Movimento em bares do Leblon diminui após aglomerações da reabertura
A noite de ontem, a primeira após as aglomerações que repercutiram nas redes sociais, foi menos agitada e cheia no Leblon, em comparação com o primeiro dia de reabertura dos bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro. Os estabelecimentos que apareciam nas filmagens, abastecendo uma multidão de pessoas apinhadas na rua Dias Ferreira, uma das mais boêmias do bairro, estiveram mais discretos. Alguns garçons culparam a chuva fina, já frequentadores acreditam que a má repercussão pode ter afastado algumas pessoas.
Independentemente do motivo, a prefeitura destacou ao menos seis viaturas e um pequeno caminhão para fazer a fiscalização no bairro, com envolvimento de quatro órgãos: as coordenações de Controle Urbano e de Licenciamento e Fiscalização, a Guarda Municipal e a Vigilância Sanitária. O grupo também fiscalizou bares no bairro de Botafogo, na mesma região da cidade.
De acordo com Fernanda Souza, da Coordenação de Controle Urbano, o aumento do efetivo se deu principalmente pelos vídeos que tomaram as redes sociais na quinta-feira. Mas, segundo ela, ações deste tipo já têm acontecido, de acordo com as fases de reabertura estipuladas pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). "Na semana passada não podia abrir, nesta semana tem que abrir com restrições, então muda e a gente tem que acompanhar se estão fazendo as mudanças", afirmou Souza.
Questionada sobre a aglomeração da noite anterior, a coordenadora reconheceu que não era esperado o grande número de pessoas, mas que confiava que a chuva iria impedir repetição da cena no fim de semana. De fato, a chuva fina e constante e o frio contribuem para o carioca ficar dentro de casa, com ou sem pandemia. Ontem, poucos decidiram encarar o mau tempo e "aproveitar" o momento de suposta normalidade.
A máscara, item essencial de segurança, foi abandonada: às vezes perdida em cima de uma mesa, às vezes decorando queixos. Raros os momentos em que foi vista, durante a noite, cobrindo nariz e boca, como recomenda a Organização Mundial de Saúde para prevenção ao novo coronavírus.
"A chuva ajudou"
Nesse cenário, ao longo de toda a Dias Ferreira, enquanto viam a movimentação dos fiscais, alguns frequentadores reclamavam por motivos variados. Um grupo de homens que consumia de pé na calçada de um dos bares tentou intimidar parte da imprensa no local, com gritos de que "tinham o direito de estar ali", que "os garçons eram trabalhadores" e que "a imprensa exagera", mesmo sem ser abordado.
E conforme as equipes de fiscalização seguiam pelas ruas, houve outros tipos de reações. "É só aqui que fazem isso", opinava um homem, insinuando falta de fiscalização em outras áreas da cidade. Mas de acordo com a Prefeitura do Rio, entre os dez bairros com mais denúncias e fiscalizações durante a pandemia, sete são da zona oeste. Apenas um é da zona sul, e não é o Leblon, mas sim Copacabana.
Em outro bar, no momento em que fiscais apreendiam mesas e cadeiras, que estavam ocupando calçadas e até mesmo a rua, uma frequentadora do estabelecimento ao lado exclamou "que exagero!", segundos antes de beber um gole do seu drink.
Apesar de algumas manifestações contidas de reprovação, André Antunes, assessor da superintendência da zona sul, classificou a fiscalização como "tranquila": "Ontem a gente não tinha noção que iria tomar aquela proporção. A gente esperava que as pessoas voltassem também gradualmente. O efetivo destacado não foi suficiente, mas não por despreparo. Hoje, a chuva também ajudou", afirmou.
Voltar à vida
"Muita gente junta não é legal, mas o pessoal estava resguardado pela flexibilização do governo. Não dá para sair julgando completamente porque, de uma certa forma, foi o governo que permitiu isso", opinou um jovem identificado como Pedro, de 29 anos, sobre os vídeos exaustivamente criticados nas redes sociais. Morador do Alto Pinheiros, em São Paulo, ele afirma que está na cidade à trabalho e que na noite anterior não esteve nos bares da Dias Ferreira. "Eu concordo que foi [gente] a mais. Se hoje estivesse igual estava ontem, eu não estaria aqui", disse.
A 13 km de Pedro, outras dezenas de pessoas bebiam em bares da Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, outro point da juventude carioca. Na esquina das avenidas Comandante Júlio de Moura e Olegário Maciel, uma pequena aglomeração foi registrada, mas com a proximidade do horário limite para fechamento dos bares, 23h, a orientação da fiscalização foi a dispersão dos clientes.
Um grupo de jovens que estava em um dos estabelecimentos falou à reportagem sobre a volta do funcionamento bares. "É importante voltar à vida, mas nada cheio. Hoje já até chorei, de tanta saudade que estava de todo mundo", disse um deles, que preferiu não se identificar. Por ali, a operação da prefeitura também fiscalizava o movimento dos bares, que estavam todos cheios e não respeitavam a distância de 2 metros entre as mesas. Até o fechamento desta reportagem, não houve divulgação do balanço da operação.
Cautela
A reportagem também visitou outros pontos normalmente cheios às sextas. Nos bares do Baixo Gávea, não havia nem uma dezena de pessoas por estabelecimento. Em Copacabana, o famoso Pavão Azul registrava mesas cheias, mas com poucas pessoas de pé. Após as 23h, a Praça Varnhagen, na Tijuca, e as ruas da Lapa, no centro, não tiveram qualquer aglomeração com o fim do expediente dos bares.
Nos mais de 100 km percorridos, também não foram vistos camelôs nas proximidades de locais onde, geralmente, há aglomeração. Como falou um dos fiscais da prefeitura à reportagem, os vendedores de cerveja também foram um dos motivos para que mais pessoas lotassem a Praça Cazuza, no Leblon, na quinta-feira.
A próxima atualização referente a bares e restaurantes está prevista para a fase 5, com previsão de início para o dia 1º de agosto. Na data, a intenção da prefeitura é aumentar a capacidade de operação dos estabelecimentos, que hoje podem operar somente com 50% do salão ocupado e sem clientes em pé.
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