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Irmão de Gil Rugai é 1º testemunha dispensada pelo juiz sem perguntas da promotoria

Ana Paula da Rocha e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/02/2013 21h11Atualizada em 20/02/2013 22h25

O massagista Léo Rugai, irmão de Gil Rugai, 29, foi a primeira testemunha do júri popular a ser dispensada sem ser inquirida pela acusação. Nesta quarta-feira (20), ele foi a 12ª testemunha a depor no julgamento.

Durante cerca de duas horas, ele alegou a inocência do irmão. O juiz Adílson Simoni passou a palavra para o promotor do caso, Rogério Zagallo, mas tanto ele quanto seu assistente, Ubirajara Mangini, dispensaram a testemunha.

Em entrevista dada à imprensa após o fim da sessão, o assistente de acusação, Ubirajara Mangini, disse que a promotoria optou por não inquirir o réu em respeito ao sentimento dele e porque perceberam que ele não tinha conhecimento dos autos do processo. "Não ia adiantar nada tentar fazê-lo responder algo diferente disso. A única certeza que eu tenho é que ele não estava na cena do crime", afirmou.

"Antes de mais nada, ele é filho da vítima e deve ser respeitado como tal", disse o advogado de defesa, Thiago Anastácio, sobre Léo Rugai. "Foi a única pessoa que testemunhou sobre o relacionamento de Gil com o pai, e talvez seja a pessoa mais habilitada a fazer isso", afirmou. Ele também citou que a decisão de o promotor não inquirir o irmão do réu revela o “cansaço que começou a tomar conta de todo mundo”. “A oitiva do Léo Rugai é importante porque ele não é só irmão do Gil, e creio que isso deve ter peso não só para tentar sensibilizar o júri, mas para concretizar algo que já era muito falado: que a família tem certeza de que ele é inocente”, avaliou.

A sessão de hoje foi encerrada e deve ser retomada às 9h desta quinta-feira (21). Amanhã, duas testemunhas arroladas pelo juiz ainda devem ser ouvidas --uma delas é o sócio de Gil Rugai. Só então o réu será interrogado pela defesa, promotoria e o magistrado. Após a fala de Gil Rugai, começa a fase de debates entre acusação e defesa, e só depois disso os jurados vão a uma sala para decidir se o réu é culpado ou inocente.

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado dos assassinatos do pai Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, na casa do casal, no bairro de Perdizes (zona oeste de SP), em 28 de março de 2004.

Desistência tem forte simbologia

Para o criminalista Luiz Flávio Gomes, que acompanha o júri desde o início, na última segunda-feira (18), a não inquirição de Léo Rugai por parte da acusação traz consigo “uma simbologia forte aos jurados” do caso.

“Isso mostra que o promotor perdeu um pouco a força acusatória, está cansado, tanto que teve hoje um desconforto, queda de pressão --isso pesa um pouco na decisão [de não interpelar a testemunha]”, afirmou Gomes. Horas antes, em plenário, durante a oitiva do perito Ricardo Salada, o promotor havia comentado, aparentando abatimento e ao microfone, que não estava se sentido muito bem.

Na opinião do especialista, no entanto, a desistência da acusação pode significar também resguardo para o dia de amanhã, interrogatório do réu, e para o debate final. “Os debates orais é que serão decisivos”, classificou Gomes.

Depoimento

Durante seu depoimento, Léo Rugai disse que "era bastante comum" o irmão ser demitido e readmitido pelo pai da empresa Referência Filmes, da qual Luiz Carlos Rugai era dono e acredita na inocência do réu. O rapaz disse ao juiz não saber, entretanto, se havia ocorrido alguma briga entre o pai e o irmão próximo à data do crime.

Segundo Léo, a sua última conversa com o pai havia sido na sexta-feira anterior aos assassinatos, data em que, não soube explicar o motivo, o irmão não estaria na produtora, onde conversou com o pai. Ele disse ainda que nenhum dos dois comentou sobre problemas na empresa, desfalque ou demissão de Gil Rugai. O irmão do réu também disse que o relacionamento entre Gil, o pai e a madrasta era bom.

“Ele é um figurinha”, assim Léo também definiu o irmão quando questionado pela defesa sobre o comportamento do réu. Disse que desde pequenos era comum eles brincarem com armas de plástico.

Léo disse ter certeza de que o irmão não é responsável pelo crime e que não questionou sobre o que o irmão teria feito na noite em que o pai e a madrasta foram mortos. “Foi mais uma coisa de olhar no olho e questionar. Eu conheço ele e acredito nele", falou.

Mudanças de cidade

Léo Rugai disse que ajudou o irmão a bancar um aluguel em Santa Maria (cidade a 301 km de Porto Alegre), para onde ele foi, “fugindo da imprensa, agressiva”, fazer cursinho e prestar vestibular. Conforme o jovem, o irmão não terminou nenhum dos três cursos superiores iniciados antes do crime --filosofia, direito e teologia-- e apenas teria manifestado intenção de frequentar um seminário, mas mudou de planos.

Em Santa Maria, aonde disse nunca ter ido, a testemunha alega que era fiadora do imóvel alugado pelo irmão e dividido como república. Dois anos mais novo que o irmão, que tem 29 anos, Léo Rugai disse atualmente Gil mora com a avó, “bastante idosa, e que precisa dos cuidados dele”.

O estudante chegou a morar no Rio de Janeiro por um tempo, também, segundo o irmão, “para estudar”, mas não soube precisar o ano nem o período. “Acho que foi em 2011, não sei. Talvez duas semanas, não tenho certeza”, respondeu, indagado pelo magistrado sobre a presença na capital fluminense.

Por fim, nas questões colocadas pelo juiz, a testemunha disse desconhecer quem poderia ter matado o pai e a madrasta, bem como que motivos haveria para os dois assassinatos.

Drogas e armas

A testemunha disse que trabalhava com o pai, aos 17 anos, época em que deixou a casa da mãe e foi morar com um amigo. Nesse período, relatou, se viciou em cocaína e foi demitido. Tempos depois, admitiu, o progenitor descobriu que ele possuía uma arma, a tomou e só a devolveu tempos depois.

O uso de drogas foi superado, afirmou, graças a ajuda da família e de amigos e ao envolvimento com terapias alternativas e massagem --atividade que exerce até hoje.

Segundo a testemunha, o empresário também possuía uma arma --uma escopeta que, segundo ele, ficava guardada em um barco que ele tinha há anos em Angra dos Reis (RJ).

O empresário, diz o filho, costumava passar "longos períodos longe da empresa" --participara do Rally dos Sertões, por exemplo, período em que teria se ausentado da produtora durante cerca de um mês.