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Preso, chefe do PCC conduz homicídio por telefone: "mata bem matado"; ouça

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

28/11/2019 17h34

Resumo da notícia

  • Alvo de megaoperação ontem, Maré Alta comanda "tribunais do crime"
  • Interceptações telefônicas apontam que ele acompanha crime por telefone
  • Secretário da Segurança de Alagoas relata conflitos entre PCC e CV no estado

"Já vai preparando esse facão aí que, daqui a pouco, nós vamos detonar ele. Grava o vídeo. Pode botar um facão na cabeça dele. Pode detonar a cabeça dele. Só põe um bagulho na boca dele para ele não gritar. Mete o facão, detona esse bicho aí. Na boca do cara para ele não gritar. Põe no viva voz para a gente escutar o bagulho. Mata esse maldito, mata esse maldito. Esse já era, hein, irmão. Mata bem matado, irmão."

As afirmações acima foram ditas por telefone por Marcelo Lima Gomes, o Maré Alta, em 23 de julho deste ano, de dentro do estabelecimento penal Jair Ferreira De Carvalho, a prisão estadual de segurança máxima de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.

Maré Alta determinou e acompanhou por telefone o homicídio de um indivíduo identificado como Scooby. Segundo o MP-AL (Ministério Público de Alagoas), mesmo não sendo alagoano e preso no Centro-Oeste, ele foi escalado para comandar as ações do PCC (Primeiro Comando da Capital) no estado.

O criminoso faz parte dos 110 mandados de prisão expedidos ontem em nove estados do país contra integrantes do PCC. A operação teve início em Alagoas, mas identificou ligações entre criminosos faccionados em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Roraima, Sergipe e Tocantins.

Ao todo, 81 mandados foram cumpridos, sendo que 54 do total já estavam presos por outros crimes. Ainda faltam 29 que estão sendo procurados pelas polícias Civil e Militar dos nove estados envolvidos. A operação teve apoio do Ministério da Justiça, depois de a Promotoria alagoana ter identificado ligações nos outros oito estados.

Maré Alta, que é mencionado pelas autoridades alagoanas como "sucessor de Marcola (Marco Willians Herbas Camacho, principal chefe do PCC)", tem condenações por homicídios, tráfico de drogas e associação criminosa. Apesar de ele ser o principal chefe da facção em Alagoas, a reportagem apurou que ele não integra nenhum grau relevante na cúpula da organização criminosa.

Hamilton Carneiro, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Alagoas, que encabeçou a investigação, apontou à reportagem que foram identificados chefes do PCC em Pernambuco e em Sergipe, por exemplo, que também comandavam a facção presos em outros estados.

"Identificamos gerentes gerais de vários estados, alguns sintonias (que administram a facção) e salveiros, que mandam as mensagens da cúpula. Chamamos esse grupo de 'linha vermelha', responsável por toda a informação do PCC", afirmou.

Em entrevista ao UOL, o secretário da Segurança Pública de Alagoas, Lima Júnior, afirmou que há tensão no estado provocada pelas duas facções presentes no território: a paulista PCC e a fluminense CV (Comando Vermelho). "O PCC atua aqui há bastante tempo, o estado é o quinto com mais membros da facção. A guerra entre as duas é constante e temos diversas operações para combater", disse.

"Temos muito material apreendido na operação e temos que analisá-los com cautela. Ainda há 29 alvos sendo procurados. São 110 mandados. Maré Alta é ligado diretamente ao Marcola. Quem tem esse poder dentro da facção, de mandar matar inimigo e faccionado do PCC é da cúpula", defendeu.

A Promotoria paulista, no entanto, que investiga o PCC há duas décadas, tem outra versão. Normalmente, segundo o órgão, os líderes de cada estado são os responsáveis por coordenar os chamados "tribunais do crime", mas não necessariamente são ligados à cúpula da organização.

Maré Alta deve ser transferido para o sistema penitenciário federal. Os outros alvos da operação devem ter sua situação carcerária analisada individualmente.

Documentário "Primeiro Cartel da Capital"

O selo MOV.doc, destinado a produções documentais do UOL, lançou a série PCC - Primeiro Cartel da Capital. Com direção de João Wainer (diretor dos documentários "Junho - o mês que abalou o Brasil" e "Pixo"), a série de quatro episódios é o resultado de um trabalho minucioso de apuração da equipe de Notícias da maior empresa brasileira de conteúdo, serviços e produtos da internet.

A equipe trabalhou na investigação por seis meses com gravações em São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Rio Branco (AC) e Nápoles (Itália). O resultado é uma grande série documental que busca entender como um grupo de oito detentos se transformou numa facção que hoje tem mais de 33 mil membros e tenta conquistar o monopólio do tráfico de drogas no país.

O documentário tem reportagem, pesquisa e produção dos jornalistas Flávio Costa, Luís Adorno, Aiuri Rebello e Eduardo Militão e apresentação de Débora Lopes.

    • Ouça o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Este e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.