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Doria homenageia PMs, e Ouvidoria e Corregedoria apuram ação em Campinas

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

17/10/2019 19h11Atualizada em 18/10/2019 18h25

Resumo da notícia

  • Assalto no aeroporto de Viracopos terminou com 3 suspeitos mortos pela polícia
  • Órgãos fiscalizadores da polícia vão apurar se houve algum tipo de excesso na ação
  • Governador de SP foi a Campinas cumprimentar os policiais
  • Para comandante da PM, ocorrência foi gravíssima e houve resposta à altura

Os dois órgãos fiscalizadores da Polícia Militar de São Paulo —a Ouvidoria das polícias e a Corregedoria da PM— vão apurar se houve algum tipo de excesso na ação policial que terminou com três criminosos mortos hoje, em Campinas, após assaltarem o aeroporto internacional de Viracopos.

A ação dos órgãos da Ouvidoria e da Corregedoria é padrão e costuma ocorrer sempre que há morte decorrente de intervenção policial. A partir de laudos e de investigações, a Ouvidoria e a Corregedoria podem apontar se houve ou não ilegalidade nas ações policiais.

"Vamos instaurar procedimento para acompanhar, sim. Foi uma ocorrência complexa de enfrentamento a uma quadrilha organizada. Vou solicitar os laudos para, a partir deles, me manifestar se houve ou não ilegalidade", afirmou Benedito Mariano, ouvidor das polícias.

O corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes, confirmou que o órgão vai apurar as ocorrências de Campinas. "Assim como todas as MDIPs [morte decorrente de intervenção policial] de até 100 km de distância da capital, além de algumas que ultrapassam essa quilometragem pela complexidade", disse.

Bandidos foram para o cemitério, diz Doria ao elogiar PMs em Campinas

UOL Notícias

Enquanto ainda não há informações técnicas sobre a ação policial de hoje, o governador João Doria (PSDB) foi até Campinas, no fim da tarde, com o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, e o comandante da corporação, coronel Marcelo Vieira Salles, para parabenizar os PMs.

Doria foi à sede do 1º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) "para cumprimentar os policiais que participaram da ação contra criminosos que realizaram um assalto dentro do aeroporto de Viracopos hoje pela manhã, seguido de sequestro", informou a assessoria de imprensa do governador.

Policiais do Gate em frente à casa onde criminoso fez mulher e bebê refém, em Campinas (SP) - Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo - Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo
Policiais do Gate em frente à casa onde criminoso fez mulher e bebê refém, em Campinas (SP)
Imagem: Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo

"A equipe do Baep de Campinas, e de outros batalhões, deu uma demonstração clara de eficiência, precisão, destemor, coragem, atitude e ação. Por isso, tomei a iniciativa de vir aqui cumprimentar vocês", afirmou Doria no batalhão.

Os bandidos estão mortos. Os inocentes estão vivos. Quem reagiu perdeu.
Governador João Doria

Ainda de acordo com Doria, "entre a vida do bandido e a vida do policial, o governo de São Paulo e seu governador fica com a vida do policial. E quem vai para o cemitério é o bandido".

A caminho de Campinas, o comandante da PM afirmou ao UOL que "foi uma ocorrência gravíssima e com infratores da lei fortemente armados, porém houve resposta à altura da gravidade. Enfrentar a polícia é um risco e um risco mal calculado".

Esta não é a primeira vez que Doria elogia PMs envolvidos em ocorrências com mortes. Em uma ação de abril deste ano, em que policiais militares mataram 11 suspeitos de participar de uma tentativa de assalto a banco na cidade de Guararema, o governador homenageou os PMs envolvidos na ocorrência em um evento no Palácio dos Bandeirantes.

17.out.2019 - Arma de calibre .50 apreendida após assalto em Viracopos, Campinas (SP) - Polícia Civil/Divulgação - Polícia Civil/Divulgação
17.out.2019 - Arma de calibre .50 apreendida após assalto em Viracopos, Campinas (SP)
Imagem: Polícia Civil/Divulgação

Relatório da Ouvidoria das polícias apontou, porém, que, em ao menos quatro mortes daquela ocorrência, os suspeitos já estariam rendidos. Em coletiva de imprensa em que afirmou que reduzir a letalidade policial "não é obrigatoriedade", Doria não deu créditos à Ouvidoria: "a ação de Guararema não foi ilegal", afirmou.

Oficialmente, a Polícia Militar considera como negativas ocorrências que terminam em morte, seja de suspeitos ou de policiais. Dados dos Instituto Sou da Paz apontam que uma a cada três pessoas mortas na capital paulista, no entanto, têm como autor do crime um policial, militar ou civil.

Para o professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, "casos como este [de Campinas] mostram que a realidade da segurança pública em São Paulo é bem diferente do que a apresentada nas propagandas milionárias do governo do estado. É preciso recuperar a capacidade de ação e de investigação da polícia para que as quadrilhas sejam desbaratadas".