Maioria das escolas reabre após 3º dia de trégua na Rocinha; UPA continua fechada
Escolas situadas na região da Rocinha, favela da zona sul do Rio que tem sido palco de confrontos armados, começaram a reabrir nesta quarta-feira (27), cinco dias depois de um cerco militar feito pela PM e pelas Forças Armadas para acabar com uma disputa entre grupos rivais pelo comando do tráfico de drogas. Há pelo menos três dias, a comunidade não tem registros de confrontos armados intensos, segundo a polícia.
Dos 3.344 alunos que estavam sem aula desde segunda (25), 2.527 retomaram as atividades normalmente nesta manhã. No entanto, dois colégios, totalizando 817 estudantes, ainda continuam fechados.
A UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Rocinha, localizada entre as ruas 1 e 2 --a unidade de saúde mais próxima para os moradores--, continua fechada por medida de segurança. O atendimento foi redirecionado para a Clínica da Família Rinaldo de Lamare (plantão diurno), na estrada da Gávea, e para o Hospital Municipal Rocha Maia (plantão noturno), em Botafogo, a mais de 10 km da favela.
Policiais do Batalhão de Choque da PM, com apoio de homens do Exército, realizam nesta manhã uma incursão pelo alto da Rocinha a fim de localizar armas, drogas e prender criminosos. Até o momento, não há registro de tiroteio na região. O BAC (Batalhão de Ações com Cães) age no Vidigal, favela vizinha à Rocinha.
Segundo o secretário de Segurança, Roberto Sá, a operação na Rocinha acontece por tempo indeterminado.
A situação é completamente diferente da semana passada, quando os conflitos ocorreram com frequência diária em razão da briga entre traficantes rivais e dos confrontos envolvendo suspeitos e policiais. O embate deixou ao menos quatro mortos na Rocinha e outros três na região da Tijuca, após a fuga dos criminosos pela mata.
Moradores reclamam de transtornos
Para moradores, a presença do Exército nas principais ruas, bloqueando em especial parte do trânsito na estrada da Gávea, não se justifica. Com os tanques, ônibus e vans não conseguem manobrar na via; há ainda um bloqueio próximo à passarela, obrigando os moradores a darem uma volta maior para acessarem a favela. Desde a semana passada, ônibus e transporte escolar não passam por dentro da comunidade.
Presidente da associação de moradores, Carlos Eduardo Barbosa lembrou ontem, durante reunião na comunidade, a possível instauração de medida judicial para inspecionar casas coletivamente. Para ele, a autorização da Justiça não se faz necessária, porque casas já foram invadidas. Moradores denunciaram no fim de semana que policiais em busca de traficantes arrombaram suas casas.
"Recebemos relatos de comerciantes que tiveram mercadorias roubadas, de moradores com as casas invadidas... A Rocinha não está em guerra, esse cerco, o que estão fazendo com a gente é covardia."
Durante o fim de semana, o secretário de Segurança, Roberto Sá, disse que um mandado de busca coletivo estava em elaboração e seria apresentado no momento oportuno.
O comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, major Cunha Neves, defendeu a ação da polícia e dos militares e disse que é preciso levar em conta que há dois grupos de traficantes em guerra. "Não cobro que tomem partido contra o tráfico, sei que é difícil para quem mora aqui. Mas não venham defendê-los. Esses que queimam pessoas em pneus não são os bonzinhos."
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