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"Não é só dinheiro, quero apoio da Backer", diz mulher de taxista internado

Josias, a mulher Valdirene e os filhos - Arquivo pessoal
Josias, a mulher Valdirene e os filhos Imagem: Arquivo pessoal

Marcellus Madureira

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

16/01/2020 13h24

No dia 5 de janeiro o taxista Josias Moreira de Matos, 53, abriu uma garrafa da cerveja Belorizontina para saborear. Desde então, sua vida tem sido de fortes dores abdominais, hospitais e problemas na visão.

A suspeita é que Josias tenha ingerido a bebida contaminada com substâncias tóxicas. Ao menos 17 casos são investigados, mas a Secretaria de Estado de Saúde não confirma se o taxista é um deles.

Pelo menos três mortes causadas pela síndrome nefroneural —doença suspeita de estar associada ao consumo da Belorizontina— foram confirmadas. Um quarto caso é investigado.

Profissional autônomo, o taxista e seus familiares dizem que não receberam qualquer ligação da cervejaria Backer, conforme prometido pela diretora de marketing da fabricante, Ana Paula Lebbos, em entrevista coletiva na última terça-feira.

"A Backer não ligou. Eu liguei para a Backer. Liguei, pedi apoio, e falei que a empresa, independentemente de ter sido sabotada ou não, se foi criminoso ou não, isso é irrelevante, precisa dar apoio", disse a esposa do taxista, Valdirene Matos, 42, ao UOL.

"Deram um número lá para a gente ligar, mas não consegui. E hoje [quinta-feira] posso até tentar, mas não sei se vou ter tempo", afirmou.

O pedido de socorro de Valdirene, no entanto, não é apenas por suporte financeiro. Ela conta que os dias têm sido de grande pressão.

Não é só dinheiro. Não estou falando só de mim, estou falando das outras pessoas. A situação é ruim para todo mundo. Estou conversando com meu marido, tem gente que morreu! É uma pressão enorme. Estou sentindo feridas na mão, há alguns anos eu tive isso e era estresse. Agora voltou
Valdirene Matos

"É muita pressão. A Backer poderia dar assistência, eles têm condições para arrumar médicos especializados, para esclarecer tudo para gente. Tenho medo de ele ficar com sequelas."

Josias começou a sentir fortes dores abdominais, não conseguindo trabalhar, um dia após consumir a cerveja.

Valdirene contou que eles foram ao médico e a receita foi um remédio para dor. Mas o quadro piorou e os medicamentos não fizeram efeito.

Água usada em produção de cerveja da Backer está contaminada

Band Notí­cias

Fomos alertados pela internet

Ela então pesquisou na internet e achou relatos de casos parecidos já com a suspeita de relação com o consumo da cerveja. Valdirene disse que, quando Josias disse que teve perda de visão —um dos sintomas da síndrome nefroneural—, decidiu retornar ao médico pela segunda vez.

Desde então, Josias foi internado na UPA Leste, sendo depois transferido para o Hospital Santa Casa.

"Fui alertada pela internet. Fiz pesquisas, quando percebi que os sintomas [do Josias] eram os mesmos [dos relatos na internet] decidi retornar com ele para o hospital. Ele chegou a falar coisas sem sentido, encontrei com meu filho e fomos para o atendimento", disse.

No momento que conversava com a reportagem do UOL, Valdirene recebia a notícia que o marido seria liberado para casa, algo que a assustou. Ela diz ter receio de Josias sentir novamente as dores em casa, como ocorreu na primeira vez. Ela ainda tem dúvidas sobre o futuro.

"Estou por conta no hospital. E as contas estão chegando. Não consigo dormir. Tento dormir e não consigo. É uma tristeza enorme. Estou com receio de, no futuro, ele ter sequelas e não conseguir mais trabalhar. As dívidas estão chegando e não estou dando conta de pagar. Se ele não der conta de trabalhar, não sei como vou fazer. Estou cansada, pressionada, não consigo deixar ele sozinho no hospital e ir trabalhar. É muito complicado", disse.

Procurada, a cervejaria Backer disse que se colocou à disposição para acolher as vítimas. A reportagem fez contato com a assessoria de imprensa e a resposta foi a mesma que tem sido publicada nas redes sociais, com a fabricante dizendo que colocou uma equipe especializada para dar apoio necessário.

A reportagem do UOL ligou para o número disponibilizado no Facebook para prestar esclarecimento e rapidamente foi atendida.