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PM devolve agressão com socos em rostos de mulheres; revide é omitido no BO

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

22/12/2020 12h11Atualizada em 22/12/2020 17h30

Um policial militar foi flagrado em um vídeo, que repercutiu hoje nas redes sociais, revidando agressões com socos nos rostos de duas mulheres. O caso ocorreu durante uma ocorrência policial de agressão após acidente de trânsito em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo. A ocorrência é do dia 14 de novembro.

No 1º DP (Distrito Policial) de Carapicuíba, os policiais militares envolvidos na ocorrência omitiram as agressões desferidas pelos PMs na ocorrência. Listaram apenas as agressões sofridas por policiais. Uma das partes da ocorrência citou à Polícia Civil que as mulheres foram agredidas. A Polícia Civil requisitou exames do IML (Instituto Médico Legal).

A Corregedoria da PM teve conhecimento das agressões contra as mulheres porque teve acesso ao vídeo. Filmar ações da polícia é legal.

Briga generalizada

Na delegacia, os PMs envolvidos disseram que foram acionados para a rua dos Abreus, na cidade, para atender uma ocorrência de agressão após acidente de trânsito. Ao chegar ao local, disseram encontrar uma situação de briga generalizada e com dois carros danificados, um Ford Escort e um HB20.

Questionado, um dos homens afirmou que o outro motorista bateu em seu carro, fugiu e foi alcançado no local. O outro rapaz, visivelmente machucado, sangrando e pedindo ajuda por se sentir sufocado, informou que arcaria com o prejuízo do veículo acidentado e que não havia necessidade das agressões.

O rapaz que estava sangrando afirmou que chegou um homem se dizendo pai do motorista que teve o carro danificado que se apresentou como "delegado de polícia" e que iria matá-lo. Esse homem também teria ameaçado matar a esposa do rapaz agredido, que está grávida.

Após tomar as medidas administrativas referentes ao Escort, foi solicitado a identificação do condutor e documentação do HB20. Neste momento, dizem os PMs, o dono do HB20 "se alterou e proferiu ofensas": "seu policial de bosta, despreparado, não vou me identificar porra nenhuma, vão se foder, chamem outra equipe com seus chefes pra vocês, não vou me identificar bosta nenhuma".

Os PMs disseram que, nesse momento, os familiares do dono do HB20, incluindo o pai e a mãe dele, começaram a ameaçar os policiais. "Se dirigia com soberba e palavras de baixos calão aos policiais, ambos dizendo que conheciam muita gente, entre eles: delegados, presidente da OAB, investigadores, escrivães, diversos advogados e ainda diversos policiais militares", lê-se no boletim de ocorrência.

O pai do dono do HB20 fazia menção de estar falando ao telefone, "sempre se portando de forma arrogante, petulante e agindo com prepotência para com as equipes" com policiais de Carapicuíba, afirmaram os PMs.

Em dado momento, o dono do HB20 teria afirmado que "quebrou" o dono do Escort e que "quebraria de novo" se necessário. PMs disseram que não deixariam ele agredir o rapaz. Segundo os PMs, foi dada voz de prisão e o dono do HB20 agrediu os policiais.

Os policiais afirmaram no BO que enquanto tentavam algemar o dono do HB20, a mãe, a mulher e a irmã do rapaz agrediram um sargento "que lhe afastou, porém, ao virar as costas, foi agredido pelo suposto namorado dela, que foi detido e algemado" por dois soldados.

Ao colocar o dono do HB20 e seu pai em um compartimento de preso, a mãe e a mulher do motorista, segundo a PM, "surtaram, partindo para cima do sargento, cada uma dando um murro em sua cabeça pelas costas. No momento em que virou, foi atingido por outro murro em sua cabeça, gerando escoriações".

Não foi registrado que o sargento reagiu com socos.

Todos foram algemados e conduzidos ao 1º DP. Por meio de nota, a PM informou que foi instaurado um IPM (inquérito policial militar) para apurar os fatos, mas não cita os revides dados pelo PM. "Ao todo, três PMs ficaram feridos. O caso foi registrado no 1º DP de Carapicuíba juntamente com outros vídeos e imagens registrados durante a ocorrência, além dos encaminhados pela reportagem".

O professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani criticou a agressão flagrada do PM. "A mulher teria que ser presa: ela desacatou o policial, mas não deveria sofrer um soco no rosto. Onde estava o spray de pimenta numa ocasião como essa? A resposta da polícia não pode ser soco na cara. Pareceu jogador de várzea, que está jogando, um torcedor xinga e ele vai lá dar soco no torcedor."

"Para isso temos uma polícia profissional. Não existe nenhum protocolo da polícia que justifique um policial socar o rosto de uma pessoa. O ideal é que o policial mantenha o equilibrio. Isso mostra um problema sério de comando. Esses casos continuam existindo, como casos de exceções, mas há casos seguidos de violência. O ideal seria que os comandos também fossem responsabilizados".