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'Hoje inicia nossa busca por Justiça', diz esposa de Dom Phillips

Alessandra Sampaio, esposa do jornalista Dom Phillips - Reprodução/TV Globo
Alessandra Sampaio, esposa do jornalista Dom Phillips Imagem: Reprodução/TV Globo

Mariana Durães

Do UOL, em São Paulo

15/06/2022 21h42Atualizada em 15/06/2022 22h31

A esposa do jornalista Dom Phillips, Alessandra Sampaio, divulgou uma carta na noite de hoje (15) após o anúncio da Polícia Federal de que foram encontrados restos humanos enterrados em uma região remota, mais de 3 quilômetros mata adentro. O correspondente do jornal britânico The Guardian e o indigenista Bruno Araújo Pereira desapareceram no dia 5 de junho na região do Vale do Javari, oeste do Amazonas.

Alessandra disse que ainda aguarda informações definitivas, mas que "este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro" dos dois: A esposa de Dom também mandou uma mensagem de solidariedade a Beatriz Matos, esposa do indigenista, e a toda família de Bruno.

"Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor", escreveu.

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível
Esposa do jornalista Dom Phillips, Alessandra Sampaio

A companheira de Dom agradeceu aos que participaram das buscas, em especial os indígenas da região e membros da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Alessandra também fez menção a quem, "mundo afora", cobrou respostas rápidas.

Confira a carta completa:

Declaração de Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips

Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor.

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível.

Agradeço o empenho de todos que se envolveram diretamente nas buscas, especialmente os indígenas e a Univaja. Agradeço também a todos aqueles que se mobilizaram mundo afora para cobrar respostas rápidas.

Só teremos paz quando as medidas necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais. Presto minha absoluta solidariedade com a Beatriz e toda a família do Bruno.

Abraços,
Alessandra Sampaio

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Quem foi Dom Phillips

O jornalista Dom Phillips nasceu na Inglaterra há 57 anos, mas há 15 escolheu o Brasil para viver e a Amazônia para defender. O correspondente do jornal The Guardian foi morto ao lado do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas.

Sua primeira paixão foi a música, hobby que virou bico na juventude, quando chegou a tocar pelas ruas em troca de dinheiro. A música era tão importante para ele que foi por meio dela que iniciou a carreira de jornalista.

Dom cobria a efervescente cena eletrônica de seu país nos anos 1990, o que o levou a publicar o livro "Superstar DJs Here We Go!: The Rise and Fall of the Superstar DJ" (Ebury Digital), em 2009, sobre o nascimento da cultura dos DJs. Amigo de brasileiros, Dom viajou para São Paulo em 2007 para terminar de escrever seu livro. O plano era passar alguns meses no Brasil, mas acabou ficando de vez.

Em 2012, o jornalista se mudou para o Rio de Janeiro, onde conheceu a mulher, a designer Alessandra Sampaio. Por lá, gostava de andar de bicicleta, empreender trilhas e se aventurar em stand-up paddle, esporte que consiste em remar de pé sobre uma prancha.

Mas o desejo de uma vida de custo mais baixo e a perspectiva de adotar uma criança impeliu o casal a se mudar, em março de 2020, para Salvador, na Bahia, estado de Alessandra, que também desejava estar próxima da família. Leia mais.

Relembre o caso

Bruno Pereira e Dom Phillips sumiram em Atalaia do Norte, próximo à Terra Indígena Vale do Javari, uma reserva que sofre com disputas entre tráfico de drogas, madeiras e garimpo ilegal. Dois suspeitos foram presos e quatro testemunhas foram ouvidas.

Hoje, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", 41, afirmou à Polícia Federal que esquartejou e enterrou os corpos de Bruno e Dom. Nesse depoimento, ele afirmou que uma segunda pessoa o ajudou a esquartejar e a enterrar os corpos.

Os dois foram vistos pela última vez por volta das 7h de domingo, a bordo de um barco, e sumiram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. Após um atraso de mais de duas horas na chegada da dupla, as buscas começaram.

Bruno trabalhava com ribeirinhos e indígenas da região, afetada pela ação de invasores. Segundo testemunhas, sofria ameaças constantes de garimpeiros, madeireiros e pescadores que atuavam em terras indígenas e, por isso, a falta de contato após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.

Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram "acertar contas" com o indigenista. Segundi Yura, Bruno sofria ameaças desde quando foi coordenador da Funai em Atalaia do Norte. "Eram ameaças diretas, não mais veladas como acontecia outrora."

O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari. Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja, disse que o repórter inglês fotografou invasores armados que ameaçavam indígenas. Segundo ele, esses homens seriam ligados a Pelado.