Jogo do bicho, armas e Marielle: veja a ficha criminal de Ronnie Lessa
A ficha criminal do policial militar aposentado Ronnie Lessa ganhou mais um item nesta terça-feira (10) com a deflagração da Operação Calígula do MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que atua contra um esquema de rede de jogos de azar.
De acordo com o MP, Lessa integra o esquema, liderado pelo contraventor Rogério de Andrade, sobrinho e herdeiro dos negócios do bicheiro Castor de Andrade. A ação cumpre 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão desde o início da manhã. Foram presos na operação o delegado Marcos Cipriano e a ex-delegada da Polícia Civil Adriana Belém —na casa dela, a polícia apreendeu R$ 1,8 milhão em espécie.
Segundo o MP, Cipriano intermediou encontro entre Lessa, Belém e o inspetor de Polícia Jorge Luiz Camillo Alves, para viabilizar a retirada em caminhões de quase 80 máquinas caça-níquel apreendidas em uma casa de apostas da organização criminosa, com pagamento de propina providenciado por Rogério de Andrade. Reportagem do UOL de 2020 já havia revelado a articulação.
Acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, Lessa também já foi segurança de Rogério de Andrade, além de ter sido acusado de tráfico internacional de armas. Confira as suspeitas envolvendo Ronnie Lessa e os crimes dos quais o ex-policial foi acusado.
Do Bope ao bicho
A relação de Lessa com Andrade é velha conhecida da Justiça no Rio de Janeiro.
Em outubro de 2009, o policial já tinha passagem pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) e estava lotado no 9º Batalhão da Polícia Militar, em Rocha Miranda, na zona norte.
Ele era investigado por suspeitas de ligação com o jogo do bicho e sofreu um atentado a bomba ao sair do batalhão. O crime, que levou o policial a perder uma das pernas, teria sido um acerto de contas entre bicheiros do Rio. Segundo a Polícia Civil, a investigação sobre o atentado está arquivada desde 2013.
Seis meses depois, Rogério de Andrade e Diego de Andrade, seu filho de 17 anos, sofreram também um atentado à bomba, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste. Diego, que estava na direção do veículo, morreu na hora.
A operação do Ministério Público revela que a relação dos dois pode ter se transformado em uma possível parceria nos negócios de bingos clandestinos e jogos de azar.
Caso Marielle Franco
O treinamento de elite no Bope também pode ter sido uma das escolhas para a participação de Ronnie Lessa no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Segundo as investigações, os tiros que atingiram as foram disparados com os dois carros em movimento, o que exige ainda mais precisão e segurança para a execução deste tipo de crime.
Após ser preso em março de 2019, Ronnie Lessa ganhou projeção nacional e as investigações do MP que ligam seu nome a crimes vieram à tona.
Em janeiro de 2020, uma operação conjunta do MPRJ e da Polícia Civil prendeu 36 suspeitos de envolvimento com milícias, entre eles Jorge Luiz Camilo Alves, chefe de investigação da delegacia da Barra da Tijuca. Segundo o MP, o policial teria contato frequente com Ronnie Lessa.
O Sargento do CBMERJ (Corpo De Bombeiros Militar Do Estado Do Rio De Janeiro) Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, foi preso em junho de 2020 em uma casa avaliada em R$ 1,9 milhão. Ele é apontado pelo MP-RJ como homem de confiança de Lessa e suspeito de ajudar a ocultar armas do policial reformado.
Em fevereiro de 2021, o bombeiro foi condenado pela Justiça por obstruir investigações do caso Marielle Franco. Cumpre quatro anos em regime aberto e serviços comunitários.
Em julho de 2021, o ex-vereador do Rio Cristiano Girão Matias foi preso. O Ministério Público apresentou denúncia contra Girão e apontou que ele e Lessa teriam uma suposta ligação em assassinatos em 2014, na Gardênia Azul, região controlada pela milícia liderada pelo ex-vereador. Girão é um dos investigados como mandante da morte de Marielle Franco.
Tráfico de armas
Ronnie Lessa foi indiciado por tráfico internacional de armas em julho de 2020. O delegado Marcus Amim, da Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos), informou que Ronnie Lessa é suspeito de comprar peças de armas da China e enviar para os Estados Unidos, onde a sua filha morava.
Já em fevereiro de 2021, o MPF (Ministério Público Federal) pediu abertura de inquérito para investigar Lessa por tráfico internacional de armas. Em julho do mesmo ano, a esposa do policial foi presa a pedido do próprio MPF a partir de uma investigação de que o casal teria traficado, de Hong Kong para o Brasil, 16 componentes para fuzis AR-15, chamados de quebra-chamas.
Em março deste ano, uma operação da Polícia Federal e do MPF mirou também em Lessa como um dos responsáveis por adquirir armas de fogo, peças, acessórios e munições nos Estados Unidos, que posteriormente eram enviadas para o Brasil. Ao chegar ao país, os artefatos seriam distribuídos para traficantes, assassinos de aluguel e milicianos.
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