'Com o desaparecimento de Bruno, nós também desaparecemos', lamenta Univaja
A auxiliar de coordenação da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), Soraya Zaiden, lamentou o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira. Segundo ela, o caso significa "uma perda lastimável" para os indígenas, que disseram "também desaparecer um pouco" com isso. Bruno e o jornalista inglês Dom Phillips estão desaparecidos desde o dia 5 de junho na região do Vale do Javari, oeste do Amazonas.
"Eu até cito a mensagem que eu recebi de um indígena que quando se configurou esse desaparecimento, e os dias que foram passando já deixaram a esperança bem pequena. Um deles fez um texto dizendo assim: 'Estou muito triste com o desaparecimento de Bruno, nós também desaparecemos um pouco'", disse, em entrevista à CNN Brasil.
Para Soraya, o sentimento dos indígenas retrata exatamente a falta que Bruno Pereira faz. O desaparecimento do indigenista significa não poder contar com "a experiência, a presença, com tudo que o bruno representava para aquela região".
Não são muitas pessoas que se animam a enfrentar uma realidade como aquela. A gente nem poderia esperar que fosse uma pessoa que tivesse o conhecimento que o Bruno tem, a experiência. Não são muitas as pessoas com quem a gente pode contar. Mais do que tudo, os indígenas sabem disso com muita clareza
Soraya Zaiden, auxiliar de coordenação da Univaja
'Indígenas não param nunca', diz Soraya
Soraya também explicou a importância dos indígenas desde o dia do desaparecimento de Bruno e Dom. Segundo ela, por conhecerem o território, o trabalho deles na busca "tem sido tudo".
"Foi por meio deles que nos conseguimos o que nos já temos, as evidências. Desde domingo (5) eles têm sido incansáveis nessa busca. E a gente tem, às vezes, algumas equipes que estão se revezando, porque eles estão muito cansados. Eles não param nunca. Estão sempre entrando em algum outro igarapé, um igapó que não viram", disse.
A representante da Univaja afirmou que os indígenas da região não querem parar as buscas. De acordo com Soraya, eles "não querem admitir o fato que alguma parte ficou sem ser esquadrinhada": "Eles são incansáveis. É um trabalho realmente que só eles podem fazer", finalizou.
Servidores aprovam greve após fala de presidente da Funai
Nesta segunda-feira (13), servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) aprovaram estado de greve para amanhã, por 24 horas. Os trabalhadores querem que o presidente da instituição, Marcelo Augusto Xavier da Silva, se retrate sobre a informação de que Bruno e Dom teriam tido contato com indígenas sem autorização, e que acionará o Ministério Público Federal para apurar o caso.
Também hoje, a Univaja rebateu a Funai e disse que Bruno tinha licença para entrar em território indígena. Segundo a entidade, o indigenista saiu da terra indígena para se encontrar com Dom Phillips antes do fim do prazo, que expirou em 30 de maio.
O UOL entrou em contato com a Funai por email para comentar a decisão da greve. O texto será atualizado em caso de manifestação.
Nada foi encontrado hoje, diz PF
A Polícia Federal informou, em boletim divulgado ao fim da tarde de hoje (13), que até as 18h "nada foi encontrado" nas buscas por Bruno Pereira e Dom Phillips. Mais cedo, a família de Dom afirmou que dois corpos foram encontrados no local, embora a informação não tenha sido confirmada pela PF.
Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que vísceras humanas foram encontradas durante as buscas pela região e encaminhadas para perícia em Brasília. O chefe do Executivo acrescentou que acha difícil que os dois sejam encontrados com vida.
Na semana passada, a PF já havia divulgado ter encontrado um "material orgânico", sem divulgar detalhes do que se tratava. Os agentes também encontraram vestígios de sangue no barco onde Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", foi detido na última terça-feira (7) por posse de drogas e munição de uso restrito das Forças Armadas.
Na nota de hoje, a PF afirma que o resultado das perícias deve ser divulgado ainda esta semana. Ontem (12), a corporação divulgou que mergulhadores encontraram pertences de Dom e Bruno, incluindo uma mochila e um documento.
Escalada de violência
Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari é maior do que a Áustria e abriga 6.300 indígenas de 26 grupos diferentes, sendo 19 deles isolados — trata-se da maior concentração de povos isolados no mundo.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.
"Aquela região tem questões envolvendo o narcotráfico, a atividade de madeireira, de pesca ilegal e garimpo. E a organização indígena está nesse enfrentamento contra a invasão das terras", declarou Fabio Ribeiro, coordenador-executivo do OPI (Observatórios dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato).
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