Elas são vítimas da violência no Rio
Desde o começo de 2017, ao menos 12 crianças morreram vítimas de balas perdidas e disparos de armas de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro; em 2018, já foram dois casos.
As mortes cresceram com o aumento da criminalidade no Estado --2017 teve o maior número de casos de letalidade violenta nos últimos oito anos--, e se concentram majoritariamente na zona norte carioca e na Baixada Fluminense.
Há casos dentro de escolas, como o de Maria Eduarda, 13, e mesmo de crianças atingidas em casa, como Vitor Gabriel, 3, baleado enquanto brincava com os irmãos no sofá.
E a estatística não dá sinais de reversão. Nesta quarta-feira (7) à noite, uma criança de quatro anos foi atingida por uma bala perdida na Favela da Linha, no bairro Rio do Ouro, em São Gonçalo, na região metropolitana. João Pedro Soares da Costa foi baleado nas costas quando estava a caminho da igreja com o pai.
A menina Sofia Lara Braga, de dois anos e sete meses, brincava no espaço infantil de uma lanchonete em Irajá, na zona norte do Rio, em janeiro de 2017, quando policiais e suspeitos trocaram tiros no local.
Atingida na cabeça por uma bala perdida, chegou sem vida ao hospital.
Sofia era filha de um policial militar, o soldado Felipe Fernandes. Com o 13º de 2016 e o salário atrasados, ele pediu ajuda aos amigos e familiares para comprar o presente de Natal dela, um patinete do filme "Frozen".
A menina já tinha a festa de aniversário de três anos planejada. Teria como o tema a personagem Minnie, da Disney,
Em fevereiro, Fernanda Adriana Caparica Pinheiro, 7, foi atingida no tórax enquanto brincava no terraço de sua casa no Parque União, parte do Complexo da Maré, também na zona norte por volta das 20h.
De acordo com a Polícia Militar, não havia operação da corporação no momento. A suspeita é de que ela foi atingida durante troca de tiros entre criminosos de facções rivais que disputam o tráfico de drogas na região.
A família diz que Fernanda era vaidosa e gostava de se vestir de princesa. A menina foi enterrada com um vestido rosa, presente da madrinha, que seria usado em sua primeira comunhão.
A morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, chocou por mostrar que nem mesmo escolas estão a salvo da rotina de violência no Rio. Em março do ano passado, ela bebia água em um bebedouro no intervalo de um treino no pátio da sua escola em Acari, zona norte, quando foi atingida por três tiros de fuzil: dois na cabeça e um no quadril.
Os tiros, parte de um conflito entre PMs e criminosos da região, atravessaram os muros do colégio.
Duda cresceu na favela da Pedreira, parte do Complexo do Chapadão, uma das áreas mais violentas da cidade. Ela sonhava em ser jogadora de basquete e, desde que começou a treinar, passou a colecionar medalhas.
Em abril, Paulo Henrique de Morais, 13, estava a caminho da casa de um vizinho para jogar videogame no Complexo do Alemão, zona norte.
Encurralado em meio a um tiroteio entre PMs e criminosos, acabou atingido por um tiro de fuzil na barriga.
A semana em que Paulo Henrique morreu foi marcada por tiroteios no conjunto de favelas devido a uma operação da PM para instalar uma torre de UPP blindada --além do adolescente, outras quatro pessoas foram vítimas de balas perdidas.
Em protesto, moradores fecharam parte da avenida Brasil.
Em julho, Vanessa Vitória dos Santos, 11, morreu atingida por um tiro na cabeça quando estava dentro de sua casa, na favela Camarista Méier, na zona norte. Policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do local trocavam tiros com suspeitos no momento da morte.
Caçula de três irmãos, ela havia perdido um tio cinco anos antes, também morto por uma bala perdida.
Depois da morte, a família de Vanessa deixou a casa e se mudou para a residência de parentes em outra comunidade. No local, ficaram as marcas dos disparos que atingiram a parede da sala, o sofá, o computador e até uma cortina.
