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Pai de atirador diz que está sendo ameaçado e que filho sofreu bullying

Do UOL, em São Paulo

27/11/2022 22h31

O pai do adolescente de 16 anos que cometeu o atentado a tiros contra duas escolas em Aracruz (ES) afirmou hoje que o filho sofreu bullying há cerca de dois anos e que houve uma "transformação" de comportamento depois disso. As declarações foram dadas ao programa "Domingo Espetacular", da TV Record. O ataque ocorrido na sexta-feira (25) deixou quatro mortos e 12 feridos.

"É um sentimento totalmente de surpresa. Diante de uma atitude dessas, inesperada. Nós nunca nem imaginávamos algo assim. Ele [o meu filho] passou por um problema de bullying, realmente há um período de aproximadamente uns dois anos. Ele andou reclamando disso com a gente. E, a partir desse momento, houve sim uma transformação", contou o pai do jovem, que também é tenente da Polícia Militar capixaba.

"[Se eu encontrasse os parentes das pessoas que morreram], com certeza, eu iria estar pedindo o perdão em nome do meu filho. E dizer o mais importante: tem pessoas maquiavélicas, pessoas do mal por trás. E o contato, eu acredito que seja pela internet, que manipula esses jovens, contamina eles. E levam eles a cometer esse tipo de atitude, a cometer tragédias como essa", acrescentou.

O pai havia publicado nas redes sociais uma foto da capa do livro "Minha Luta", em que Adolf Hitler expôs suas ideias antissemitas. A publicação gerou debates nas redes sociais, com pessoas associando o pai à ação do filho.

Na entrevista, o militar afirmou que devido à publicação tem recebido ameaças, além de ser acusado da prática nazista.

"Estou recebendo uma série de ameaças, por parte de pessoas que eu não conheço, falando que eu sou nazista, que eu que ensinei meu filho a atirar, que eu forneci as armas para ele cometer esse tipo de atentado", contou.

Priscila Benichio Barreiros, advogada que representa a família do adolescente, disse hoje ao UOL que os pais do jovem deixaram a cidade por medo de sofrer alguma retaliação. Ela, no entanto, negou que eles tenham sido ameaçados e disse que a decisão foi para preservar a integridade deles.

"Eles tiveram que deixar a cidade no mesmo dia do fato. Tinha um clamor muito grande, palavras de ódio e não seria prudente eles ficarem na região. O casal está muito abalado, perplexo com toda essa situação. Eles, a todo o momento, se questionam onde erraram na criação do filho", disse a advogada.

Atentado deixa quatro mortos

Duas escolas foram alvo de um atentado a tiros, na manhã de sexta, em Aracruz, no litoral norte capixaba, cidade localizada a 81 km de Vitória. A ação teve quatro mortos e 12 feridos (sete seguem internadas, a maioria em estado grave), segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Espírito Santo.

O adolescente de 16 anos foi apreendido, suspeito do crime. Segundo a Polícia Civil, ele se entregou no momento da detenção. Foi apreendido em casa. O jovem estaria portando duas armas de fogo, um revólver calibre 38 e uma pistola .40, que pertencia ao pai.

De acordo com o capitão da PM Sérgio Alexandre, o atirador estava munido ainda de carregadores quando invadiu a primeira unidade de ensino. Ele teria ido diretamente à sala dos professores, onde ameaçou profissionais no local e deu início aos disparos. Em seguida, foi até a segunda escola, localizada na mesma avenida.

Polícia vai investigar acesso a armas. A Polícia Civil do Espírito Santo irá investigar se o atirador tinha facilidade de acesso às armas do pai.

"Vamos investigar não só se o pai foi quem ensinou [o suspeito] a dirigir como também se foi o pai quem o instruiu a utilizar a arma. Se ficar provado, certamente responderá também. Obviamente que é difícil fazer isso sem o conhecimento de alguém. Vamos investigar", disse José Darcy Arruda, delegado-chefe da Polícia Civil do estado.

Atirador escondeu evidências. Segundo informações da PM, o adolescente usou as duas armas e o carro do pai no atentado. Após cometer o crime, estacionou o carro na garagem, recarregou as armas e as guardou no mesmo local. A fita vermelha usada para formar a imagem de uma suástica no braço direito foi retirada da roupa camuflada usada no crime e guardada em uma gaveta.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), disse hoje que a polícia irá investigar se o atirador tem ligação com grupos neonazistas.

"Vamos fazer a investigação para ver se ele tem ligação com algum grupo neonazista. A polícia vai analisar o conteúdo do celular e do computador [apreendidos na casa do atirador] para ver se tem algum vínculo dele com alguém", disse Casagrande ao UOL.