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Passageiros enchem aeroportos e rodoviária de SP para festas de fim de ano

Leonardo Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/12/2020 16h58Atualizada em 22/12/2020 22h44

Mesmo com os números de casos e mortes por covid-19 crescendo no estado de São Paulo, aeroportos e a rodoviária da capital paulista registram filas e aglomerações de pessoas que estão de malas prontas para passar as festas de final de ano em outra cidade.

O UOL esteve hoje no aeroporto internacional de Guarulhos, no aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital, e no terminal rodoviário Tietê, na zona norte de São Paulo.

Em todos os locais, as aglomerações se concentravam em setores de embarque e desembarque, bilheterias e, principalmente — no caso dos aeroportos — nos caixas de check-in dos voos.

Como o uso de máscara de proteção é obrigatório dentro de espaços fechados, a grande maioria dos passageiros usava o equipamento, mas era fácil encontrar dezenas de pessoas usando a máscara incorretamente, com o nariz para fora.

Não foi difícil encontrar também pessoas tirando a máscara para falar e digitar no celular ou mesmo para esperar sentadas seus voos ou ônibus.

Mesmo com risco de contaminação, a paulistana Rosileine Silva, 45, vai à Teresina, capital do Piauí, passar o Natal e Réveillon com a família. Ela disse se sentir segura porque já foi contaminada.

"Mas está todo mundo protegido. Máscara, gelzinho toda hora. Eu já tive o vírus, graças a Deus não foi brabo, só sintomas leves", disse.

Quase nenhum passageiro estava respeitando o distanciamento de um metro e meio nas filas de check-in no aeroporto de Guarulhos e de Congonhas. Até na fila para realizar um teste RT-PCR de covid-19, no terminal de embarques internacionais, havia aglomeração.

Ontem, viralizaram nas redes sociais imagens de aglomerações no aeroporto de Guarulhos, justamente no setor de check-in.

A reportagem não encontrou nenhum funcionário das companhias aéreas ou do aeroporto pedindo para que os passageiros se distanciassem ou usassem máscara corretamente.

Na fila para fazer um teste de covid-19 e conseguir embarcar para Lisboa, capital de Portugal, o casal de empresários Dalva Ângela, 57, e Márcio Cláudio, 77, relataram que o aeroporto não estava tão cheio e que estavam todos se protegendo com máscara. "Eu só tiro a máscara às vezes, para respirar", disse Márcio.

"Eu já tive o vírus, ele também já teve. Os dois tiveram em agosto e foi tudo bem. Aqui está tudo bem tranquilo. Pessoal se cuidando. Vamos fazer o teste porque precisa apresentar antes de sair de São Paulo", contou Dalva.

Ainda hoje, o coordenador executivo do Centro de Contingência da covid-19 em São Paulo, João Gabbardo, criticou a aglomeração de pessoas dentro do aeroporto de Guarulhos.

"É uma cena indescritível. Não tem como a gente explicar que a administração do aeroporto tenha deixado ocorrer o que ocorreu ontem. É inadmissível que as empresas aéreas, que foram as maiores prejudicadas, não estejam tendo planejamento e cuidado com o atendimento das pessoas que vão fazer check-in", afirmou.

Outra cena bem comum de ser encontrada tanto nos aeroportos como na rodoviária Tietê foram os passageiros que compravam um alimento e o consumiam andando pelo local, sem máscara.

Com um café na mão, um homem andava sem proteção pelo aeroporto quando sentou ao lado da reportagem no saguão de embarque de Guarulhos. Ao telefone, ele relatava a outra pessoa o quão lotado estava o aeroporto. "Cara, aqui tá lotadaço. Você não faz ideia. Tem gente até de capacete", brincou, fazendo referência ao repórter, que usava máscara e uma proteção de acrílico (face-shield).

No Terminal Tietê, a aglomeração é provocada logo no acesso ao terminal. Isso porque a rampa externa, que é aberta e com boa circulação de ar, estava interditada, sem nenhuma placa informando a razão do fechamento.

Com malas em mãos, as pessoas tiveram de se aglomerar dentro dos elevadores para subir ao terminal. Poucos utilizavam as escadas, que estavam com as janelas fechadas, sem circulação de ar.

 Elevador que leva ao terminal rodoviário Tietê cheio de passageiros - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
22.12.2020 - Elevador que leva ao terminal rodoviário Tietê cheio de passageiros
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Uma passageira do terminal, que não quis se identificar, disse que, "mesmo cheio", o terminal ainda "estava vazio para esta época do ano". Ela aguardava um ônibus, junto com a mãe idosa, para passar as festas de final de ano em Campinas, interior de São Paulo.

"Quem for pegar [a covid-19] vai pegar. Quando tiver vacina, aí sim, a gente vai controlar isso. Por enquanto, a gente sabe que a máscara não protege tanto. E o governo pede para não aglomerar, não juntar pessoas, mas taca a gente tudo dentro do ônibus fechado para trabalhar. Fica difícil", disse.

Aeroportos e rodoviária pedem conscientização aos passageiros

O aeroporto de Guarulhos afirmou, em nota, que segue todas as recomendações emitidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que atua para conter a transmissão de quaisquer doenças infectocontagiosas entre funcionários e passageiros por meio dos protocolos sanitários.

O aeroporto disse ainda que, "por mais que se siga todos os protocolos, a conscientização do passageiro para respeitar as normas e regras é essencial" para combater a covid-19.

A Infraero, que administra o aeroporto de Congonhas, disse que também tem adotado as orientações de distanciamento social e uso de máscara e que os terminais de passageiros estão sinalizados e têm veiculado mensagens audiovisuais sobre a pandemia.

"Quanto aos embarques e desembarques, eles têm ocorrido nas pontes de embarque e em posições remotas. Quando as pontes estão ocupadas ou um modelo específico de aeronave não pode acoplar nelas, é necessário fazer o embarque e desembarque remoto. Neste caso, a orientação da Infraero é de que os ônibus transportem até 40 pessoas por vez, o que permite o distanciamento entre os passageiros no trajeto entre a aeronave e o terminal de passageiros. Tal orientação será reforçada pela empresa junto aos motoristas", afirmou a instituição.

A rodoviária Tietê disse que segue os protocolos sanitários e que funcionários realizam rondas frequentes e buscam orientar os passageiros para evitar aglomerações. "Ainda assim, contamos com a colaboração dos próprios passageiros e usuários para que respeitem as orientações", afirmou.

Sobre a interdição da rampa e a não circulação de ar nas escadas, a rodoviária afirmou que o acesso estava interrompido para evitar acidentes por causa da chuva, que teria atingido a região pela manhã. Segundo o terminal, "as janelas laterais têm função auxiliar nessa circulação [de ar], não sendo as únicas fontes de entrada e saída de ar".

Estado de SP regride à fase vermelha

Nesta terça, o governo de São Paulo anunciou que todo o estado voltará à fase vermelha do Plano São Paulo entre os dias 25 a 27 de dezembro e 1° a 3 de janeiro.

Nesses períodos, só poderão funcionar os comércios considerados essenciais, como farmácias, padarias e mercados. Restaurantes e bares estão proibidos de abrir.

Até agora, o estado de São Paulo registrou mais de 45 mil mortes e 1,3 milhão de casos. Segundo o governo 66,9% dos leitos de UTI estão ocupados no estado: são 10.856, 4.710 em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Em todo o Brasil já são mais de de 187 mil óbitos na pandemia, com média móvel de mortes de 769, o mesmo patamar de 18 de setembro.