Também em julho, o bebê Arthur Cosme de Melo foi atingido por uma bala perdida ainda no útero da mãe. Claudineia dos Santos Melo, 28, estava na 39ª semana de gestação, quando se viu em meio ao fogo cruzado entre traficantes e policiais em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
Ela havia acabado de comprar um carrinho para o bebê e estava chegando em casa, quando foi atingida na entrada da Favela do Lixão. A bala entrou pelo lado esquerdo de seu quadril e perfurou seu útero, ferindo Arthur.
Após a realização de uma cesárea de emergência, Arthur ainda sobreviveu por alguns dias, mas não resistiu aos ferimentos.
O menino Renan dos Santos Macedo, 8, foi enterrado vestido de Homem Aranha, seu personagem favorito. Foram colocados em seu túmulo sua bola de futebol, uma pipa e seus DVDs favoritos.
Renan foi baleado na cabeça em setembro, quando seu pai tentava escapar de um arrastão no bairro de Gramacho, também em Duque de Caxias. Os dois estavam saindo para passear em um domingo à tarde, quando perceberam que a rua estava fechada por homens armados.
O garoto foi levado ainda com vida para o hospital e chegou a resistir a nove paradas cardíacas, mas morreu um dia depois de ter sido atingido.
O estudante Caíque Lucas Correa, 13, estava dentro de um carro, na porta de uma casa onde ocorria um churrasco em um sábado de madrugada em setembro, em Duque de Caxias, com o pai e dois irmãos, quando foi atingido na cabeça.
Os três esperavam a companheira do pai, quando um atirador passou em outro veículo disparando contra o local. Seu pai, Gustavo da Silva Figueiredo, 34, também morreu. Segundo familiares, os dois irmãos só escaparam porque fingiram estar mortos.
A polícia investiga se o atentado teria ocorrido por conta de uma disputa entre milicianos.
O menino Vitor Gabriel Leite Matheus, 3, brincava com os dois irmãos de sete anos na sala de sua casa em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, em novembro, quando foi atingido por uma bala perdida --o tiro entrou pelo telhado da casa.
O pai da criança disse que ouviu um estrondo e correu, imaginando que uma das crianças tinha caído do sofá. Ele encontrou o filho no chão com a cabeça sangrando.
A família e vizinhos levaram o menino ao Hospital da Posse, unidade conhecida como o "Hospital da Guerra", devido à disparada recente de casos de vítimas de tiros, mas ele não resistiu. Os pais fizeram questão de doar os órgãos do pequeno Vítor, que teve os rins transplantados em outra criança.
Eduardo Henrique de Carvalho, 10, foi morto por uma bala perdida em dezembro. Ele brincava em uma praça em um dos acessos à favela Morro do Juramento, na zona norte da cidade, a 100 m da sua casa e tinha ido ao local para comprar picolé com um amigo.
Os amigos dizem que ele estava ansioso pela festa de fim de ano da escola. No 4º ano, chegou a pegar recuperação e passou com muito esforço.
Sete meses antes, o irmão de Eduardo, de 17 anos, também havia sido morto por uma bala perdida na favela. O Morro do Juramento vive uma guerra entre facções criminosas rivais, que disputam o controle do tráfico de drogas da região.
Nesta semana, Emilly Sofia Neves, 3, foi morta durante uma tentativa de assalto em Anchieta, na zona norte do Rio.
A família havia acabado de sair de uma lanchonete quando bandidos armados com fuzis anunciaram o roubo.
Ela era chamada pela família de Nana. Gostava de rosa e passava os dias repetindo as musiquinhas que aprendia na creche que frequentava.
Além de balearem Emily, os bandidos feriram o padrasto dela, Uesley Neves Lima, 36. A mãe da menina, Maria Auxiliadora, também foi ferida de raspão e deixou o hospital à revelia dos médicos ao saber da morte da filha.
Horas depois, Jeremias Moraes, 13, morreu vítima de uma bala perdida durante tiroteio na comunidade Nova Holanda, no Complexo da Maré.
Em protesto, moradores fecharam brevemente as linhas Vermelha e Amarela e a avenida Brasil, três das principais vias do Rio.
A escola em que Jeremias estudava estava fechada por conta de uma operação da polícia que ocorria desde cedo no conjunto de favelas.
Ele jogava futebol com amigos quando foi atingido no tórax por uma bala perdida, fruto de disparos entre policiais e criminosos. Sonhava em ser missionário.
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