PCC controla ações no Amazonas a partir do litoral de SP, diz MP
Para bater de frente com outras facções criminosas no Amazonas, que faz parte de uma das principais rotas de entrada de cocaína no Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) comandava as ações de seus integrantes no estado por meio de determinações de um membro do grupo morador de Cubatão, no litoral paulista, de acordo com denúncia do MP (Ministério Público) obtida com exclusividade pelo UOL.
Investigação feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de Santos reuniu uma série de interceptações telefônicas que revelaram que Franklin Cavalcante Nobrega, conhecido como Frank, exercia a função de "Cadastro Final da Baixada Santista", responsável por chefiar parte da facção no litoral, e, ao mesmo tempo, era o "Geral da Rua do Estado do Amazonas", controlando e coordenando todos os integrantes do PCC em liberdade naquele estado.
Frank foi preso na manhã de 31 de agosto deste ano —aniversário da fundação do PCC—, em uma ação do Gaeco com apoio de policiais militares do 2º Baep (Batalhão de Ações Especiais), no fundo de uma de suas casas, na Rua José Lopes, no bairro Jardim Nova República, em Cubatão.
De acordo com análise preliminar feita no celular dele, apreendido na mesma data, houve confirmação de práticas de crimes consumados no Amazonas, segundo o MP. A reportagem não localizou a defesa de Frank.
Segundo o promotor Hélio Junqueira de Carvalho Neto, Frank "vinha desempenhando à distância importante função na expansão do PCC no estado do Amazonas, tratando diariamente com outros inúmeros integrantes da organização, inclusive sobre ações contra membros de facções rivais".
A denúncia foi apresentada em 25 de setembro deste ano juntamente com os promotores Silvio de Cillo Leite Loubeh e Vinicius Rodrigues França.
De acordo com ela, "a atuação criminosa de Franklin ficou muito bem evidenciada pela análise do conteúdo do aparelho celular com ele apreendido quando de sua prisão, visto que praticamente todos os inúmeros contatos mantidos por ele no Whatsapp envolvem questões relacionadas ao PCC".
De Cubatão para Manaus
Com autorização da Justiça, o celular de Frank foi grampeado. Em uma ligação em conferência no em 1º de junho deste ano, ele e outros integrantes do PCC falaram sobre o remanejamento de criminosos da facção na Baixada.
Na conversa, segundo a denúncia, Frank confirmou sua função de "Cadastro da Baixada Santista" e informou seu código no PCC (3579) e outra linha telefônica de seu uso, com o DDD 13, do litoral paulista.
Em 30 de junho, ele confirmou sua progressão na hierarquia do PCC, segundo o MP. Frank perguntou para seu interlocutor, identificado como Bozo, em uma ligação, se "a favela estava tranquila" e questionou sobre o "mapeamento dos lixos" e sobre "colocar em prática essa situação". Segundo o MP, a conversa se referia a futuros atentados contra integrantes de facções rivais ao PCC no Norte.
"Ficou claro que ele passou a exercer função de atuação nacional, passando a participar de 'conferências' com outras lideranças nacionais, em especial da região Norte Ele manteve constante contato com criminosos de outros estados, questionando sobre 'lojas da família' e sobre 'quebradas que são deles'. Isto é, do PCC, posteriormente explicando que estava fazendo fechamentos referentes à sua nova função no PCC", diz a denúncia do MP.
Em 28 de julho deste ano, Frank também conversou por telefone sobre um possível homicídio de um integrante do Comando Vermelho em Manaus. Seu interlocutor confirmou que um integrante do PCC "acabou de matar uma pessoa e está escondido"
Além disso, em outras ligações, com outros integrantes do PCC, Frank "tratou da expansão do grupo no estado do Amazonas com o cadastro de novos membros, inclusive participando de vários 'batismos'", acusa a Promotoria.
Pai e filho no crime
De acordo com a denúncia, Frank atuava junto com seu filho, Kauê Henrique Gabassi Nogueira, e com Richard Davi Dias Pereira, conhecido como Bilica. Em uma ligação interceptada, que aconteceu em 10 de julho de 2020, Frank perguntou onde o filho estava. Kauê respondeu que estava na "loja do tráfico" e Bilica, "na responsa das drogas".
Na mesma conversa, Frank orientou o filho a "não ficar moscando [com falta de atenção]" e a não guardar nada dentro de casa nem ficar com drogas em mãos.
No final da ligação, Kauê perguntou ao pai se ele voltaria para a cidade de São Paulo. O pai respondeu que não: "Lá tá moiado [complicado], os caras tão matando pra por**, um parceiro foi morto lá pelo Baep".
A reportagem também não conseguiu contato com as defesas de Kauê e Bilica.
Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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