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Ao menos 6 PMs são afastados após excesso de violência no Carnaval de SP

PMs usam bombas de gás e tiros de borracha contra foliões na Barra Funda, em SP - Reprodução
PMs usam bombas de gás e tiros de borracha contra foliões na Barra Funda, em SP Imagem: Reprodução

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

09/03/2019 04h00

Policiais militares que atuaram em três ocorrências diferentes foram afastados pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo por excesso de violência durante o Carnaval do estado de São Paulo, entre sexta-feira (1) e a última quarta (6).

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar os casos e que os militares envolvidos foram afastados do serviço das ruas. Dependendo da gravidade do caso, o afastamento de um policial o leva a apenas cumprir trabalhos administrativos. 

"Não tenho cerimônia em quebrar a cara de mulher, não"

Uma das acusações de excesso de violência ocorreu na operação policial de terça-feira (5) para dispersar foliões do bloco Agora Vai, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, que já tinha acabado antes mesmo de a polícia aparecer. 

Segundo Thais Campos, este seria o policial militar que a teria ameaçado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Segundo Thais Campos, este seria o policial militar que teria a ameaçado
Imagem: Arquivo pessoal

Vídeos mostram que os policiais militares chegaram à rua João de Barros quando apenas alguns foliões permaneciam nos bares da rua. Com bombas de gás lacrimogêneo até dentro de um bar e tiros de bala de borracha, a PM deixou ao menos três pessoas feridas, de acordo com o relato de testemunhas. 

PM usa bombas e balas de borracha contra foliões na Barra Funda

UOL Notícias

Thais Campos, 36, e seu namorado foram dois dos atingidos pelos tiros de borracha. Ao UOL, Campos contou que após tentarem dialogar com os policiais e receberem spray e tiros de borracha, tentaram registrar um boletim de ocorrência numa delegacia próxima ao local. 

"Chegando lá, um guarda começou a discutir com a gente assumindo que tinha sido ele quem atirou na gente. A gente estava parado falando com ele, e do nada ele disse para eu não levantar o dedo e que não tinha problema em estourar a cara de mulher", conta a atriz. 

Thais gravou o momento em que o policial, exaltado, disse: "Aponta o dedinho não, se aproxima não. Você vai tomar um atropelo aqui, estou falando para você, toma distância. Não tenho nenhuma cerimônia em quebrar cara de mulher, não. Você presta atenção." Ouça a gravação:

"Não tenho cerimônia em quebrar a cara de mulher", diz PM

UOL Notícias

Segundo a SSP, o policial que fez essas afirmações foi afastado do trabalho operacional. A Secretaria informou ainda que a Corregedoria acompanha a investigação de sua conduta. A pasta afirmou que "não compactua com eventuais desvios de conduta de seus agentes". 

Em entrevista coletiva na quinta (7), o governador João Doria (PSDB) afirmou, em relação à operação, que a PM agiu corretamente "sem nenhuma violência, usando instrumentos que o protocolo estabelece. O que errou foi uma ameaça feita no posto policial". 

Ontem, Doria recuou e reconheceu que houve "excesso" por parte dos policiais na ação.

Braço quebrado dentro da delegacia 

A PM informou que também afastou os agentes envolvidos no caso do advogado Geovani Doratiotto, que teve seu braço quebrado por um militar dentro de uma delegacia após confusão em um bloco de carnaval no domingo (3).

Vídeo mostra PM quebrando braço de homem dentro da delegacia

UOL Notícias

Pelos menos quatro policiais, militares e civis, foram afastados do serviço de patrulhamento, de acordo com Benedito Mariano, ouvidor das polícias de São Paulo. De acordo com a SSP, Doratiotto foi levado à delegacia após agredir pessoas em uma praça de Atibaia.

Doratiotto, que é presidente municipal do PT (Partido dos Trabalhadores) de Atibaia, vestia uma camisa branca com a foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os dizeres "Lula Livre!".

Numa rede social, sua esposa disse que, antes de irem à delegacia, ele foi hostilizado por pessoas na praça e levou um soco na cara por estar usando a camiseta de Lula. 

Morte após intervenção em briga

Gabriel Henrique Alves Galhardo, 16, morreu na noite de terça-feira (5) após uma intervenção da polícia militar no final de um bloco no Carnaval de São Luiz do Paraitinga, que fica a 182 quilômetros de São Paulo. 

Gabriel Galhardo, de 16 anos, morreu após intervenção da Polícia Militar para separar uma briga - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Gabriel Galhardo, 16, morreu após intervenção da Polícia Militar
Imagem: Reprodução/Facebook

Uma briga teve início, por volta das 23h, em uma praça no centro da cidade. Testemunhas relataram à Polícia Civil que a PM interveio para conter o tumulto, e que Gabriel foi agredido pelos policiais com um cassetete. Ao cair, ele teria batido a cabeça no meio-fio, mas morreu ao chegar no hospital. 

Segundo apuração da reportagem com a Corregedoria, que investiga o caso, um policial militar que teria agredido o garoto foi afastado. A SSP diz que a delegacia de São Luiz do Paraitinga instaurou inquérito policial e que o caso foi registrado como "morte suspeita". Perícia será realizada e testemunhas serão ouvidas, ainda segundo a pasta.

Após os casos de violência, o Fórum de Blocos de Carnaval de Rua criticou a atuação da PM no Carnaval.

"É incompreensível que a mesma PM que ajudou em tantos blocos ao longo desse carnaval seja personagem de cenas tão destoantes do espírito democrático e pacífico que reinou ao longo dos dias de festa", diz a entidade.