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Autores do massacre de Suzano se organizaram no Facebook, diz investigação

13.mar.2019 - Momento em que um dos assassinos inicia os disparos na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano - Reprodução/TV UOL
13.mar.2019 - Momento em que um dos assassinos inicia os disparos na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano Imagem: Reprodução/TV UOL

Luís Adorno

Do UOL, em Suzano

14/03/2019 13h05Atualizada em 14/03/2019 17h32

Resumo da notícia

  • Investigação aponta Facebook como canal de comunicação dos atiradores
  • Fórum de ódio na internet repercutiu ataque em Suzano e citou assassinos
  • Polícia apreende computadores em lan house frequentada pelos criminosos

Cerca de 25 investigadores da Polícia Civil que atuam em Suzano, na Grande São Paulo, se alternaram para apurar, durante as últimas 24 horas, os motivos pelos quais dois atiradores mataram oito pessoas, sendo sete dentro de uma escola da cidade ontem. O caso é investigado pela delegacia seccional do município com apoio de agentes da capital e da cidade de Mogi das Cruzes.

Facebook como canal de comunicação

Uma das linhas de investigação atua sobre redes sociais e páginas de internet. Policiais entrevistados pelo UOL hoje afirmaram que os dois assassinos combinaram o ataque, nos últimos meses, através de mensagens diretas pelo Facebook. Eles teriam organizado a logística e a dinâmica de como agiriam, mas não teriam escolhido perfis semelhantes para serem as vítimas.

No diálogo via Facebook, segundo os investigadores, os jovens disseram que alugariam um carro e que se vingariam de pessoas que lhes fizeram mal. A mãe do mais novo afirmou, ontem, que ele sofria bullying na escola. A principal tese da polícia, nessas primeiras horas de investigação, é de que o crime, premeditado, foi motivado por raiva.

Os investigadores afirmaram à reportagem que não poderiam informar o conteúdo das mensagens porque a investigação é realizada em sigilo. Os dois, amigos de infância e vizinhos, gostavam de jogos na internet considerados violentos e declaravam amor a armas de fogo.

Equipes policiais foram às residências dos autores e a uma lan house onde os jovens costumavam se encontrar. Lá, apreenderam computadores, tablets e anotações.

"Fórum de ódio" na internet

Frequentadores de um fórum anônimo na internet, utilizado para disseminar ódio, elogiaram a ação dos atiradores e os chamaram de heróis. Chegaram à polícia informações de que a dupla teria ido ao fórum para pedir ajuda sobre como cometer o crime, mas, segundo os policiais, a investigação não apontou para isso.

A reportagem analisou, entre ontem e hoje, 14 páginas do fórum em questão. Nela, há elogios a vários crimes de feminicídio, homicídios de negros e violência policial. Segundo os investigadores, a motivação aparentemente não surgiu dali porque os dois atiraram a esmo dentro da escola, não elegendo negros e mulheres como os principais alvos (como ocorre no fórum).

Perfil agressivo, diz professora

Enquanto a reportagem estava na delegacia de Suzano, uma professora da escola chegou ao plantão do distrito policial se apresentando e dizendo querer colaborar com a investigação. Ela não quis revelar seu nome à reportagem, mas disse que o atirador mais novo afirmou, ao ser expulso da escola, ano passado, que iria se vingar. Ela disse, ainda, que ele teve de sair da escola por seu perfil agressivo.

Das cinco crianças assassinadas, todas eram meninos, de 15 a 17 anos. Além dessas vítimas, os atiradores Guilherme Monteiro, 17, e Luiz de Castro, 25, mataram duas funcionárias da escola, de 38 e de 59 anos, além um dono de uma loja de carros, de 51 anos, que era tio do atirador mais novo.

De acordo com a Polícia Civil, um amigo dos atiradores, que prestou um dos 16 depoimentos na delegacia ontem, afirmou que eles disseram que fariam o ataque um ano e meio atrás, mas que não sentiu firmeza nas palavras. Os investigadores disseram que o planejamento estruturado para o crime ocorreu nos últimos meses.

Tio teria sido queima de arquivo

Outra linha de investigação aponta que Jorge Morais, 51, tio de Guilherme, foi morto pelo sobrinho porque descobriu o plano da dupla, sendo vítima, assim, de uma queima de arquivo do plano. Uma terceira hipótese seria de que o tio teria dado uma bronca nele, que ele não gostou, e resolveu se vingar.

Além dos 10 mortos, outras 11 pessoas permanecem internadas. O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo convocou à imprensa para o fim da tarde de hoje para prestar mais esclarecimentos sobre o crime.