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Petrópolis: Sobreviventes relatam volta para casa após 'pior dia da vida'

Mulher registra carro sendo levado pela correnteza em Petrópolis - Reprodução/Facebook
Mulher registra carro sendo levado pela correnteza em Petrópolis Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

17/02/2022 18h26Atualizada em 18/02/2022 04h18

Sobreviventes da tragédia em Petrópolis compartilharam nas redes sociais relatos de tensão durante as chuvas que atingiram a cidade nesta semana, que deixaram ao menos 120 mortos. Em uma das publicações, no Facebook, uma mulher relatou ter o carro levado pela correnteza enquanto outra afirmou ter ficado presa dentro de um ônibus rodeada de água e lama.

Adriana de Oliveira escreveu que tinha ido a uma consulta por volta das 16h e que, ao sair do local, a chuva ainda estava fraca.

Resolvemos sair, mas não imaginava que do nada ia descer tanta água. Parecia uma cachoeira, nunca vi isso na minha vida, do nada, nosso carro encheu. Água até na altura do banco e a correnteza levou nosso carro. Nessa hora, pensei que ia morrer.
Adriana de Oliveira, moradora de Petrópolis

A mulher ainda relata que conseguiu abrir a porta do carro e sair, mas devido à forte correnteza, o carro acabou sendo levado. "Saímos de mãos dadas e as pessoas das casas gritando, com medo da água nos levar. Mas Deus colocou um anjo em um ônibus escolar que nos ajudou a entrar e pelo menos estava em um lugar mais seguro, sem estar na água."

Adriana diz que conseguiu recuperar o carro após a chuva e ir até um local mais seguro e que ela e a família ficaram bem após o episódio.

Já Taillaine Castro descreveu a data como o "pior dia de sua vida". "Eu vivi a pior terça-feira da minha vida, eu vi de perto o desespero e o sofrimento das pessoas em Petrópolis. A todo momento, crianças chorando, pessoas gritando por socorro, e pedindo pra Deus cessar aquela chuva", escreveu.

Segundo o relato, ela e a mãe dela ficaram presas dentro de um ônibus, sem poder sair, "rodeadas de água e lama".

Seria apenas um passeio que durou 8 horas de tristeza e preocupação, desde às 17 hrs da tarde trancadas dentro do ônibus sem poder sair rodeadas de água e lama. São 2:50 da manhã e os pensamentos das pessoas mortas pela praça, pelas ruas não saem da nossa cabeça.
Taillaine Castro, moradora de Petrópolis

Ela ainda fez um apelo: "Ajudem, ajudem o quanto puder, orem pelas pessoas que ainda não foram encontradas, peça livramento e misericórdia pra essas vidas, só eu sei o que eu vi e vivi".

Ônibus afundando foi um dos retratos da tragédia

onibus - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Dois ônibus foram levados por enxurrada na terça-feira (15) durante temporal em Petrópolis
Imagem: Reprodução/Facebook

Uma outra cena chocante da tragédia de Petrópolis repercutiu nas redes sociais após. No vídeo, passageiros tentavam sair de dois ônibus ilhados em meio à inundação. As pessoas tentam sair pelas janelas dos veículos e se apoiam no topo dos ônibus, que estavam instáveis por conta da movimentação da enxurrada. Alguns dos passageiros ainda decidiram pular na água e nadar à procura de outro local.

Uma das moradoras que estavam nessa situação e conseguiu se salvar saindo pela janela foi Karine Matos Gomes, 37. Ela contou ao UOL que teve ajuda de uma escada, apoiada no muro de um condomínio para se salvar, mas que um homem usando perna mecânica não conseguiu sair do veículo a tempo.

Tensão continua

Nesta quinta-feira, a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros evacuaram a rua 24 de Maio, onde ocorreu um deslizamento ontem à tarde. A rua Teresa, famosa na região pelo polo têxtil, também foi esvaziada.

Os moradores deixaram suas casas com malas e animais, como cachorros, gatos e passarinhos. Eles foram levados para um ponto de apoio na região.

Ao todo, mais de cem pessoas morreram em Petrópolis. A Polícia Civil do Rio informou que ao menos 134 pessoas registraram desaparecimentos de familiares. Na quarta-feira (16), o Ministério Público do Rio já havia divulgado uma lista de desaparecidos com 35 nomes. Ainda não há informações precisas sobre o número de pessoas procuradas na região.

Mortes superam tragédia de 2011

O número de mortes em Petrópolis ultrapassou o registrado em 2011: há 11 anos, a cidade teve 73 óbitos em função das chuvas. A tragédia atingiu toda a Região Serrana, que contabilizou 918 mortes, 426 delas só no município de Nova Friburgo.

Para o CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o incidente de 2011 foi a maior catástrofe climática do país. No entanto, não foi o evento que mais deixou vítimas em Petrópolis: segundo a prefeitura, as chuvas de 1988 deixaram 134 mortos.