Petrópolis: Família se salva após 'cachoeira de lama' desviar deslizamento
A casa em que Juliano Nascimento, 28, morava com a mãe, o padrasto e as irmãs passou ilesa ante uma "cachoeira de lama" durante deslizamento de terra no bairro da Vila Felipe, em Petrópolis. Uma semana após a tragédia, que deixou mais de 180 mortos no município, os trabalhos de buscas por pessoas soterradas continuam no local.
A família diz que só conseguiu se salvar na última terça-feira (15) graças à força da água da chuva, que criou um desvio para a lama que desceu do morro. A enxurrada impediu que os dejetos avançassem em linha reta, onde fica a casa.
Nascimento conta que apressou sua mãe, padrasto e primos para deixar a casa, que fica no ponto mais alto do morro e seria a primeira a ser atingida em caso de queda de barreira.
Mas, para a surpresa de todos, a residência passou ilesa em meio a dois deslizamentos, o que permitiu que eles descessem as escadas e saíssem da área de perigo.
O Corpo de Bombeiros informou que já são ao menos 181 os mortos em decorrência do temporal. Entre as vítimas, 165 foram identificadas, segundo a Polícia Civil. Ainda de acordo com a Polícia Civil, 110 pessoas são consideradas desaparecidas.
Após a forte chuva, a família de Nascimento foi uma das que precisaram sair de casa. Eles estão abrigados na residência de uma amiga até que a Defesa Civil libere ou condene o imóvel.
Mais de 850 pessoas estão abrigadas nos 13 pontos de apoio montados em escolas municipais de Petrópolis.
'Medo e angústia', diz morador
Nascimento disse que, noite de terça-feira (15), a sensação era de que "o mundo estava acabando". "Foi filme de terror total, catástrofe mesmo", define.
O rapaz conta que, por volta das 17h, mandou mensagem à sua irmã pedindo notícias. Naquele momento, ela disse que estava tudo bem e relatou a queda de uma pequena quantidade de lama, que contudo já bloqueava um dos acessos à região.
Pouco depois das 18h, a irmã retornou a ligação, mas com um cenário bem diferente. "Ela estava chorando e dizendo que estava caindo tudo, para eu vir aqui ajudá-la."
Àquela altura, Nascimento já tinha recebido no trabalho vídeos e áudios no WhatsApp sobre a situação. "Começamos a ficar assustados e ter noção do que acontecia na cidade."
Ao chegar à Vila Felipe, ele correu para tirar a família e objetos pessoais dali. Nascimento temia um deslizamento. "O marido de uma prima só disse que era para a gente descer correndo", relembra.
Nascimento, sua mãe, o padrasto e dois primos desceram as escadas e ouviram o estrondo do primeiro deslizamento. "Foi um barulho ensurdecedor, pensamos que pudesse ser na [nossa] servidão."
No meio do caminho, a família se juntou a outra para descer até o asfalto antes que outro deslizamento acontecesse, mas não deu tempo.
Nascimento diz ter pensado que a lama iria atingir a casa. No entanto, um caminho de água formado pela enxurrada que descia do morro levou junto toda a lama que deslizou, o que impediu que os dejetos atingissem a casa.
Ao ouvir o barulho, a família estava no meio da servidão. Nascimento conta que só deu tempo de se refugiar em uma casa um nível acima da servidão e rezar. "Era medo e angústia de todo aquele cenário, de não saber se iríamos sair com vida", relembra.
O segundo deslizamento vitimou ao menos três familiares que viviam em outras casas e uma dezena de amigos. As irmãs, que se refugiaram em uma casa que viria a desmoronar, foram salvas por vizinhos.
"Nós só conseguimos sair porque a água limpou o caminho e conseguimos evacuar todo mundo", resume Nascimento.
Família ainda não voltou para casa
Depois do susto, a família ainda enfrentou dificuldades para sair do morro. O terreno estava instável e, apesar de terem sido salvos em um primeiro momento, Nascimento relatou "sensação de impotência". Na madrugada, chegaram o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil.
Nascimento diz que só pretende voltar a morar na casa quando houver segurança. Enquanto isso, eles buscam o aluguel social —que chega ao valor de R$ 1.000— para "organizar a cabeça" e decidir os próximos passos.
"É uma área de risco, nós não voltamos para a casa. Não tem luz, internet, nada. Nós tiramos coisas primordiais, mas esse nosso primeiro momento é se estabilizar e ter cabeça sobre qual caminho trilhar."
Aluguel social custeado por governo e prefeitura
O prefeito Rubens Bomtempo (PSB) anunciou ontem que o aluguel social será automático para todos os desalojados que estejam em abrigos oficiais da prefeitura.
O governo do estado custeará 80% do valor, que ficou definido em R$ 1.000. De acordo com a prefeitura, o próximo passo é cadastrar os desalojados.
Além do valor do aluguel, as famílias receberão o benefício "Cartão Imperial", que concede R$ 70 às famílias cadastradas para complemento do gasto com alimentos.
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