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Cônsul preso: 'É o inferno com Uwe', disse marido para irmão no WhatsApp

Mensagens de marido de cônsul falam em agressões - Reprodução/Whatsapp
Mensagens de marido de cônsul falam em agressões Imagem: Reprodução/Whatsapp

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

09/08/2022 12h17Atualizada em 09/08/2022 14h26

Em uma mensagem enviada ao irmão por aplicativo de WhastApp, Walter Henri Maximillen Biot, que morreu na última sexta-feira (5) com sinais de agressão, segundo a Polícia Civil do Rio, classificou como "inferno" viver com o marido Uwe Hebert Hahn - cônsul alemão preso no final de semana por suspeita de envolvimento na morte do parceiro.

"Eu te ligo outro dia. É o inferno aqui com Uwe", disse o belga ao parente. O irmão respondeu: "Não se preocupe. Coragem"

Biot terminou a conversa dizendo que procuraria a polícia e enviou uma foto com uma lesão no queixo.

A mensagem consta no inquérito da Delegacia do Leblon (14ªDP) que investiga o diplomata pelo crime de homicídio qualificado cometido contra o marido. Para a unidade, não há dúvidas de que o belga tenha sido morto pelo companheiro na cobertura do casal, na Rua Nascimento Silva, em Ipanema, bairro nobre da zona sul da cidade.

Um amigo de Walter, um espanhol que trabalha em uma barraca de praia, relatou à Polícia Civil em depoimento que o casal tinha brigas frequentes.

Ele descreveu o alemão como uma pessoa controladora e que humilhava o marido, que não trabalhava e até há cerca de um ano dependia dele financeiramente.

Por conta dos desentendimentos, Biot chegou a romper o casamento e a viajar para a Bélgica. Ele teve as despesas pagas por um amigo. Mas três meses depois, retornou ao Brasil e reatou o relacionamento.

Há um ano, ainda de acordo com depoimento, o amigo de Biot morreu e deixou para ele uma herança de 600 mil euros - que equivale a um pouco mais de R$ 3 milhões. A partir daí, as brigas entre o casal só aumentaram.

O amigo da vítima relatou ainda que Uwe repetia com frequência que era diplomata e por isso nada aconteceria com ele.

Diarista também prestou depoimento

A diarista que trabalhava no apartamento do casal narrou à polícia uma rotina de desavenças. Segundo ela, em abril ou maio, a porta de despensa e um vidro do armário da cozinha estavam quebrados como se tivessem sido atingidos por algum objeto.

A profissional relatou, que neste ano, observou em duas ou três ocasiões, manchas de sangue na fronha do travesseiro usado por Biot e em julho observou um corte na testa do belga.

O cônsul relatou à polícia que o marido levantou do sofá repentinamente, correu em direção a varanda, tropeçou e caiu com rosto no chão. A familiares e conhecidos, o alemão disse que o marido sofreu um infarto. Na ocasião, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado. O médico responsável pelo atendimento decidiu enviar o corpo para o IML (Instituto Médico Legal) para atestar a causa da morte.

A perícia indicou a presença de mais de 30 lesões no corpo da vítima. A causa da morte foi traumatismo craniano. Vestígios de sangue foram localizados em três pontos do apartamento com ajuda de luminol.

Casal esteve junto por 23 anos

Uwe e Walter viveram juntos por 23 anos e estavam havia quatro anos no Rio de Janeiro. O casal estava de mudança para o Haiti.

Em depoimento à polícia, o cônsul explicou que eles iriam embora do Brasil porque a cada quatro anos, ele é obrigado a trocar de país em razão das questões diplomáticas.

Segundo ele, o marido estava feliz com a mudança, mas há um mês começou a ingerir bebida alcoólica de forma excessiva e a consumir medicamentos para dormir (calmantes). Ele ainda alegou que o marido estava "nervoso e angustiado" com a organização da mudança, razão pela qual começou a beber e a consumir medicamentos de forma desordenada.

A reportagem segue requisitando um posicionamento da defesa do cônsul, mas ainda não obteve uma resposta.