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Defesa de atirador pede exame de embriaguez de petista; 'culpar vítima'

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

13/07/2022 04h00

A defesa do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que matou a tiros o guarda municipal Marcelo Arruda enquanto ele comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT alusiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitou ontem à Justiça do Paraná exames periciais para "constatação de embriaguez" da vítima.

O advogado Daniel Godoy, um dos defensores da família do petista morto no último sábado (9) em Foz do Iguaçu (PR), rebate: "é uma tentativa de criminalizar a vítima, justificar a versão de que se trata de briga de bar e de descaracterizar o crime de ódio por motivação política", disse, em entrevista ao UOL.

O pedido dos exames foi assinado pela advogada Marise Jussara Franz Luvison, indicada pelo Sindicato dos Agentes Federais de Execução Penal de Catanduvas (PR), onde Guaranho trabalha. No documento ao qual o UOL teve acesso, a defesa solicita imagens de câmeras de vigilância para verificar o consumo de bebida alcoólica pelo aniversariante na festa.

A defesa ainda alega legítima defesa, contrariando o que aparece nas imagens captadas na cena do crime. O vídeo mostra o momento em que Guaranho desce do veículo, atira duas vezes e segue em direção ao salão de festas para matar Arruda.

Contudo, a advogada que representa o policial penal diz que a vítima retira a arma da cintura e aponta em direção ao acusado. "Jorge Guaranho realiza passos para trás e, na busca de se defender, aponta a arma em direção a Marcelo", cita a advogada no documento.

"As imagens mostram que o acusado Jorge profere algumas palavras, e pelo que indica, pedindo para que a vítima abaixasse a arma, o que é ignorado, e ainda assim, Marcelo contínua indo ao encontro do acusado com a arma em punho apontada na direção de Jorge, obrigando-o a efetuar dois disparos na busca de sua defesa".

Após atirar em Arruda, Guaranho também é baleado. No chão, é agredido por chutes na cabeça desferidos por dois convidados da festa. Internado na UTI do Hospital Ministro Costa Cavalcante, o policial penal respira com o auxílio de ventilação mecânica e está em estado estável.

Defesa de Arruda contesta atuação de sindicato

O advogado Daniel Godoy contestou a versão de legítima defesa apresentada pela advogada do sindicato da categoria pela qual o policial penal atua. "Guaranho atira duas vezes para dentro. Depois, entrou no local e desferiu mais um tiro quase à queima-roupa. Só depois de atingido e caído no chão é que Marcelo atira".

Os defensores que representam a família de Arruda se manifestaram no processo contra a atuação do sindicato que representa o policial penal no caso.

"Não existe amparo legal para a atuação do sindicato, que pode atuar em questões de natureza coletiva, que envolvam a categoria. Esse caso diz respeito à prática de um crime", argumenta Godoy.

O UOL não localizou os representantes do sindicato para que ele pudessem se posicionar.

Como foi a ação

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), Guaranho foi de carro à entrada da festa onde o guarda municipal Marcelo Arruda comemorava o aniversário com uma festa temática sobre o PT. Segundo testemunhas, a esposa do policial penal estava com a filha de 3 meses no banco de trás.

De acordo com a investigação, ele reproduzia uma música em som alto em alusão a Bolsonaro e começou a insultar os integrantes da festa. A ação, flagrada em vídeo, mostra o momento em que Arruda aparenta jogar algo em direção ao veículo.

O bolsonarista então reage, mostrando a arma. O policial penal deixou o local e retornou sozinho depois de cerca de 20 minutos. As imagens mostram o momento em que ele volta ao local e dá dois disparos em direção ao interior da festa.

Um vídeo interno registra Arruda mancando após ter sido atingido na perna. Guaranho então se aproxima, atira na direção da vítima e se afasta. Mas é atingido pelos tiros dados pelo guarda municipal, que reagiu. No chão, o policial penal foi agredido com chutes na cabeça dados por um dos integrantes da festa.

Como estão as investigações

Oito pessoas já foram ouvidas pela Polícia Civil do Paraná. Entre elas, testemunhas e parentes de Guaranho. A reconstituição do crime deverá ser feita nos próximos dias.

O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sediada na capital Curitiba. Foi criada uma força-tarefa com agentes da especializada "para garantir celeridade na apuração dos fatos", informou a Secretaria da Segurança Pública do Paraná.

A previsão é de que o inquérito seja concluído dentro de uma semana.