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Assalto em Viracopos tem reféns, mortos e baleados, diz PM

Luís Adorno, Patrick Mesquita e Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

17/10/2019 10h56Atualizada em 17/10/2019 17h02

Resumo da notícia

  • Assalto em Viracopos tem três suspeitos mortos e quatro pessoas baleadas
  • Um mulher e uma criança foram feitas reféns, mas foram liberadas
  • A mãe, dois seguranças e um policial foram baleados
  • Perseguição teve troca de tiros entre bandidos e forças de segurança

A ação de um grupo de criminosos que assaltou o aeroporto internacional de Viracopos, em Campinas (99 km de SP), na manhã de hoje, deixou três suspeitos mortos e dois vigilantes e um policial baleados, segundo a PM (Polícia Militar). Na fuga, um dos suspeitos invadiu uma casa e fez uma mulher, de 37 anos, e uma criança, de 10 meses, de reféns. Ele foi morto por um sniper e as duas foram liberadas. A mulher também foi baleada.

Ao todo, a quadrilha tinha 12 criminosos. Os outros nove são procurados. Eles interceptaram, no pátio interno do terminal de cargas do aeroporto, um contêiner que carregava malotes de dinheiro e que iria ser levado para um avião da transportadora UPS.

Não se sabe o valor, mas parte do dinheiro já foi encontrada pelos policiais em um caminhão de lixo. As polícias Civil e Federal fazem a investigação e Polícia Militar atua na busca pelos bandidos.

Após o roubo, houve perseguição. Para tentar fugir da polícia, os criminosos incendiaram duas carretas para fechar os dois sentidos da rodovia Santos Dumont na altura do km 68. Um terceiro veículo foi posicionado para interditar uma pista marginal paralela, que dá acesso a um bairro próximo ao aeroporto. A via já foi liberada.

Transito queimado - WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Rodovia Santos Dumont ficou fechada por caminhões queimados pelos criminosos
Imagem: WAGNER SOUZA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Suspeito faz mãe e bebê de reféns

De acordo com a PM, na fuga, três suspeitos de participar do roubo entraram na rua Sócrates, em Campinas. Dois deles foram até uma casa onde um serralheiro arrumava um portão. O homem fugiu e os dois suspeitos foram mortos pela polícia, que disse que houve troca de tiros.

O terceiro suspeito entrou em outra casa, onde fez a mulher e o bebê de reféns. Armado, ele ligou para o 190, informou que estava com as vítimas e pediu que a imprensa fosse ao local.

Depois de duas horas, o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) informou que o criminoso foi morto após ser atingido por um tiro disparado por um sniper. A criança deixou a casa no colo de uma policial militar.

O coronel Luiz Augusto Pacheco Ambar, comandante do Gate, afirmou que "as negociações caminhavam muito bem, até que o meliante, com a arma na cabeça da refém, que tinha a filha no colo, se aproximou da porta e aumentou a agressividade de forma desconhecida".

Policiais do Gate em frente à casa onde criminoso fez mulher e bebê refém, em Campinas (SP) - Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo - Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo
Policiais do Gate em frente à casa onde criminoso fez mulher e bebê refém, em Campinas (SP)
Imagem: Luciano Claudino/Código 19/Estadão Conteúdo

"Então, o sniper, que estava posicionado do outro lado da rua, efetuou um disparo, um tiro de comprometimento, e a equipe tática fez a invasão. Estão salvas as duas vítimas. A criança saiu no colo, bem. E a mãe saiu com um ferimento leve na nádega esquerda e foi socorrida", declarou.

A mãe, de 37 anos, levou um tiro na lombar. Ela entrou no hospital PUC-Campinas às 14h32 e, desde então, passa por cirurgia. Não há informações sobre o estado de saúde dela nem quem disparou o tirou que a atingiu.

A advogada Alessandra Martins Gonçalves Jirardi afirmou que saiu de São Paulo e foi até Campinas representar o suspeito e negociar, junto à polícia, sua entrega. Ela não revelou o nome de seu cliente, mas afirmou que ele confirmou a participação no assalto e que disse a ela que tinha a intenção de se entregar.

Seguranças e PM são baleados

No aeroporto, houve intenso tiroteio. De acordo com da Polícia Federal, dois seguranças da empresa privada de valores Brink's foram baleados (um na perna e outro na orelha). Eles foram socorridos imediatamente, mas não há informações sobre o estado de saúde deles.

Em nota, a Brink's informou "que está colaborando com as autoridades competentes para apuração do ocorrido" e que "a empresa está prestando toda assistência aos funcionários envolvidos no caso".

