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Manifestação em igreja do PR vira debate por participação de vereador do PT

O vereador Renato Freitas (PT-PR) em protesto em igreja de Curitiba  - Reprodução
O vereador Renato Freitas (PT-PR) em protesto em igreja de Curitiba Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/02/2022 18h02Atualizada em 07/02/2022 19h27

A participação do vereador Renato Freitas (PT-PR) em uma manifestação pelos assassinatos de Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho, organizada pelo Coletivo Núcleo Periférico, virou tema de debate na Câmara Municipal de Curitiba hoje.

O congolês foi espancado até a morte em um quiosque no Rio de Janeiro, enquanto Durval foi morto a tiros por um sargento da Marinha no condomínio onde morava em São Gonçalo, na região metropolitana do estado.

O ato aconteceu no último sábado (5) e, inicialmente, os manifestantes se reuniram no Centro Histórico de Curitiba para, posteriormente, irem até a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Segundo o parlamentar, o protesto ocorreu de forma pacífica, com a igreja "absolutamente vazia", sem que houvesse celebração de missa no momento.

"Já se passava das seis da tarde. Entramos e dissemos que nenhum preceito religioso supera a valorização da vida. Lá dentro, afirmamos isso e saímos ordeira e pacificamente, sem que ninguém tivesse se incomodado, e eu desafio qualquer um a provar o contrário", declarou Renato Freitas, que justificou a escolha da igreja pelo fato de o templo ter sido "construído por e para pessoas escravizadas, uma vez que negros e negras não poderiam entrar em outras igrejas de nossa cidade".

Na sessão da Câmara Municipal de Curitiba, o vereador Osias Moraes (Republicanos-PR) disse que a manifestação teve "cunho político" e perturbou a fé dos frequentadores da igreja. O parlamentar afirmou que tomará "providências" contra o petista.

Arquidiocese diz que celebrava missa no momento do protesto

Em nota, a Arquidiocese de Curitiba disse que os manifestantes do Coletivo Núcleo Periférico entraram na Igreja do Rosário no momento em que era celebrada uma missa, e "lideranças do grupo instaram a comportamentos desrespeitosos e grotescos".

Segundo o arcebispo José Antonio Peruzzo, o que houve "foram agressividades e ofensas" e, sem citar nomes, afirma que "é fácil ver quem as estimulou".

"A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer 'politizar', 'partidarizar' ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo."

Por meio de seu perfil no Instagram, Renato Freitas publicou um vídeo da manifestação e reiterou que a igreja estava vazia quando eles chegaram.

"Gostaria de ressaltar que não houve invasão a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, pois ela se encontrava aberta e a missa já havia terminado. Como facilmente se constata no vídeo, já que o lugar estava vazio".

Repercussão de políticos

No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro (PL) repercutiu o caso como "acreditando que tomarão o poder novamente, a esquerda volta a mostrar sua verdadeira face de ódio e desprezo às tradições do nosso povo".

Também na rede social, o presidenciável do Podemos, Sergio Moro, chamou a situação de "absurda e revoltante", afirmando que "locais de culto não podem ser utilizados para ofensas ou propaganda política".

Assassinatos de Moïse e Durval

Moïse Kabagambe foi espancado até a morte no dia 24 de janeiro em um quiosque localizado na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. A vítima tinha 24 anos e era natural do Congo, na África, e morava no Brasil, com sua família, desde 2014.

Kabagambe trabalhava por diárias e, segundo a família, ele teria ido cobrar dois dias de pagamento, mas foi amarrado e brutalmente assassinado. As gravações foram filmadas por câmeras de segurança do quiosque Tropicália. Três pessoas envolvidas no crime já foram presas.

Hoje, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciou que a família de Moïse Kabagambe terá a concessão do quiosque Tropicália até 2030. Segundo o chefe do Executivo municipal, a ideia é fazer do local o sustento para Dona Ivone e seus filhos.

Morador de São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, Durval Teófilo Filho, de 38 anos, foi morto a tiros pelo sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, que disse ter confundido a vítima com um ladrão. O crime aconteceu na última quarta-feira (2). A esposa de Durval, Luziane Teófilo, apontou que o crime foi motivado por racismo.

Por meio de imagens de câmeras de segurança foi possível ver o momento em que Durval chegava em casa e foi abordado pelo militar. Mesmo atingido na barriga e avisando que era morador do condomínio, foi alvo de um segundo disparo no abdômen. Um terceiro tiro não acertou a vítima.