Vídeo: PMs agridem, ameaçam e invadem casas de moradores de Paraisópolis
Moradores da comunidade de Paraisópolis (zona sul), uma das maiores da capital paulista, relatam agressões, ameaças e invasões de propriedades por policiais militares desde a segunda semana de junho. Uma operação contínua da Polícia Militar de São Paulo tem causado medo e atrapalhado a rotina das pessoas que vivem no local.
Vídeos mostram PMs enquadrando um homem que, deitado no chão, grita de dor, enquanto moradores filmam e pedem para que os policiais parem a abordagem. Outra gravação expõe policiais abordando e obrigando a sentar no chão três jovens negros, que seriam menores de idade.
Em nota enviada ao UOL, a Secretaria Estadual da Segurança Pública disse que irá analisar as imagens enviadas pela reportagem. "Toda denúncia pode ser registrada na corregedoria da PM, que está à disposição para apurar os fatos", afirmou. (leia mais abaixo)
A reportagem foi até Paraisópolis e conversou com 12 moradores, que relataram a tensão que a presença maciça da PM tem causado na comunidade.
Policiamento intensificado desde o dia 14
Desde o dia 14, a Secretaria da Segurança Pública, chefiada pelo governador João Doria (PSDB), aumentou o policiamento na região com a "Operação Saturação". Segundo a pasta, o objetivo é justamente "intensificar o policiamento" na comunidade.
A atuação da PM aumentou, de acordo com os moradores, depois que a comunidade voltou aos holofotes da imprensa com o desaparecimento de duas mulheres após uma festa. Elas foram encontradas mortas em uma rodovia na semana passada.
Na última quinta-feira (24), a reportagem esteve por cerca de quatro horas em Paraisópolis e viu carros da Tropa de Choque e da Rota descerem e subirem as ruas da comunidade durante toda a tarde acompanhados da Rocam, tropa de motocicletas da PM. Era fácil encontrar pelas esquinas pessoas sendo abordadas e revistadas, e tendo seus carros inspecionados por policiais.
O problema, relatam os moradores, é quando essas abordagens acontecem em vielas escondidas dentro da comunidade. Nessas situações, segundo os habitantes, abordagens violentas, com direito a socos e ameaças, viraram rotina.
Um trabalhador da comunidade que conversou com a reportagem disse que teve sua casa invadida por policiais militares da Tropa de Choque na sexta-feira, dia 18, enquanto estava em seu horário de trabalho e suas filhas pequenas, na escola.
O homem contou que vizinhos ligaram para ele e avisaram que sua casa estava sendo invadida por policiais. Ele voltou correndo e, ao chegar na porta, encontrou cenas de destruição: fechaduras, sofás e a cama revirados e até barras de chocolate abertas, quebradas e jogadas no chão.
Uma mãe relatou que, desde semana passada, não leva a filha na escola por medo de tiroteios ou por presenciar cenas de violência durante o caminho. Todas as fontes ouvidas não quiseram se identificar temendo represálias.
O líder comunitário Gilson Rodrigues pediu respeito aos moradores e que as pessoas filmem as abordagens e enviem à associação de moradores.
Há relatos de invasões em casas e comércios e de jovens sendo agredidos nas ruas. Nós, moradores de favela, não devemos ser tratados de forma diferente de bairros nobres. Não somos contra o trabalho da polícia, mas repudiamos qualquer forma de agressão. Filmem as abordagens e nos enviem. Vamos denunciar todos os abusos.
Gilson Rodrigues, líder comunitário
"As pessoas estão com medo, nossas crianças, que já tinham dificuldades de ir para a escola devido ao coronavírus, agora ficam em suas casas por medo de sofrer alguma brutalidade por conta da ação de alguns policiais e não chegarem até o seu destino", concluiu.
Foi em Paraisópolis que, em dezembro de 2019, nove jovens morreram após uma ação da Polícia Militar para dispersar o Baile da DZ7, tradicional festa da comunidade. Outros 12 ficaram feridos.
Na última quinta-feira, nove policiais militares envolvidos nesta operação foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Governo diz que vai analisar imagens
Questionada sobre os abusos policiais, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a operação policial tem objetivo de "intensificar o policiamento na região" e citou, primeiro, o número de detidos e a quantidade de drogas encontrada na comunidade.
"Mais de 100 quilos de drogas foram apreendidos, 187 veículos vistoriados e três armas retiradas das ruas", afirmou a pasta, em nota.
A secretaria também disse que irá analisar as imagens enviadas pela reportagem. "Toda denúncia pode ser registrada na corregedoria da PM, que está à disposição para apurar os fatos", concluiu.
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