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Novo Cangaço: O que se sabe sobre o assalto frustrado em Guarapuava

Carros usados em tentativa de assalto foram abandonados em Guarapuava (PR) - Reprodução
Carros usados em tentativa de assalto foram abandonados em Guarapuava (PR) Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/04/2022 04h00

A cidade de Guarapuava (PR), a 250 km de Curitiba, foi atacada por uma quadrilha entre a noite de domingo e a madrugada de segunda (18). O grupo de criminosos tentava assaltar uma transportadora de valores e, em uma ação que já se repetiu em outras cidades do interior brasileiro, sitiou ruas, atacou um batalhão e teria usado moradores de escudo humano.

Veja o que se sabe até agora sobre o crime.

  • Cidade cercada e batalhão atacado

Guarapuava, que tem pouco mais de 180 mil habitantes, foi atacada por mais de 30 criminosos. Testemunhas informaram que o ataque começou por volta das 22h30 do domingo (17).

Vídeos mostram que alguns moradores teriam sido usados como escudos humanos para proteger os suspeitos, que estavam em carros blindados. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná, porém, não reconheceu que qualquer pessoa tenha sido feita refém.

Por volta da 1h55, a BR-277 estava com o trânsito interditado no km 353 e no km 330 por dois caminhões, um em cada local, que foram incendiados. Eles impediram o acesso à cidade. A Polícia Rodoviária Federal confirmou que a ocorrência estava atrelada aos ataques. No começo da manhã, o trânsito no local tinha sido liberado.

De acordo com a PM, a sede do 16º Batalhão foi alvejada com disparos e veículos incendiados foram colocados nas saídas para evitar a movimentação policial. Outros carros também foram queimados em ruas estratégicas da cidade. A corporação informou que decidiu não entrar em conflito para não causar perigo à população.

Barulhos de disparos foram ouvidos por moradores e vestígios de armamentos de grosso calibre foram encontrados em ruas da cidade. Uma arma que aparenta ser um fuzil chegou a ser abandonada em uma árvore.

  • Fuga e valor levado

Apesar do cerco, a quadrilha conseguiu escapar em sete veículos, que depois foram encontrados abandonados. Segundo as autoridades, a quadrilha não conseguiu entrar na transportadora e nada foi levado.

"Tivemos êxito e frustramos a ação deles. Eles acabaram saindo da cidade e aí sim, nos bloqueios que fizemos, tivemos confrontos na área rural. Os setes veículos que estavam na ação foram alvejados e acabaram abandonados. Uma farta munição foi apreendida e estamos em busca desses elementos", diz o tenente-coronel Joas Lins.

De acordo com a Protege, empresa de segurança que atua no município, a ação visava o cofre da empresa de sua base operacional, mas não teve sucesso. "Nos últimos anos, robustos investimentos e aplicação de novas tecnologias ampliaram ainda mais os rígidos padrões de segurança adotados pela empresa o que, certamente, contribuiu para o insucesso da ação criminosa", disse em nota.

A empresa disse ainda colaborar com as autoridades e que "reconhece o relevante trabalho das forças de segurança no enfrentamento ao bando de criminosos que atacou a cidade".

  • Prisão

Até o momento, apenas uma pessoa -- com possível envolvimento logístico no crime -- foi presa pela polícia. Segundo a polícia, o suspeito detido é um homem natural da cidade paranaense, que não teve identidade revelada, e teria prestado apoio à quadrilha ajudando com o aluguel de casas na região. Ele foi detido e levado à delegacia de Guarapuava, prestou depoimento por cinco horas e foi liberado em seguida. O celular dele ficou apreendido para realização de perícia.
  • Feridos

O ataque não deixou mortos, mas pelo menos três pessoas ficaram machucadas na ação: dois policiais militares, com ferimentos nas pernas e na cabeça, e um civil, que foi ferido no braço.

Em uma publicação no Facebook, uma moradora da cidade afirmou que o pai dela, um policial militar, seria um dos baleados.

"Venho através deste informar que, infelizmente, durante a ação desses criminosos em nossa cidade, meu pai foi alvejado e está na UTI. Peço a oração de todos nesse momento", escreveu ela.

Também de acordo com o relato da mulher, um outro policial, que estava na mesma viatura, foi atingido. No entanto, a bala teria causado dano maior apenas no celular dele. "Mesmo sem um dos pneus da viatura, ele conseguiu fugir e dirigir até um hospital para levar o meu pai", disse ela.

De acordo com a informação oficial da polícia, nenhum dos três feridos corre risco de morte.

  • Buscas

Segundo o comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, Hudson Leôncio Teixeira, a polícia trabalha com a hipótese de que haja suspeitos feridos.

"Alguns estão feridos, temos marcas de sangue nos veículos e nas ruas, e os cães farejadores já localizaram onde estão. Estamos pedindo que as pessoas que moram na região atendam aos policiais, eles estão autorizados a bater de porta em porta", avisou.

  • Polícia diz que usou 'plano de contingência'

Leôncio Teixeira ressaltou em coletiva de imprensa que a polícia local estava preparada para um ataque como esse, após os crimes semelhantes que aconteceram em Criciúma (SC) e Araçatuba (SP). "Havia indicativo que nosso estado poderia ser alvo desse tipo de crime", revelou.

Segundo ele, os policiais conduziram com sucesso o plano de contingência, que era de levar a quadrilha até a área rural da cidade. Ele afirmou que não houve confronto entre a polícia e os criminosos na área urbana.

Espectadores que diziam morar na cidade desmentiam as falas do secretário na transmissão, dizendo ter ouvido tiros próximos.

  • Instalações militares na cidade foram protegidas por tanque

O Exército usou um veículo blindado Guarani para proteger as instalações militares em Guarapuava durante o ataque. Segundo o Exército, o carro foi usado para transportar militares que chegaram para reforçar a segurança de instalações de administração militar fora do perímetro do quartel, mas não foi usado para ajudar a polícia — como publicaram moradores de Guarapuava nas redes sociais.

O Guarani é um novo modelo de blindado que o Exército ajudou a desenvolver para substituir os antigos Cascavel e Urutu, também de fabricação nacional. Um lote de 280 unidades foi feito pela multinacional italiana Iveco (subsidiária de Fiat), com participação de engenheiros do Exército brasileiro, e enviado para unidades militares no sul do país. Em agosto de 2012, o valor foi de US$ 240 milhões — pouco mais de R$ 1 milhão cada um.

  • Receio na área urbana e rural da cidade

A manhã de segunda-feira começou diferente na cidade, que é uma das principais da região do Terceiro Planalto Paranaense, no centro-sul do estado.

Muitos comércios não abriram as portas, escolas e universidades suspenderam as aulas e poucas pessoas circulam pelas ruas, relatam os moradores. A polícia afirma que a situação está controlada na cidade e que não há risco aos habitantes.

  • Moradores

Apesar da recomendação, moradores que conversaram com a reportagem do UOL informaram que preferem ficar em casa.

"Ainda estou com medo. Não sabemos se eles ainda estão escondidos aqui na cidade ou nas cidades vizinhas. Agora há pouco passou um helicóptero por aqui e a situação ainda é assustadora", contou uma estudante de 21 anos.

"A cena era de guerra. Os bandidos apagaram as luzes e estavam em toda a cidade. Estávamos com muito medo. Nunca tinha visto isso antes. Meus filhos são pequenos e estão desesperados. Ouvimos muitos tiros e ficamos embaixo da cama, quietos e no escuro", relatou um morador ao UOL, que prefere não ter o nome divulgado.