Topo

Esse conteúdo é antigo

Filha diz que Flordelis não sabia de plano para matar pastor

Flordelis nega o crime e diz que é inocente  - Lucas Landau/UOL
Flordelis nega o crime e diz que é inocente Imagem: Lucas Landau/UOL

Colaboração para o UOL*

26/04/2021 15h21

A filha biológica da deputada Flordelis (PSD-RJ) Simone dos Santos Rodrigues negou nesta segunda-feira (26) que a parlamentar soubesse do planejamento do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, em Niterói (RJ).

O depoimento de Simone, que está presa, foi dado por videoconferência ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. A deputada Flordelis é acusada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de ser a mandante do crime. Ela nega e aponta Simone como responsável pelo assassinato.

"[Flordelis] não sabia de nada, não tinha ciência de nada do que estava acontecendo", disse Simone. Ela respondeu a perguntas do relator do caso, deputado Alexandre Leite (DEM-SP), e da advogada de Flordelis, Janira Rocha.

Na videoconferência, Simone confirmou o que Flordelis já havia dito aos parlamentares: a filha sofreria assédio sexual do pastor. Por esse motivo, Simone teria dado R$ 5 mil a Marzy Teixeira, que os entregaria a Lucas dos Santos de Souza, para que "resolvesse a questão". Ambos são filhos adotivos da deputada.

"Eu estava em desespero. Não aguentava mais as investidas dele [de Anderson do Carmo]. Ele queria ficar comigo de qualquer forma. Ele ameaçava cortar o dinheiro da minha medicação, do meu tratamento de câncer. Eu não conseguia falar com a minha mãe. No desespero, comecei a ter síndrome de pânico, ansiedade, infelizmente usei drogas por causa disso. Fiquei atordoada, desorientada", relatou Simone, que foi arrolada como testemunha pela defesa de Flordelis.

Segundo Simone, Anderson do Carmo "fazia bem" para Flordelis, mas a maior parte da família não gostava dele, nem de suas atitudes. A filha descreveu situações em que Anderson entrava em seu quarto, no banheiro quando ela tomava banho ou na lavanderia, para tentar agarrá-la e violentá-la.

"Ele [Anderson do Carmo] me dava dinheiro. Ele me chamava muito de B, 'fica com esse dinheiro aqui', às vezes R$ 1 mil, às vezes R$ 500, eu ia guardando", contou Simone. "Todas as vezes que ele me dava um dinheiro e pagava um tratamento, alguma medicação, ele mandava mensagem no meu telefone, 'B, olha como estou sendo bom com você, como estou sendo legal, sua mãe não precisa saber. Se você me olhar diferente, você vai ter tudo a seu favor, você não vai precisar trabalhar nunca'. Eu aceitava o dinheiro, mas não aceitava as palhaçadas que ele fazia para mim."

Simone também contou que não tinha coragem de falar com Flordelis "por amor, respeito". Segundo ela, sua mãe era "apaixonadíssima" pelo pastor e jamais acreditaria.

Lucas dos Santos de Souza, o irmão adotivo que teria recebido dinheiro para matar Anderson do Carmo, já depôs ao Conselho de Ética e disse que não havia como Flordelis não saber do assassinato.

Ao fim do processo, o Conselho de Ética da Câmara poderá propor o arquivamento ou punições, como advertência, suspensão ou cassação do mandato da deputada Flordelis. São necessários 257 votos favoráveis à cassação no Plenário para que a deputada perca o mandato.

Depoimentos

O convite à filha de Flordelis para que ela prestasse depoimento foi feito pelo deputado Alexandre Leite (DEM-SP), relator do processo nº 22/21 que apura a conduta da deputada no caso. Se Flordelis tiver o mandato cassado, ela deve ser presa. Por sua condução, Leite foi acusado pela defesa da congressista de parcialidade.

O presidente da comissão, o deputado Paulo Aziz (DEM-BA), porém, decidiu não aceitar o pedido elaborado pelos advogados para suspender o relator.

Ao se pronunciar, a advogada Janira Rocha, que defende a deputada, reclamou que as oitivas estão sendo marcadas "muito próximas umas das outras", e solicitou o adiamento do depoimento das próximas testemunhas, Simone dos Santos Rodrigues e Marli Teixeira da Silva, previsto para segunda-feira (26).

Em resposta, o relator Alexandre Leite afirmou que "as pessoas confundem o sistema penal com o processo dentro do Conselho de Ética". Assim, ele defendeu que o prazo é adequado.

O caso

A deputada é acusada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) por "arquitetar o homicídio" de seu marido, "arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime sob a simulação de ter ocorrido um latrocínio" e também "financiar a compra da arma e avisar da chegada da vítima no local em que foi executada".

Simone dos Santos Rodrigues é acusada de participação no crime ao lado de Lucas Cézar dos Santos e Flávio dos Santos Rodrigues, outros dois filhos de Flordelis. Em depoimento à polícia, feito em janeiro, Simone admitiu que pagou R$ 5 mil para matar o pastor Anderson. O dinheiro teria sido entregue para sua irmã, Marzy Teixeira.

Em fevereiro, a Justiça do Rio decidiu suspender Flordelis do exercício das suas funções públicas. Os desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro acompanharam por unanimidade o voto do relator Celso Ferreira Filho, em julgamento por videoconferência.

"Sou inocente"

Em entrevista concedida ao SBT, no ano passado, Flordelis alegou ser inocente e disse não estar preparada para a prisão. "E não vou ser [presa], porque eu sou inocente e tenho certeza que a minha inocência será provada nos próximos dias", disse ela. "Eu não matei. Eu não fiz isso do que estão me acusando. Eu não fiz. Não é real, não é verdade. É uma injustiça".

Na ocasião, Flordelis também chorou e disse amar o marido assassinado. "Eu preciso saber quem mandou matar o meu marido. Eu não sei [quem mandou matá-lo]. Se eu soubesse, eu falaria aqui, agora. Quem mandou matar o meu marido está desgraçando com a minha vida."

* Com informações da Agência Câmara de Notícias