor --entre elas, algumas testemunhas--, bem como se tinha algo contra ou a favor delas.

Após o réu responder a respeito de pelo menos cinco nomes, um de seus advogados, Marcelo Feller, interrompeu a série e declarou que Zagallo estaria usando a oportunidade "para discursar". "Não é o momento adequado de fazer seu discurso", disse ao promotor, lembrando-o que a fase de debates entre defesa e acusação é apenas nesta sexta-feira (22).

Depois de o promotor insistir ao juiz Adílson Simoni em ao menos fazer as perguntas e ouvir do magistrado se seriam "perguntas ou discursos?", ainda que o réu respondesse em todas elas que permaneceria em silêncio, Zagallo ouviu de Gil Rugai: "posso ir ao banheiro?". A plateia riu, e o juiz interrompeu a sessão por 15 minutos.

O magistrado indeferiu o pedido da promotoria alegando que o direito de fazer perguntas ao réu, ainda que ele invocasse o direito de ficar em silêncio em todas elas, era um dispositivo válido apenas na redação de 1941 do Código de Processo Penal.

De acordo com o magistrado, tanto a Constituição Federal de 1988, quanto a Lei Federal 10.792/2003, determina que as perguntas não sejam feitas uma vez invocado o silêncio. Às 19h35, a defesa começou a fazer perguntas ao réu.

“Você está sendo usado pelo promotor para que ele possa fazer seu [de Zagallo] discurso antes do momento adequado”, disse Feller ao cliente quando o orientou que parasse de responder.

Minutos antes da interrupção, o estudante dissera que não via quem fosse capaz de cometer os crimes contra Alessandra e Luiz Carlos, os quais descreveu como “um casal parceiro, companheiro. Eles não gostavam de brigas, eram bem pacíficos”.

Réu rechaça ligação de vítimas com tráfico

“Não existe ninguém que seja capaz de fazer uma maldade tão grande”, disse, referindo-se às vítimas e a si próprio, uma vez que alega inocência. “Antes de tudo isso acontecer, achei que todo mundo gostasse do papai”, reforçou. À madrasta, refere-se como “Lelê”, apesar de ser alertado pelo juiz, no início do interrogatório, para que dissesse o nome da vítima, não o apelido.

Rugai também foi perguntado sobre uma eventual ligação do pai e da madrasta com tráfico de drogas, como sugerido pela defesa durante a semana. Foi taxativo: “Claro que não. Nem papai, nem Alessandra”, declarou.

As insinuações haviam sido feitas pela defesa após depoimento de Alberto Bazaia Neto, instrutor de voo do empresário assassinado. A família de Bazaia Neto é proprietária de um imóvel alugado em Itu (SP) no qual teriam sido descobertos centenas de quilos de cocaína, anos atrás.

Bazaia Neto dissera ao júri na terça-feira (19), como testemunha da acusação, que Luiz Carlos relatara a ele, dias antes de ser morto, que teria medo do filho depois de descobrir que Rugai o estaria roubando por meio de desfalques em sua produtora. O réu negou hoje essa possibilidade.

 

Entenda o caso

Gil Rugai é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, na zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O jovem estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos. Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.