17.out.2019 - Arma de calibre .50 apreendida após assalto em Viracopos, Campinas (SP) - Polícia Civil/Divulgação - Polícia Civil/Divulgação
17.out.2019 - Arma de calibre .50 apreendida após assalto em Viracopos, Campinas (SP)
Imagem: Polícia Civil/Divulgação

O comandante da PM, coronel Marcelo Vieira Salles afirmou que os criminosos estavam munidos com metralhadoras .50, submetralhadoras, fuzis, capacetes e coletes tentaram.

"Depois [do confronto que deixou os vigilantes feridos], houve um segundo confronto com a PM. O major Moreira, subcomandante da PM em Campinas, foi ferido a tiro e está em cirurgia em Campinas", disse. Também não há informação sobre o estado de saúde dele.

O assalto fez com que o Aeroporto de Viracopos ficasse fechado para pouso e decolagem por 20 minutos. A situação já foi normalizada.

Como foi o roubo

Para chegar até o local do roubo, os criminosos utilizaram, pelo menos, dois carros no perímetro do aeroporto. Os outros dois estavam mais afastados, para auxiliar na fuga, segundo as primeiras informações. Os carros que estavam no perímetro do roubo estavam clonados, com adesivos da Aeronáutica.

Os criminosos teriam rendido uma viatura da Polícia Civil e uma equipe da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e utilizavam, pelo menos quatro carros: Tiguan preto, Tucson preto, Amarok branco e Cruze branco.

Carro clonado em assalto a Viracopos - Reprodução/Arquivo Pessoal  - Reprodução/Arquivo Pessoal
Carro clonado usado pelos criminosos
Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Por meio de nota, a Aeroportos Brasil Viracopos S.A informou que o assalto ocorreu por volta das 9h50.

"A quadrilha acessou o Terminal de Carga pelo portão E24, usando duas caminhonetes semelhantes a veículos da Aeronáutica. Esses veículos tiveram os pneus dilacerados na entrada do portão, mesmo assim, seguiram até o pátio do Terminal de Carga e fizeram o assalto portando forte armamento".

De acordo com a nota da concessionária, a quadrilha fugiu utilizando duas caminhonetes que aguardavam do lado de fora. "Mesmo não tendo ocorrido nenhuma ação no Terminal de Passageiros, foi necessário passar os passageiros que estavam embarcando por nova inspeção de Raio X por questões de segurança", complementou.

Segundo assalto em menos de dois anos

Em março de 2018, a mesma empresa de transporte de valores foi assaltada em Viracopos. À época, foram roubados US$ 5 milhões —equivalentes a R$ 16,5 milhões à época—, que seriam levados para a Suíça. Ao menos cinco homens armados com fuzis invadiram a pista do aeroporto na noite de um domingo. Até hoje, nenhum suspeito foi identificado.

Já em julho deste ano, outro assalto semelhante ocorreu no aeroporto internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Foram roubados 720 quilos de ouro, com valor estimado em R$ 120 milhões, de uma empresa de transporte de valores. O ouro nunca foi identificado. Ao menos quatro suspeitos foram presos.

Para o professor de gestão pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, "casos como este mostram que a realidade da segurança pública em São Paulo é bem diferente do que a apresentada nas propagandas milionárias do governo do estado. É preciso recuperar a capacidade de ação e de investigação da polícia para que as quadrilhas sejam desbaratadas".

O governador João Doria (PSDB) afirmou na tarde de hoje que a responsabilidade sobre a segurança no aeroporto é do governo federal. "Os aeroportos de Viracopos, Congonhas e Guarulhos são de administração federal. A invasão feita às áreas restritas do aeroporto foi com equipamentos e veículos logotipados com a marca da Polícia Federal, e com acesso feito, a meu ver, de maneira bastante facilitada, vamos dizer assim, e que precisa ser investigado", disse.

"O que não pode é os aeroportos de administração federal terem essa vulnerabilidade, sobretudo mo momento em que transportam cargas de valor. Então, cabe também perguntar ao governo federal quais a medidas que, no âmbito dos aeroportos, fará para aumentar a proteção aos usuários, aos frequentadores e também àqueles que o utilizam para transporte de cargas", complementou.

A Fenaval (Federação Nacional das Empresas de Transporte de Valores) enviou à reportagem uma nota informando que "vai dialogar com as autoridades competentes para que sejam analisadas medidas que ampliem a segurança e vigilância do transporte de cargas em ambientes controlados, como é o caso de aeroportos". Segundo a Fenaval, entre 2016 e 2019, houve 11 roubos consumados e outras três tentativas de roubos em aeroportos do país.