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STJ manda soltar Galo, que assumiu atear fogo na estátua de Borba Gato

A defesa de Paulo Roberto da Silva Lima teve pedido negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo - Herculano Barreto Filho/UOL
A defesa de Paulo Roberto da Silva Lima teve pedido negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

05/08/2021 13h27Atualizada em 05/08/2021 21h57

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) mandou soltar hoje o entregador de aplicativos Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Galo. O ativista se apresentou ao 11º Distrito Policial na quarta-feira (29) e assumiu ser um dos autores do incêndio à estátua do bandeirante Borba Gato em Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

"Saiu a liminar (determinando a soltura), mas só temos um problema, porque o delegado acabou de pedir a prisão preventiva, então estamos correndo com isso", disse o advogado Jacob Filho, que participa da defesa de Galo.

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) confirmou que "após todo o trabalho de polícia judiciária", o inquérito foi concluído e foi feito o pedido de prisão preventiva aos três indiciados — além de Galo, Danilo Silva de Oliveira, conhecido como Biu, e o motorista Thiago Vieira Zem.

Danilo não chegou a ficar preso. Thiago ficou detido, mas recebeu liberdade provisória no dia seguinte.

Já Galo está preso desde quinta-feira (29) de forma temporária. No domingo, a defesa teve o pedido de habeas corpus negado pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). Os advogados, então, recorreram da decisão ao STJ. Se o pedido de prisão preventiva, feito pelo delegado do 11º DP, for acolhido pela Justiça, o entregador pode voltar a ser preso.

Géssica se apresentou voluntariamente à polícia com o companheiro, mas negou participação no incêndio em vídeo obtido com exclusividade pelo UOL no momento em que prestava depoimento. "Estava na minha casa, cuidando da minha filha de 3 anos e do meu irmão, de 9 anos", disse.

Presa por dois dias, ela teve a prisão revogada na sexta (30) após a Justiça revogar sua prisão temporária. A decisão se baseou no rastreamento do aparelho telefônico, que constatou que ela estava dentro de casa no dia do ato, ocorrido no último sábado (24).

Entre as justificativas oferecidas no habeas corpus de Galo, a defesa afirmou que o entregador colaborou com as investigações e que Galo não possui antecedentes criminais.

O pedido também apontou que a prisão foi "política fundada da criminalização de movimentos sociais, expressa na fundamentação da decisão combatida".

Borba Gato

Estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, também amanheceu coberta de tinta em 30 de setembro de 2016 - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, também amanheceu coberta de tinta em 30 de setembro de 2016
Imagem: Reprodução/Twitter

Inaugurada nos anos 1960, a estátua de Borba Gato gera polêmicas desde que foi instalada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no bairro de Santo Amaro.

O monumento homenageia Borba Gato, que fez parte do grupo de bandeirantes paulistas que exploraram territórios no interior do país. Alguns deles capturavam e escravizavam indígenas e negros entre os séculos 16 e 17, segundo obras como "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcântara Machado, de 1929.

Em 2016, a estátua de Borba Gato foi atacada com um banho de tinta. A mesma intervenção também não perdoou o Monumento às Bandeiras, imponente obra de Victor Brecheret localizada no Parque do Ibirapuera, na capital paulista.

No ano passado, em meio aos protestos #BlackLivesMatter lançarem ao rio uma estátua de um traficante de escravos em Bristol, no Reino Unido, o debate em torno do monumento ganhou força nas redes sociais brasileiras por conta do histórico do bandeirante.

À época, a subprefeitura de Santo Amaro solicitou a instalação de gradis e vigia 24 horas pela Guarda Civil Metropolitana.

Entregadores Antifascistas

Morador do Jardim Guaruau, na zona Oeste da capital, Galo ganhou o apelido por conta de uma moto 7 Galo que usava para trabalhar como motoboy. Em março de 2020, começou a denunciar as condições de trabalho da categoria durante a pandemia, de onde surgiu o coletivo Entregadores Antifascistas, e a pedir a disponibilização de comida e kit higiene para a categoria.

"Convidei os caras para ir até uma manifestação de domingo, para a gente observar e aprender junto como se constrói um ato junto com a galera do movimento negro para, quem sabe, um dia, a gente ter um ato grandão só nosso para falar das nossas pautas", declarou ao UOL em entrevista no ano passado.

Sobre a ação do dia 24 de julho, Galo afirmou que seu o objetivo era abrir debate sobre o monumento a um "genocida e abusador de mulheres".

"O ato foi para abrir um debate. Em nenhum momento, foi feito para machucar alguém ou querer causar pânico. Que as pessoas agora decidam se querem ter uma estátua de 13 metros de altura que homenageia um genocida e um abusador de mulheres", disse o entregador, na semana passada.