Araçatuba marca escalada de violência do 'novo cangaço' contra população
Um assalto com armas de grosso calibre com capacidade para abater até aeronaves, reféns mortos e usados como escudo humano e 98 explosivos de alta tecnologia espalhados na madrugada de segunda-feira (30) pela área urbana de Araçatuba, a 519 km da capital paulista, já é tratado como um marco por especialistas.
O ataque a instituições financeiras conhecido como "novo cangaço" mobiliza as autoridades envolvidas com a investigação do crime que deixou ao menos três mortos e cinco feridos (um quarto corpo ainda é investigado), aterrorizando uma cidade com 200 mil habitantes.
O assalto a agências bancárias no interior de São Paulo é apontado como o mais violento do tipo nos últimos dois anos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número de detonadores foi o maior da história do país, segundo levantamento inédito feito pela Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança a pedido da reportagem.
O tenente-coronel Valmor Saraiva Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais de São Paulo, que coordenou as ações de neutralização dos explosivos em Araçatuba, ainda analisa o material coletado. E não esconde o receio em relação ao uso desse tipo de equipamento em outras empreitadas criminosas.
A preocupação é com o futuro, porque os criminosos estão se aprimorando. Estamos lidando com uma quadrilha que usa explosivos de alta tecnologia em área urbana. O que chama a atenção é a grande quantidade de detonadores com acionamento remoto. Foi uma operação de extremo risco para os policiais e para os moradores, que fugiu completamente da normalidade."
Valmor Saraiva Racorti, Batalhão de Operações Especiais de SP
Araçatuba: mais violência e tecnologia a serviço do crime
Expansão do uso de detonadores
A formação dessas quadrilhas especializadas em assalto a banco em ações também conhecidas como "domínio de cidades" se intensificou nos últimos 20 anos no Nordeste. Mas só passou a usar detonadores a partir de 2010.
"Os explosivos causam um dano maior ao patrimônio e um impacto psicológico nas pessoas em áreas afastadas das capitais, onde o policiamento é mais reduzido. Esse tipo de abordagem se disseminou e gera comoção pelo pavor nas cidades", diz Jania Perla de Aquino, coordenadora científica do Laboratório de Estudos da Violência da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Ações integradas com o PCC
Em parceria com criminosos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), esses crimes se disseminaram nos últimos anos pelo Estado de São Paulo —foram ao menos seis cidades do interior paulista invadidas em pouco mais de um ano.
Alguns dos roubos têm comprovadamente a participação do PCC. Há integrantes da facção que se dedicam a essa atividade criminosa. Por vezes, o PCC fornece armamento, logística e depois recebe parte do lucro."
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça e especialista em investigações sobre a facção
Segundo o promotor, esses crimes costumam contar com o uso da tecnologia para que sejam bem-sucedidos. "Eles [criminosos] fazem o levantamento do local com o auxílio de drones para monitorar a presença da polícia e mapear rotas de fuga. São crimes planejados com meses de antecedência. É a tecnologia à disposição desses criminosos".
Investigações precisam avançar, advertem analistas
O analista criminal Guaracy Mindardi, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indica Araçatuba como o ataque mais sofisticado do tipo.
"É a mesma ação. Só que cada vez mais está sendo aprimorada. E, agora, com ainda mais violência. Antes, esses grupos usavam fuzis, atacavam unidades da PM e incendiavam carros em rodovias. Agora, fazem reféns, usam explosivos com acionamento remoto em vários pontos da cidade e ainda monitoram o crime com o auxílio de drones", compara.
Segundo ele, só a investigação policial bem-sucedida pode estancar uma escalada de violência e de sofisticação desse tipo de crime. "A polícia tem que identificar esses criminosos rapidamente. Senão, esse exemplo vai se espalhar rapidamente", adverte.
Pesquisador e especialista em Segurança Pública, Roberto Uchôa defende a disseminação de investigações integradas para agilizar a apuração dos fatos.
"Mas não existe coordenação integrada nesse tipo de investigação. Enquanto isso, o crime atua de forma completamente coordenada. Estamos lidando com um bando armado extremamente profissional", adverte.
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